domingo, fevereiro 27, 2011

O Lado Sombrio da Lua - Capítulo 04: Pontos

Tenho ele firme, Edward. Relaxe. Os pensamentos de Emmett estavam estáveis- ele tinha sua sede sob controle. Eu não me mexi, não confiando em ninguém ao meu redor.
‘’Emmett, Rose, levem Jasper para fora,’’ Carlisle ordenou.
Emmett acenou com a cabeça.’’Vamos, Jasper,’’ ele disse com o fim do seu ar, arrastando nosso irmão rumo à porta. Jasper continou lutando, lançando ataques ao seu captor. Os pensamentos dele eram completamente incoerentes, apenas uma bagunça de reações ferozes e violentas.
Eu rosnei, mais alto dessa vez, enquanto olhava ao redor, me preparando para defender Bella do resto da minha voraz família, enquanto também lutava contra minha própria vontade de tê-la. Sabiamente ninguém se moveu na minha direção.
Talvez agora você verá que ela não pertence aqui, Edward, Rosalie pensou enquanto ajudava Emmett arrastar um Jasper fora de si. Eu  mostrei meus dentes para ela, mas ela não reagiu.
Eu tenho que sair daqui, o cheiro é muito forte….Esme estava começando a entrar em pânico, seus pensamentos começando a se fragmentarem assim como os de Jasper, e rapidamente seguiu atrás de Rosalie. ”Eu sinto muito, Bella,’’ ela lamentou, cobrindo seu rosto com a mão.
Somente Alice e Carlisle tinham ficado, e Bella suspirou atrás de mim.
Lentamente Carlisle deu um passo em direção de Bella, segurando suas mãos separadamente, palmas para cima. ’’Deixe-me passar, Edward,’’ ele disse ,sua sede controlada, mas forte. Ela precisa de cuidados médicos, ele pensou.
Alice respirou fundo e então me mostrou o futuro imediato: Carlisle dando pontos na Bella, na cozinha. Sua confiança na visão dominou sua sede, relaxei minha postura, e deixei Carlisle se aproximar. A única ameaça que permanecia para Bella era eu.
A urgência para proteger tinha encoberto a sede, mas agora que o perigo tinha sido suavizado, tinha pouco para me distrair da combustão na minha garganta. Eu cerrei meus dentes tentando focar em ajudar meu amor, ao invés de acabar com a vida dela.
Os sinais vitais dela estão bons….nenhum sinal de choque….nenhum osso quebrado….Carlisle cuidadosamente examinou Bella, enquanto eu me afastei e observei. A expressão dela de horror, era inegável, mas ela rapidamente tentou suavizar sua face assim que ele se ajoelhou até ela. A braveza que ela demonstrou foi admirável, e imprudente. Ela deveria estar apavorada. E o pior monstro ainda estava perto dela….eu.
“Aqui, Carlisle,’’ Alice disse, passando uma toalha de cozinha para ele, fazendo mais para ajudar do que eu poderia no momento. Eu sabia que não seria suficiente – os machucados de Bella estavam além de simples primeiros socorros.
Com um balanço de cabeça ele recusou sua oferta. “Muito vidro na ferida.” Ela vai precisar de pontos, mas ela ficará bem, Edward. É só um corte profundo. Você está bem?
Eu não respondi; eu não ia desperdiçar o pouco ar em meus pulmões numa resposta inútil. É claro que eu não estava bem- ele devia saber disso. De novo Bella tinha sido seriamente machucada, e tudo que eu podia fazer era ficar ali, segurando minha respiração. Carlisle amarrou um pedaço da toalha no braço dela – contendo o fluxo de sangue. Pelo menos agora ela não sangraria até a morte.
A face de Bella ficou pálida, e eu tentei não pensar no cheiro que sem dúvida estava deixando ela enjoada.
A suprema compaixão de meu pai se mostrou em sua voz suave. “Bella, você quer que eu a leve para o hospital, ou você gostaria que eu cuidasse disso aqui?” Ele sabia qual su resposta seria, assim como eu, mesmo sem ver a visão da Alice.
“Aqui por favor,” ela choramingou. Ela pensava estar escondendo sua fraqueza do mundo, e provavelmente de seu pai, mas ao invés disso estava se colocando mais em perigo ao permanecer aqui. Eu ouvi o grupo lá fora… Jasper estava novamente ganhando controle de sim mesmo, mas ainda se debatia contra Emmett. Meu lado protetor ganhou força de novo.
“Eu vou pegar sua bolsa,’’ Alice ofereceu, mantendo sua distância de Bella. Seu controle era sólido, mas ela sabia seus limites.
Carlisle acenou dessa vez. “Vamos leva-lá para a mesa da cozinha,” ele disse, olhando para mim. Você pode ir, eu cuidarei dela.
Em resposta eu dei um passo para frente e gentilmente levantei Bella. Ela era tão corajosa; eu não iria deixar minha vulnerabilidade aparecer também.
“Como você está, Bella?” Carlisle perguntou enquanto andávamos.
“Estou bem,” ela disse automaticamente, mas ainda havia um pouco de medo em sua voz. Assim como deveria. Seu calor, seu pulso, radiavam pelos meus braços, me tentando. Um grito vindo de fora foi uma distração bem vinda, enquanto Jasper lutava para escapar de seus captores. Ele estava implorando para partir, para correr para longe, sua vergonha ocupando o lugar da sede que ele sentiu antes. Alice estava triste encarando pela janela da cozinha, ouvindo ele sofrer. Pelo menos o amor dela estava intacto, eu pensei com maldade. Eu podia mudar isso…
Ela me lançou um olhar ameaçador, vendo todas as possibilidades no futuro próximo de Jasper. Nem pense nisso, ela avisou, enquanto sentei Bella.
Bella tentou não fazer careta quando ajustamos seu braço na mesa, sempre a corajosa. Oh Bella, eu sinto muito… Alice pensou.
Fiquei próximo ao meu amor, lutando contra todas as emoções e pensamentos, com exceção de um…ela precisa de mim. Não importa o quão difícil isso fosse para mim, ela era que estava com dor, e eu devo estar aqui com ela. A queimação dentro de mim aumentou quando vi outra gota de sangue cair na mesa.
“Apenas vá, Edward,” Bella disse, colocando suas necessidades depois das minhas…de novo.
“Eu consigo suportar,” eu disse usando quase todo o ar que tinha.
“Você não precisa ser um herói. Carlisle pode cuidar de mim sem a sua ajuda. Tome um pouco de ar fresco.” Carlisle injetou nela uma anestesia local, e Bella inalou pelos seus dentes, com dor. Agulhas eram o que ela realmente temia, ao invés do assassino sentado no lado dela.
“Eu vou ficar,” Eu disse com minha ultima arfada de ar. Com meus pulmões vazios, eu ia sofrer com ela, em silêncio.
“Por quê você é tão masoquista?” ela murmurou, mas eu não conseguia responder. Ela passa quase todo seu tempo com a criatura que poderia matar ela em menos de um segundo, que deseja fazer isso cada vez que ele respira, e que tinha quase conseguido em mais de uma ocasião…e ela me chama de masoquista?
Carlisle ficou do lado da Bella. “Edward, você pode ir achar Jasper antes que ele vá longe demais. Tenho certeza que ele está chateado consigo mesmo, e duvido que vá ouvir alguém além de você no momento.”
Não, era Alice que Jasper queria, não eu.
“Sim, vá achar Jasper,” Bella continuou, achando forças de novo. Ela estava só sendo altruísta, ou ela realmente estava me afastando?
Aproveite e faça algo útil,” Alice acrescentou, fazendo três contra um. Diga a Jazz que estarei lá em um minuto.
Todos eles sabiam que eu não podia responder, que eu ficaria sem ar. Considerei respirar fundo, mas as chamas ficaram mais altas, antecipando o sabor da ferida aberta de Bella que iria atacar minha garganta. Tudo bem. Eu tinha mesmo umas coisinhas para dizer ao meu irmão. Eu acenei para meu amor antes de partir. Em momentos eu estava do outro lado do gramado e meio as árvores.
A primeira sensação que eu tive de Jasper foi sua vergonha. Eu podia ter matado BellaEla estava tão assustada. O medo dela mal estava registrado em sua memória, uma pontada comparado ao faminto desejo no qual ele estava sucumbido naquela hora. Quando seu pensamentos voltaram para ele mesmo, minha raiva cresceu.
Esme estava preocupada – com Bella, com Jasper, e comigo.
Como sempre, Rosalie era o centro das atenções de Emmett, mas ele também pensava em Bella. A solidariedade da minha família deveria prover algum conforto, mas só serviu para amplificar minha vergonha. Eu deveria estar com ela, e não tentando aliviar a consciência de meu irmão.
“Talvez devemos deixar ele ir, deixar ele fugir na frente, para ficar justo. Edward vai caçar você, Jasper.” Rosalie disse.
“Pare, Rosalie, você é incorrigível”. Esme chamou sua atenção.
Não havia preocupações na cabeça de Rosalie, vingança era seu único pensamento. Mas até ela estava gostando da situação demais, e Emmett riu em resposta. Eles não estavam cientes de que suas emoções não eram inteiramente deles mesmos.
Eles estavam reunidos a algumas milhas de distância, na beira do rio. Enquanto Jasper lamentava ele também tramava, querendo se esconder tanto pela vergonha quanto pelo medo – de mim. Ele estava contando com Rosalie para distrair Emmett tempo suficiente para ele escapar. Minha irmã superficial não se deu de conta que ele estava manipulando suas emoções enquanto ele mudava sua estratégia para longe do humor.
Uma onda de desejo tomou Rosalie, e ela pôs seus braços ao redor dos ombros de Emmett. “Há tantas outras coisas que poderíamos estar fazendo agora,” ela disse sedutoramente.
Dessa vez Emmett respondeu sem a ajuda de Jasper, e seu aperto nele se afrouxou. Num piscar de olhos Jasper sumiu.
“Jasper!” Esme gritou, mas era tarde demais. Ele disparou pela floresta, se esquivando das árvores e gravetos caídos. Eu já estava a toda velocidade quando Emmett acordou e era só um borrão quando corri entre Esme e Rosalie.
“Você não pode correr de mim, Jasper,” Eu ameacei. Toda a restrição, todo o controle, que eu estava excercendo sobre mim, caíram, espalhando-se como folhas antes de um trem de carga. O ar frio me refrescou, diminuindo a queimação, e aumentando minha velocidade…e minha fúria. Em dois segundos eu podia ver Jasper, em três eu o tinha derrubado, levando ele para o chão brutalmente. “Seu bastardo!” eu rosnei.
Eu fiquei arrebatado com o remorso emanando de meu irmão, e ele me arremessou de suas costas. Rodando no ar, eu cai agachado, pronto para atacar.
Jasper saltou de pé, preparado para mim. “Você sabe o quanto eu sinto muito, Edward. Eu tentei, realmente tentei.”
Eu me lançei nele de novo, antecipando suas reações, e agarrei seus ombros. “Você tentou?” Por que ele sequer se dava ao trabalho era um mistério para mim, essa vida não era para ele. Ele era somente um caçador, e sempre seria.
Como ela está Edward? Ela está bem? Jasper tentou de novo desviar minha raiva, me inundando com sua desgraça, seu ódio por sua fraqueza. Dessa vez a distração não funcionou, pelo contrario, agiu como gasolina em um fogo selvagem, transformando tudo na minha visão num vermelho ardente.
“Você quase a matou. Você tem idéia de como isso faz eu me sentir?” Eu gritei, sacudindo ele violentamente. Meu coração facilmente refletiu toda a vergonha de Jasper, acrescentando a agonia, medo, tortura que eu senti cada vez que vi Bella perto da morte. Debaixo de um carro em Forks…deitada em um estúdio de ballet…e apenas minutos atrás com Jasper salivando perto dela. Toda minha frustração na situação impossível que me encontrava – sendo tão forte, mas incapaz de proteger a única coisa que importava para mim… desejando amá-la, mas morrendo de vontade de matá-la… lutando todo dia contra o futuro que tanto Bella e Alice constantemente jogavam em mim…. tudo saindo para fora de mim.
A força da minha emoção aturdiu Jasper, e ele me encarou, com os olhos dourados e arregalados, enquanto eu o jogava contra uma pedra, apertando ele fortemente contra sua lisa superfície. “NÃO É JUSTO!” eu berrei, pressionando seus ombros mais fundo na rocha.
Seus braços me soltaram. Eu sinto muito Edward, por tudo. Eu entendo, realmente entendo. Sua mente se encheu de memórias de muito tempo atrás, quando sua amiga, sua falsa mãe, Maria, rastreou ele.
Eu tentei ignorar sua última tentativa de escapar da minha ira, mas ele agarrou minha camisa, puxando minha face para perto da dele, enquanto ele continuava com as memórias. Ela havia atiçado ele a matar um humano, numa tentativa de o atrair para ela, e o afastar de nós. Em algum momento ela ameaçou matar Alice, e eu senti seu medo e frustração por colocar a vida de sua parceira em risco por ser quem ele é. “Eu quase perdi ela,” ele disse asperamente, e seu medo foi adicionado ao meu.
“Edward, deixe ele ir,” Esme mandou, mas eu a ignorei.
“Não é a mesma coisa, e você sabe. Eu não tentei matar Alice. Ela está segura de seus irmãos. Você não pode entender.”
Jasper se tornou desafiante, empurrando meu peito. “E você não pode saber o que eu sinto. Você pode ouvir a sede dos outros, ler como eles sofrem – mas eu passo pela experiência disso. Minha garganta queima tão forte como a sua quando você está com ela, mais forte quando adicionada a minha sede. Agora adicione cinco outros vampiros na sala, e é demais para suportar. É como passar pela transformação de novo, Edward – com certeza você se lembra daquilo.”
“Se você sabia, então você não deveria estar lá em primeiro lugar,” eu disse pelos meus dentes.
“Isso foi minha culpa, não dele,” uma voz baixa disse atrás de mim. “Deixe ele ir.” A voz suave de Alice só deixou mais forte sua ordem. Eu devia ter visto isso acontecendo. Se eu tivesse visto, as coisas teriam sido diferentes.
Eu encarei Jasper por mais cinco segundos antes de me mexer, “Não corra de novo,” eu avisei, deixando ele se desprender do granito.
“Ele não vai,” Alice disse firmemente.
“E você consegue ver isso?” eu zombei enquanto passei.
Ela não me olhou. Eu sinto muito. Carlisle dever estar quase  terminando.
Minha raiva estava lentamente diminuindo, substituindo-se pela minha ligação à Bella. Eu precisava voltar para ela. Mas era para protegê-la, ou…
Sem outra palavra, eu andei em direção da casa.
Rosalie bufou enquanto eu passava. “Bater no Jasper fez você se sentir melhor?” Ela disse com sarcasmo.
“Rose,” Emmett avisou, corretamente sentindo meu tênue controle de meu temperamento. Ele passou o braço ao redor de sua esposa, protetoramente, mas eu a ignorei.
“Você pode por a culpa disso em Jasper se quiser- mas é realmente sua culpa,” ela continuou. Eu segui andando, tentando desligar sua voz irritante. “Você trouxe ela aqui, nos forçando a jogar seu joguinho humano. Agora você sabe – nunca irá funcionar.”
Eu me virei, e Emmett se materializou na minha frente. “Edward, vire e continue andando,” ele avisou. “Bella precisa de você.”
Vai cuidar do seu animalzinho de estimação, Rosalie adicionou, puxando Emmett em direção aos outros.
Que vadia, eu pensei, mas sabia melhor do que dizer isso em voz alta. Muitas poucas pessoas poderiam arrancar palavrões de mim como Rosalie conseguia, e essa palavra em particular ofendia Emmett imensamente. Antes de poder ir atrás dela, Esme pegou meu braço.
“Posso andar de volta com você?” ela sorriu, mas não conseguia esconder que ela estava na verdade tentando evitar que eu atacasse outro dos meus irmãos. ”Eu preciso limpar a sala.” Ela me encorajou a andar na direção da casa com um aceno, esperando eu ir na frente.
Eu concordei, dando a Rosalie mais uma olhada de aviso antes de seguir andando. As palavras dela eram mais que irritantes, doíam pela verdade que continham. Minha raiva foi para dentro de mim, onde pertencia.
Esme não falou, se concentrando muito em um novo projeto de restauração que ela estava considerando, mas não ouvi muito tempo.
A imagem do sangue da Bella, gritando no chão branco, me trouxe de volta para a realidade. Ela estava com dor, e eu não tinha sido forte o suficiente para apenas sentar com ela enquanto ela sofria. Eu não conseguia nem confortar ela com minhas palavras…Uma respirada do ar laçado de sangue e eu estaria na sua garganta, disso eu não tinha dúvida.
Uma questão pairou acima da minha auto-aversão. Por que? Por que eu tinha perdido controle da besta dentro de mim? Meus olhos não viam as árvores enquanto eu buscava uma resposta.
Dolorosamente eu lembrei da horrivel cena similar que aconteceu no Arizona. A sede tinha sido intensa lá, mas eu estava no controle, meus pensamentos focados em salvar Bella. Somente quando o sangue dela realmente tocou meus lábios que eu me perdi…mas ela me trouxe de volta. Eu tremi, lembrando do êxtase do seu sabor, e Esme apertou meu braço.
Ela vai ficar bem, ela pensou, tentando adivinhar meus pensamentos. Não havia ponto em corrigí-la.
Eu me dei conta que tive tempo para me preparar para aquela cena. Quatro horas antes de chegar eu tinha visualizado como James ia atacar Bella, como iria torturá-la. Quando descobri que ele havia conseguido atrair ela diretamente para ele, minha sede tinha se transformado na feroz missão de salvá-la. Mesmo quando coloquei meus lábios em sua pele suave, e tentei sugar sua vida, eu ainda era seu protetor; sua voz fraca foi a única coisa que manteve o predador de me consumir… e de consumí-la.
Dessa vez não houve aviso, não houve tempo para se preparar. O guardião em mim era forte o suficiente contanto que houvesse uma ameaça, mas uma vez que Bella estava a salvo dos outros, eu me tornava a ameaça. Eu sempre seria um perigo para ela, não importa quanto no controle eu achasse que estava.
Eu tinha que achar um jeito para evitar que isso acontecesse de novo. De alguma maneira eu teria que achar as forças para fazer o que era certo… a força para libertar Bella desse mundo, para qual eu a trouxe como numa jaula de aço. Eu iria destruir essa jaula com minhas próprias mãos, esquecer dos meus desejos egoístas. Somente eu poderia fazer isso. Somente eu poderia levar isso para longe dela para sempre.
Minha atenção se virou para o estado atual de Bella enquanto chegávamos mais perto da casa. Eu parei na beira das árvores, cambaleando com a névoa do seu cheiro na mente de Carlisle. “Isso deve bastar…” ele disse, e eu exalei, percebendo que involuntariamente tinha segurado a respiração contra a idéia de seu cheiro.
“Não vai demorar muito para eu limpar,” Esme disse
“Não, eu deveria…” Bella era minha responsabilidade.
Ela me parou com outro toque em meu braço. “Eu posso fazer isso, querido. Você já tem sido tão forte, deixe me fazer isso por você.“ Ela não esperou minha resposta, e foi em direção do gramado.
Eu tentei me fazer seguí-la, para impedí-la, e dizer que ela estava tão errada…mas não pude. O fogo na minha garganta já estava pintando imagens abomináveis de como eu iria achar Bella, tocá-la, beijá-la, prová-la… eu tinha que ganhar controle antes de vê-la. Mas depois o que? Levar ela à beira da morte de novo?
A falsa lógica que estava vendendo a mim mesmo, que eu era algum tipo de anjo da guarda distorcido, não podia mais me enganar. Eu não era forte o bastante para proteger ela do perigo com a minha presença, isso estava claro. Mas eu tinha forças para levar o perigo que eu mesmo era para longe?
Esme parou na porta de vidro, inalando uma ultima arfada de ar fresco. Eu estou bem, ela pensou, dizendo isso para ela mesmo, tanto quanto a mim. Até minha mãe era um perigo. Isso tinha que acabar.
Minha atenção se virou para os pensamentos de Carlisle, e para o som da voz de Bella, enquanto lutava comigo mesmo.
“O resto deles não acha o mesmo?” O som das palavras dela me acalmaram instantaneamente. Ela realmente estava bem.
Carlisle foi até a pia, considerando sua resposta. “Edward concorda comigo até um ponto. Deus e céu existem… e inferno também. Mas ele não acredita que há uma pós-vida para nossa espécie.” Quantas vezes tentei convencê-lo do contrário? “Você vê, ele acha que perdemos nossas almas.”
É claro que tínhamos perdido. Mas isso era um argumento antigo. O que tinha levado Bella à ele?
“Eu olho para o meu…filho. Sua força, sua bondade, a luz que emana dele – e isso só aumenta essa esperança, essa fé, mais do que nunca”. Como a visão dele era distorcida… ele lutava tanto pra achar uma ilusão de bondade em mim, quando não havia nenhuma. “Como poderia não haver mais para alguém como Edward?”
A cabeça de Bella concordou enfaticamente, e eu apertei a ponta de meu nariz. Ele estava me enchendo de glamour, alimentando a fantástica imagem que ela tinha de nós, de mim.
“Mas se eu acreditasse no que ele acredita…” ele olhou para ela. Você é tão adorável, tão frágil, confia nas pessoas. Ele te ama tanto… e ele ajustou seus pensamentos. “Se você acreditasse como ele. Como você poderia tirar a alma dele?”
Nas sombras eu congelei, chocado. A lógica do meu pai, ao contrário da minha, era perfeita. Até Bella não seria capaz de encontrar um defeito em seu argumento. Eu olhei através dos olhos de Carlisle minha curiosidade me vencendo. Que resposta inesperada ela daria para essa questão?
Eu vi a boca de Bella abrir, depois fechar, enquanto ela tentava responder. Carlisle tinha transmitido tudo que eu venho tentando dizer para ela desde que ela começou sua campanha para se tornar vampira. Ele era tão melhor do que eu jamais seria.
Vencida, sua face se torceu de frustração, e eu mal me segurei pra rir. Lendo a expressão da Bella, tentando decifrar seus pensamentos eram coisas que eu não poderia fazer por muito mais tempo.
“Você vê o problema,” Carlisle disse. Não tinha um pingo de satisfação em sua voz, só paciência. E ela ama Edward, mais do que ele sabe.
Bella não desistiu, sacudindo a cabeça com força. “É minha escolha.”
“É dele também, se ele é o responsável por fazer isso com você.” A mente de Carlisle vagou para cada um de seus filhos, ficando em mim por mais tempo, antes de se fixar em Rosalie. Não havia palavras para descrever seu arrependimento em trazê-la para essa vida.
“Ele não é o único capaz de fazer isso.” Ela olhou esperançosa para meu pai, e eu quase engasguei, tentando segurar minha risada. Rosalie era para ser a última humana que Carlisle transformou; ela havia renegado essa vida desde o momento que acordou. Quando ela trouxe um Emmett morrendo para casa, ela literalmente teve que implorar para Carlisle infectar ele, cruelmente apelando para sua culpa por fazê-la sofrer só para conseguir o que ela queria dele. Ele nunca sucumbiria aos desejos juvenis de Bella.
Carlisle soltou um pequeno riso. “Ah, não! Você vai ter que resolver isso com ele.” Sua mente vagou de novo, retornando ao arrependimento, mas também lembrando do rosto de alegria de Emmett quando ele acordou nos braços de Rosalie. Meu pai tinha sentido um pouco de redenção, vendo os dois felizes juntos, mas a duvida sempre permanecia.
“Essa é a parte que nunca consigo ter certeza. Eu acho que de uma maneira geral, eu fiz o melhor que pude com o que tinha. Mas foi certo condenar os outros para essa vida? Eu não consigo decidir. Foi a mãe de Edward que fez minha cabeça.” Pela segunda vez naquele dia eu era lembrado de minha mãe humana.
Eu andei em direção a casa, sabendo que Esme já havia terminado a primeira fase da limpeza e que ela estava ouvindo Carlisle recontar a história da minha transformação. Apesar de ter visto minha mãe em suas memórias muitas vezes, eu segurei minha respiração com a visão dela em sua mente. Minha memória dela era uma mistura borrada de alabastro, ruivo e verde. O que eu lembrava mais era do som de sua voz, cantando para mim enquanto eu lutava contra a febre.
A memória de Carlisle era perfeita, cada detalhe de seu rosto claramente definido. De muitos jeitos, olhar para minha mãe era como olhar num espelho. A metade de cima de seu rosto, seus olhos, sobrancelhas e cabelos eram idênticos aos meus. A diferença era a cor de seus olhos, claro, o verde deles era brilhante, cheio de vida, mesmo quando perto da morte. Eles eram tão humanos.
O resto de seu suave rosto não era meu; o breve encontro de Carlisle com meu pai inconsciente mostrou que as outras formas de meu rosto imitavam o dele. Minhas memórias dele eram mais vagas ainda, pontos de um passado que haviam sido queimados na minha transformação, na minha queda…
Bella estava hipnotizada pelo conto, sua face reagindo com choque, preocupação e compaixão conforme ele falava. Tristemente me dei de conta que eram as mesmas expressões que ela usou vendo o filme essa tarde. Carlisle contou à ela um fantástico conto de trágica perda, milagrosa ressurreição, não os fatos verdadeiros e negros do mal julgamento de uma mãe desiludida, e da negação de paz de um amigo com boa intenção. Bella viu minha transição como uma liberdade da dor, da morte, não como uma condenação para escuridão eterna.
Eu não culpava Carlisle nem minha mãe por me condenar à essa existência; era o destino que tinha um cruel senso de humor.
“Depois de todos aquele anos de indecisão, eu simplesmente agi por capricho,” Carlisle disse ironicamente, verificando minha afirmação de que sempre estivera destinado a essa…vida. Mas não ela, não Bella. Eu não ia repetir os mesmos erros de julgamento…seu destino não podia, não seria, o meu. Só havia um modo de evitar isso. Agora eu sabia disso.
Enquanto Carlisle descrevia o que havia feito comigo, seu coração doeu. Eu já o havia perdoado pelos machucados que ele fez, achando que fossem necessários para a transformação, mas ele ainda desejava que tivesse sabido que não eram. A dor extra que ele pensou que senti não era nada comparado com a dor que eu estaria enfrentando em breve. Quando entrei na casa, o eco daquela agonia me bateu, enquanto era bombardeado pela doce fragrância de Bella. O alvejante que Esme usou não conseguia esconder aquilo de mim.
“Eu não estava arrependido no entanto. Nunca me arrependi de ter salvo Edward.” Carlisle disse, sem perceber minha presença. Ele sacudiu a cabeça. Especialmente não agora. Ele reparou no rosto aconchegante de Bella, percebendo seus olhos abatidos. Ela precisa dormir. “Eu suponho que deva levar você para casa agora.”
“Eu faço isso,” eu disse. Bella não precisava mais ouvir contos de fada no caminho. Esse mundo não era para ela, e de alguma maneira tinha que separar ela dele…tirar ela de mim. Era a coisa certa a se fazer..
Ela olhou para mim, tentando ler meu rosto, da forma como eu já havia lido o dela tantas vezes antes, mas deixei minha expressão livre de qualquer emoção. Eu não podia deixá-la ver minha luta, como meu amor por ela brigava com o monstro assassino. Eu não podia deixá-la ver que o amor só podia vencer perdendo… perdendo ela.
Essa seria a última vez que ela poderia estar aqui, rodeada por tanto perigo. Levar ela daqui seria a parte fácil. Me tirar de sua vida seria a tarefa impossível. Mas eu não tinha escolha agora.
“Carlisle pode me levar,” Bella disse, me encarando. Vendo nada, seu rosto caiu, e seu olhar se abaixou para sua blusa, que era uma bagunça despedaçada de sangue e cobertura de bolo. Outra gráfica lembrança do fiasco que seu aniversário tinha se tornado.
“Eu estou bem,” eu disse, vendo a preocupação em seu rosto. Eu tinha que me controlar mais para evitar que ela se preocupasse comigo. “Você precisará se trocar de qualquer maneira. Você daria um ataque cardíaco em Charlie aparecendo como está. Vou pedir para Alice pegar algo para você.”
Eu saí antes que ela pudesse começar outro argumento. Quanto menos nos falássemos, melhor. Eu não tinha corrido muito longe quando ouvi a mente de Alice.
Já estou voltando. Esme tem a blusa perfeita, Alice pensou e depois olhou no futuro para me ajudar. Eu dirigi Bella até sua casa, e estacionei na frente dela. Quando Alice tentou ver além disso, não havia nada. Minha decisão não estava formada, e ela sabia.
“O que você está tentando decidir?” Ela perguntou parando perto de mim. De novo o futuro rodopiou em sua mente, mas era uma névoa escura. Apesar de ela não conseguir me convencer a não ir, a imprecisão significava que minha força de vontade ainda não era forte o suficiente para fazer o que devia acontecer.
“Edward, você é destinado para ficar com ela,” ela adivinhou.
Minha resposta foi sair correndo, tentando me distanciar da esperança entrelaçadas nas palavras de Alice. O destino era muito cruel para me permitir um futuro assim.
A voz de Bella cortou a noite. “Esme, deixa que faço isso.”
Esme notou o corar de Bella com um engasgo. “Já terminei. Como você se sente?”
“Eu estou bem.” Bella disse automaticamente. Infelizmente ela tinha que usar aquela frase vezes demais na minha presença. “Carlisle costurou mais rápido que qualquer outro médico que já tive.” Elas riram levemente, esquecendo a fonte do humor – o machucado de Bella.
Nós entramos, e Alice assumiu. “Vamos, vou arranjar algo menos macabro para você usar,” ela disse , levando Bella para cima.
Todos sabiamos que Bella faria perguntas para Alice, e apesar de Carlisle querer ouvir as respostas tanto quanto ela, ele escolheu me distrair.
“Você está bem, Edward?” ele perguntou. Tanto ele quanto Esme estavam tentando ler minha expressão, e pela primeira vez, ser feito de pedra era uma coisa boa.
“Não,” eu respondi verdadeiramente.
Esme pensou sobre me abraçar, mas quando virei meu olhar frio para ela, ela mudou de idéia.
“Como está o Jasper?” Carlisle perguntou.
“Como está o Jasper?” Bella repetiu lá em cima.
Típico, colocando ela em ultimo lugar, de novo. “Ele está bem,” eu disse, imitando o mantra de Bella.
Ele franziu o cenho. “Isso não foi sua culpa. Um erro foi cometido…”
“Não se dê ao trabalho, Carlisle,” eu disse cortando ele. “Palavras não são suficiente para remediar essa situação.” Não, algo tinha que ser feito. E eu tinha que fazê-lo. Ignorei a preocupação de Carlisle.
Bella continuou com seu altruismo, perdoando Jasper por sua natureza. “Não é culpa dele. Você dirá que não estou chateada com ele, não dirá?
É claro.” Alice estava certa, assim como Rosalie. Bella não estaria aqui não fosse a minha insistência.
Carlisle continuou refletindo sobre meu comportamento sem emoção enquanto ele ajeitava a mesa, mas não disse mais nada.
Esme terminou de limpar e colocou os presentes não abertos na mesa, se perguntando se Bella ainda poderia desfrutar deles.
Finalmente Bella apareceu, e eu esperei perto da porta, querendo que ela se apressasse, ao mesmo tempo querendo que o tempo parasse. Eu não podia suportar tê-la em perigo, mas não conseguia imaginar viver sem ela.
“Pegue suas coisas!” Alice disse alto quando Bella se virou para sair. “Você pode me agradecer depois, quando abrí-los.” Ela chegará a descobrir o que tem dentro? Ela pensou com um resmungo. Sua visão ainda tinha que ficar clara.
Esme e Carlisle disseram boa noite. Todos estavam olhando para mim enquanto acenava Bella para a porta, mas os ignorei.
O que você está tentando decidir, Edward? Alice pensou enquanto me virava para ir embora. Sua incapacidade de ver meu futuro apenas aumentava minha preocupação… Isso só podia significar que eu ainda não forte o suficiente para seguir com minhas intenções. Em quantas mais outras maneiras Bella iria pagar por minha fraqueza?
Bella quase correu para fora da casa – talvez o horror do que tinha acontecido finalmente estava sendo assimilado. Não, claro que não, mas eu me recusava a aceitar suas reações não naturais.
Silenciosamente eu abri a porta, e ela subiu na camionete. Assim que nos afastamos da casa, eu concentrei meus pensamentos na tarefa em mãos. Levar ela para casa – e deixá-la lá. Sozinha.

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