domingo, fevereiro 27, 2011

O Lado Sombrio da Lua - Capítulo 08: O Fim

Trilha Sonora: Better than me – Hinder
(Edward no quarto da Bella)
Depois de uma noite tão estressante era quase um alívio dirigir pelo estacionamento da escola. Hoje era o último dia – o último dia que eu iria vê-la, o último dia do que eu poderia chamar de minha vida. Mas ela iria viver uma vida muito mais longa e muito mais feliz sem mim. Qualquer dor que eu sofresse seria um pagamento fácil se ela pudesse viver a vida humana que merecia.
A caminhonete dela estacionou, e eu não pude conter a minha primeira reação. Sorri ao pensar em sua chegada, antecipando os primeiros sinais de seu perfume, a eletricidade de seu toque. Rapidamente olhei para baixo antes que ela pudesse ver. Eu havia conseguido me distanciar dela ao longo destes últimos dias; eu não poderia me entregar a esses pensamentos – não hoje. Eu me preparei para o ataque nos meus sentidos enquanto ela estacionava.
Quando olhei para cima, meus olhos estavam vazios novamente. Bella se aproximou do meu carro, seu rosto sem expressão. Ela podia sentir a mudança chegando, eu podia dizer, mas ela estava lutando. Parte de mim queria que ela resistisse, para me impedir de partir, mas eu cuidadosamente mantive esses pensamentos egoístas à distância. Ela merecia algo melhor do que eu.
“Bom dia,” Bella disse sem realmente sentir isso. Enquanto eu erguia a mochila dela de seu ombro, coloquei minha outra mão no meu bolso, impedindo-a de envolver os seus frágeis dedos nos meus. Minha garganta começou a arder intensamente; o tempo longe de Bella tinha enfraquecido a resistência que eu havia construído contra o seu delicioso perfume. Memórias daquele primeiro e fatídico dia preencheram minha mente, mas, surpreendentemente, o monstro permaneceu em controle. Engoli em seco e balancei a cabeça, sem encontrar seu olhar. Ela suspirou e nós caminhamos para a aula.
O rosto dela estava cheio de uma nova determinação hoje, e, embora eu tentasse ignorar a direção do seu olhar, eu não conseguia. Espiei durante toda a aula, procurando por pistas sobre o que ela poderia estar pensando. Justifiquei a minha curiosidade como preparação para o que viria depois da escola. Mesmo agora, enquanto nós estávamos sentados na sala de aula, eu podia vê-la refletindo, tentando entender o que estava acontecendo. Ela estava tentando ler a minha mente tão fortemente quanto eu tentava ler a dela.
O silêncio entre nós continuou, e lamentei que eu não pudesse ouvir mais da sua voz neste último dia. Cada segundo com ela era uma agonia, sabendo que havia tão poucos restantes, mas também um êxtase já que eu não merecia nenhum deles. Finalmente, caminhei com ela rumo sua última aula, uma que nós não compartilhávamos.
“Eu vou te ver depois da escola?” ela perguntou, e eu odiei o medo que causei em seus olhos. Ela deve ter medo de mim, eu me lembrei.
“Claro”, eu disse com indiferença. Ela franziu a testa e se virou, entrando no prédio. Eu suspirei enquanto ela desaparecia. O resto da tarde seria preenchido com as duas tarefas que eu mais temia: recolher qualquer prova da minha presença na vida de Bella, e dizer adeus.
A aula começou por toda a escola, mas eu me dirigi para a floresta. Sem pensar, automaticamente fiz o meu caminho para a casa de Bella. Mesmo que fosse um bom dia para uma corrida, a viagem não me trouxe nenhuma diversão. Nada me traria felicidade novamente, não sem ela. Minha garganta apertou-se ao me aproximar de sua casa.
Peguei a chave debaixo do beiral, ao invés de ir para a janela. Havia muitas lembranças que vieram à tona com a visão daquele simples painel de vidro, e eu não podia me dar ao luxo de me demorar pensando nisso agora. Rapidamente fui até as escadas. Quanto mais rápido eu fizer isso logo e voltar, melhor, eu pensei, mas não consegui, e parei assim que entrei no quarto dela pela última vez.
Parecia que tinha se passado tanto tempo desde que eu estive aqui, mesmo que fosse apenas alguns dias. Eu quase esperei que as coisas estivessem diferentes de alguma forma, mas não. Tudo estava exatamente o mesmo, e doeu ainda mais.
Mãos à obra, eu disse a mim mesmo. Havia apenas uma razão para que eu estivesse aqui: apagar-me da vida dela. Quanto menos lembranças ela tivesse de mim, melhor. Talvez houvesse algum bom senso na insistência de Bella para que eu não lhe desse nenhum presente… Havia pouco de mim aqui para recolher.
Lá estavam seus presentes de aniversário. Eu facilmente localizei as passagens e removi o CD do tocador. Por um momento eu lutei com a idéia de remover o rádio de sua caminhonete, mas descartei essa idéia. Não fui eu que dei ele afinal de contas, e deixar um buraco no painel causaria mais problemas do que resolveria. O mesmo aconteceu com as roupas que enchiam o armário dela por cortesia de Alice. Era apenas a minha existência que precisava ser removida, para que ela não me seguisse. Ela não iria atrás dos outros.
Olhei ao redor novamente, e localizei seu álbum de fotos no chão. As fotos que ela tirou ontem…
Respirei fundo e tentei não pensar na cama em que me sentei, nas noites em que passei ali, segurando-a… NÃO
Cuidadosamente eu peguei o album, abri e fui saudado com a primeira foto que ela tinha tirado. Eu encarei a imagem, não reconhecendo o rosto – meu rosto – sorrindo para mim mesmo. Isso foi antes – quando eu ainda era inocentemente feliz. Arranquei a foto e virei a página. Enquanto eu avaliava as fotos da escola, encontrei-me nos fundos da maioria delas, então decidi remover todas. Ela poderia facilmente tirar novas. Então eu virei para a última página.
Minha bobinha Bella… Eu não conseguia parar de pensar enquanto olhava para a foto dobrada. Mais uma vez fui confrontado com a minha própria imagem, reconhecendo o rosto apático. Retirei a foto e a virei, revelando Bella. Este é o lado que importava, eu pensei. Corri brevemente o dedo sobre a imagem, desejando que existisse alguma maneira de eu poder ficar. Por um segundo considerei levar a foto comigo, mas da mesma forma que eu estava me tirando da vida dela eu precisava mantê-la fora da minha. Lembranças como esta iriam justamente me tentar a voltar.
Somente o que ela escreveu foi deixado nas páginas, meu nome rabiscado abaixo de uma moldura vazia. Eu não poderia apagá-lo, e apesar de eu considerar riscar as palavras, escolhi melhor não faze-lo. Isso eu deixaria. Era egoísta, mas provavelmente ela mesma rasgaria a página. Coloquei o álbum vazio de volta no chão e me preparei para ir embora. Recolhi os itens que eu iria levar e olhei ao redor pela última vez, pegando os negativos que estavam depositados na mesa dela. Não havia mais nada que eu tivesse que encontrar, e levar. O que eu faria com essas recordações?
Eu não poderia dispor delas – elas ainda pertenciam à Bella mesmo assim. E eu não podia levá-las comigo… Assim que fiquei em pé o chão rangeu sob o meu peso, e olhei para baixo.
Uma tábua solta do assoalho saiu com facilidade, revelando um pequeno espaço entre as vigas. De alguma forma a ideia de deixar para trás essas lembranças, tão perto dela, me confortou. Ela nunca saberia, mas eu sim. Um último egoísmo…
Enquanto a tábua era posta de volta no lugar, percebi que meu coração estava sendo trancafiado naquele espaço minúsculo também. Eu nunca seria completo novamente. Levantei, dei mais uma olhada e, em seguida, corri para fora da casa. Adeus, eu pensei, e me preparei para o término.
As aulas estavam quase acabando, e decidi ficar no meu carro e esperar os minutos finais no estacionamento. Abri o porta-luvas e examinei os CDs ali. Um por um, eu os tirei devagar, lendo cada palavra dos encartes no papel. Nenhum deles despertou meu interesse, mas por ser tão minucioso eu consegui passar os poucos minutos até que a campainha tocasse.
Apenas alguns momentos restavam do meu tempo com ela, então eu fui ao seu encontro enquanto ela saía da aula. Forçando meu olhar para frente, nós caminhamos rumo à caminhonete. Eu não pude evitar de roubar um olhada nela de relance enquanto caminhávamos, e eu podia ver uma decisão se formando em seu rosto. Ela estava se preparando para lutar. Como eu a amava…
Mas eu tinha que parar com isso. “Você se importa se eu vier hoje?” Eu perguntei, tentando ficar distante. O olhar dela ficou espantado.
“Claro que não.”
“Agora?” Perguntei rápido demais enquanto eu abria a porta de sua caminhonete.
Bella ficou desconfiada. “Claro. Eu estava apenas indo deixar uma carta para Renée na caixa de correio no caminho. Encontro você lá.”
Olhei para o envelope em cima do banco, tão abarrotado que mal estava selado. Ela tinha revelado cada foto duas vezes. Em um instante eu peguei a carta. “Eu farei isso, e ainda vou chegar primeiro que você.” Forcei um sorriso, mas ela não correspondeu.
“Ok,” ela disse, e fechei a porta para ela.
A carta estava pesada em minha mão à medida em que eu caminhava para o meu carro sem olhar para trás. Eu teria que ser rápido para colocar essa carta seguramente trancada junto com as outras recordações antes que ela chegasse. Felizmente, o estacionamento estava congestionado atrás de mim e eu acelerei rumo à casa dela.
Havia pouco tempo, então fiz o que eu não podia fazer antes e pulei pela janela. Cuidadosamente abri o envelope e retirei as fotos, rapidamente colocando-as sob o assoalho. A aba do envelope agora me convidava. Ela se abriu com bastante facilidade – Bella não tinha selado direito – e tudo que eu tinha a fazer era voltar a lamber a cola. Fechei meus olhos enquanto levantava a aba em direção aos meus lábios.
Este seria o último gosto… e eu deixei minha língua fluir pelo papel. Neste momento eu me lembrei do beijo dela, mas o sabor era tão forte que trouxe de volta muito mais. Minha mente se preencheu com o gosto dela – aquele gosto terrível que experimentei em Phoenix, enquanto ela estava dividida entre a morte e a transformação. A euforia que o sangue dela havia me trazido, e o monstro que ela convidava retornaram em um instante. Eu sou esse monstro, e é por isso que tenho que partir.
O tempo estava quase acabando, Bella estaria chegando em breve. Eu terminei de fechar a carta e o lugar no chão, e não me incomodei em olhar para trás desta vez. Entrando no meu carro, escondi a carta debaixo do banco do passageiro e liguei o rádio. Cobri meus olhos com as mãos, tentando me concentrar no que tinha que acontecer nesses últimos minutos.
Bella não era boba. Era óbvio que ela estava preocupada que algo estivesse seriamente errado, mas minhas verdadeiras intenções pareciam permanecer um mistério para ela. Estava claro que ela iria resistir. Ela não iria entender que esse era o caminho certo – a única maneira de mantê-la segura. Ela iria ser machucada por minhas palavras, e o simples pensamento de sua tristeza era como uma faca em meu coração.
Como eu faria isso? Onde eu faria isso? Absorto em todos os meus medos, eu não havia considerado onde nós estaríamos quando eu finalmente terminasse com ela. Presumi que seria aqui na casa dela, mas enquanto eu me imaginava em pé em sua varanda, na cozinha, em sua caminhonete, nada parecia certo. Como eu poderia manchar os lugares que ela vivia com uma memória tão desprezível? Eu queria remover todas as lembranças que ela pudesse ter de mim, e não deixar uma mancha inapagável pela qual ela tivesse de passar todos os dias.
Meus olhos flutuaram através do gramado, para a fenda na trilha que rompia a borda da floresta. Bella não tinha passado por aquele caminho desde que a avisei sobre os perigos da floresta meses atrás… e ele não tinha nenhuma memória positiva para ela, ao menos que eu soubesse. Aquele era o local então, bem no topo da trilha. Talvez o meu adeus a desencorajasse de trilhar esse caminho novamente, mantendo-a um pouco mais afastada dos perigos à espreita na floresta.
Inclinei-me e desliguei o rádio. A música não foi de nenhuma ajuda, só serviu para me lembrar do que eu estava prestes a deixar ir. Percebi que meu único refúgio já não traria mais nenhuma tranquilidade para mim. A dor no meu peito se intensificou, mas o que eu sentia não importava. Apenas ela importava – sua segurança. Tentei respirar enquanto ouvia a caminhonete dela se aproximar.
Bella parecia preocupada ao estacionar no meio-fio. Enquanto eu ia em seu rumo, não pude deixar de observar todos os detalhes deste último encontro. A maneira que seus cabelos se movimentavam enquanto ela se virava em minha direção, a forma do seu corpo, a suavidade de sua pele, o calor de seus profundos olhos castanhos – tudo estava gravado na minha memória, para sempre.
O cheiro dela flutuou em minha direção, e o fogo na minha garganta esquentou. Pela primeira vez eu não tentei afastar a sede de sangue. Aceitei-a, lembrando da criatura que eu sou – o motivo de eu estar aqui – e o que eu tinha que fazer. Esse monstro, e todos os outros iguais a ele, tinham de ser removidos da vida de Bella de uma vez por todas. Esta imagem era a que eu mantinha diante de mim enquanto ia em direção ao amor da minha existência.
Enquanto peguei a mochila de Bella, ela relaxou por um segundo. Quando eu a contornei, e coloquei a mochila de volta na caminhonete, a tensão voltou. Ela era tão atenta, tão inteligente, tão linda…
Não, não faça isso… Eu me castiguei. Isso já seria difícil o suficiente sem ceder aos meus próprios sentimentos. Eu sou um monstro – e ela morreria se eu ficasse.
“Venha dar uma caminhada comigo”, eu disse, de repente lembrando aquele primeiro dia, quando a sede de sangue quase tinha vencido. Eu sentado naquela sala de aula, minha sede violenta como nunca esteve antes, pensei em mil maneiras de matar Bella. Levá-la para a floresta foi uma das primeiras opções que me alcançou – era irônico que fosse desta forma que eu estaria terminando a minha própria vida. O breve intervalo de vida que eu tinha encontrado com ela…
O calor da sua mão se envolveu a minha enquanto eu a conduzia para as árvores. O coração dela batia rapidamente, combinando com o ritmo de sua respiração. Eu reconhecia essa reação há muito tempo – um reflexo. Até mesmo ela podia ver o demônio ao seu lado. A fissura começou a se formar no centro do meu peito enquanto desacelerávamos, entrando na cobertura de folhagem.
Eu parei, num ponto onde a casa pudesse facilmente ser vista, e soltei a mão dela, quebrando de novo outra ligação entre nós. Bella fez uma careta nervosamente enquanto eu a olhava, desviando minha atenção momentaneamente. As palavras que eu tinha planejado dizer passaram por minha mente.
“Ok, vamos conversar,” disse ela firmemente. Ela não tinha idéia do que eu estava prestes a fazer com ela.
Inalando, eu comecei. “Bella, nós estamos indo embora.” Ela respirou fundo também, mas sua expressão relaxou, e meu coração se afundou. Isso seria excepcionalmente difícil.
“Por que agora? Um ano mais-” ela começou.
“Bella, está na hora. Quanto tempo mais nós poderíamos ficar em Forks afinal? Carlisle mal pode se passar por ter trinta anos, e ele está alegando trinta e três agora. Teríamos de começar tudo de novo em breve de qualquer maneira.” Eu estudei a expressão dela enquanto sua testa franzia em pensamento. Era como se eu estivesse falando com ela em grego – a compreensão lhe fugia. Fiquei olhando para ela, esperando sua mente assimilar o que eu estava dizendo, esperando ela perceber como eu estava a ponto de machucá-la.
Seu olhar mudou e seu rosto empalideceu. Meu coração de pedra se contorceu em dor.
“Quando você diz nós -” ela sussurrou e fez uma pausa. Não, não faça isso, tem que haver uma maneira melhor, meu coração gritava, mas eu não iria vacilar.
“Quero dizer eu e minha família”, eu disse mecanicamente. Não você…
Ela balançou a cabeça, exibindo o argumento que eu estava esperando. Bella não falou enquanto minhas palavras lentamente penetravam em seu ser. Surpreendentemente, sua expressão transformou-se em alívio.
“Ok, eu vou com você.” E o argumento começou. Com todas as letras parte de mim desejava ficar, ou então levá-la junto – para de alguma forma ficar com ela – só nós dois. Mas foi a minha proximidade que a havia colocado em tanto perigo – quase matando-a, quantas vezes já foram? Não importa onde ela estivesse, eu tinha que estar em algum outro lugar.
“Você não pode, Bella. Onde nós estamos indo,” onde eu estou indo, “não é o lugar certo para você.”
“Onde você estiver é o lugar certo para mim”, ela disse com teimosia. Como eu conseguiria fazê-la enxergar e me deixar ir?
“Eu não sou bom para você, Bella,” eu disse com firmeza.
“Não seja ridículo. Você é de longe a melhor parte da minha vida.”
Não, isso está errado… Ela é a melhor parte, ela é toda a minha vida. Ela sempre via as coisas da forma inversa. Algo se mexeu na parte de trás da minha mente – algo sombrio e enganador.
“O meu mundo não é para você.” E nunca seria, não interessa o que Alice viu.
“O que aconteceu com Jasper – não foi nada, Edward! Nada!”
“Você está certa.” Finalmente ela viu algo da forma correta. “Foi exatamente o que era de se esperar.” E voltaria a acontecer, na próxima vez que o sangue dela fosse derramado na minha frente. Eu me encolhi com a idéia de ter os meus lábios em sua garganta, incapaz de me parar quando ela fosse ferida novamente.
Bella não desistiu, seu corado de raiva me atraindo mais que o seu argumento. “Você prometeu! Em Phoenix, você prometeu que iria ficar- “
“Contanto que fosse o melhor para você.” Mas minha presença tinha trazido a ela apenas mais angústia, mais dor.
Ela estremeceu enquanto mexia seu braço ferido em frustração. “Não! Isso é sobre minha alma, não é?” ela gritou. “Carlisle me falou sobre isso, e eu não ligo, Edward. Eu não me importo. Você pode tomar a minha alma. Eu não a quero sem você – Ela já é sua!” ela gritou.
Arranquei os meus olhos dos dela, inclinando a cabeça para baixo, não vendo nada. Como ela estava errada – Eu jamais poderia tomar sua alma, destruir um espírito tão belo e perfeito. Se eu pudesse dar para ela a minha em troca, talvez, mas minha alma há muito havia feito o seu caminho para o inferno. Não havia nenhuma maneira que eu permitiria a ela juntar-se a mim lá, não importa o quanto ela implorasse. Isso ia ser pior do que vê-la morrer.
Novamente, sua lógica era o oposto do que deveria ser. Ela iria sacrificar seu bem mais precioso por mim, por uma… criatura… com absolutamente nada para dar em troca. Se ela pudesse ver as coisas como elas realmente são… mas não. E se eu distorcesse o meu argumento para que a lógica dela pudesse ser assimilada?
A escuridão em minha mente tomou forma, transformando-se na mentira que seria impossível de acreditar, mesmo para alguém tão ingênua como Bella. Eu não sou bom para você, Bella, eu diria, mas ela não conseguiria aceitar esse fato. O inverso era uma agonia até mesmo para eu pensar. Você não é boa para mim…
Mas como ela poderia acreditar? Ela presenciou o renascimento do meu ser, transformando-se de uma existência solitária para uma onde passei todos os momentos possíveis com ela. A prova disso não era apenas emocional, mas física. Esme, Carlisle, até mesmo Rosalie já haviam comentado sobre a minha aparência, a luz que Bella inseriu nas minhas feições. Não, Bella rejeitaria essa mentira antes mesmo que ela saísse dos meus lábios.
Mas que escolha eu tinha? Discutir com ela até que ela ficasse tão exausta que adormecesse? A idéia de vê-la pacífica, seus olhos confiantes fechados novamente, fez meus braços doerem com vontade de segurá-la. Só de ouvir sua voz furiosa, seus gritos, era quase mais do que eu poderia aguentar – há dias que ela não dizia tanta coisa para mim. Mas eu tinha que ir – ela tinha que ser livre para viver.
De alguma forma eu tinha de convencer Bella de que eu não a amava. Ela via através de tudo com uma percepção sobre-humana – como eu poderia vender essa mentira? Mas se ela visse isso ao contrário, ela poderia finalmente compreender que eu era errado para ela e que ela merece muito mais? O que eu faria se isso não funcionasse?
Eu olhava para o chão, absorvendo cada sentimento, cada verdade que Bella havia instigado em mim e os trancando. O buraco em meu peito se rasgou amplamente, e eu deixei tudo o que ela tinha me proporcionado desaparecer por ele, descobrindo que nada havia restado. Eu estava acabado – tudo o que Edward Cullen foi desapareceu com ela; e tudo o que restou era a maldita concha de pedra que eu usava. Foi com os olhos vazios que eu a olhei e falei aquelas palavras abomináveis, a maior mentira de todas.
“Bella”, o nome dela me perfurou. “Eu não quero que você venha comigo.” Olhei para o rosto dela, mas não olhei em seus olhos. Eu não podia suportar testemunhar a raiva que deveria estar ali.
No entanto, ela não se mexeu, e ficou olhando para mim fixamente. Sua testa franziu, como se estivesse tentando fazer sentido de uma afirmação tão simples. Ela deve estar escolhendo o seu argumento seguinte – ela sabe que eu vivo por ela. Quantas vezes eu tinha confessado o meu amor por ela nos últimos meses? Mal passávamos uma hora separados. Eu não tinha estado mais do que alguns minutos longe dela desde o retorno de Phoenix. Como posso convencê-la que todas as minhas ações tinham sido insignificantes, quando, na verdade, eram as primeiras coisas que valeram a pena eu ter em minha vida?
Os lábios dela começaram a se mover. “Você… não… me quer?” Sua voz estava confusa – e isso me chocou.
“Não,” era tudo o que eu conseguia dizer. Continuei a espiá-la, sem piscar, mantendo todos os meus pensamentos ocultos. Ela tinha que ver através desta mentira – como ela poderia acreditar em tal coisa? Sua expressão mudou só um pouco, mas não para a descrença furiosa que eu estava esperando.
“Bem, isso muda as coisas,” disse ela de forma equilibrada. Meu coração, escondido dela, partiu-se em dois, e eu tive que desviar o olhar. Bella acreditou em mim, e isso doeu muito mais. A forma que ela facilmente aceitou a mentira de que eu poderia simplesmente jogar fora o seu amor. Era como se ela estivesse me deixando agora.
O argumento que eu havia planejado mudou um pouco em minha mente, e uma versão diferente das mesmas palavras começou a fluir para fora da minha boca.
“Eu deixei isso durar por muito tempo, e sinto muito por isso,” na verdade, eu acabei incorporando um pequeno pedaço de verdade nisso. Eu era um mentiroso descarado, e olhei para ela friamente.
“Não,” ela sussurrou. “Não faça isso.” Cada palavra me atravessou como uma lança. Não, não faça isso! Meu coração gritava concordando. Empurrei as palavras para longe. Ela tinha que viver.
“Você não é boa para mim, Bella,” eu menti novamente. O rosto dela caiu, absorvendo completamente aquelas palavras. Como você pode acreditar em mim? – Sem você eu não sou nada. Nunca existiu nada tão bom para mim como você, meu amor.
Ela tem que viver, eu debati em silêncio.
Ela lutou novamente com suas palavras, começando a falar, mas depois parou. Eu esperei, mal suportando a tortura. Seus pensamentos permaneceriam para sempre um mistério para mim, e a dor daquela compreensão por pouco não quebrou a minha força de vontade.
“Se… é isso que você quer,” disse ela baixinho. O que eu quero não importa…
Ela tem que viver. Eu só podia assentir em concordância – a dor era demais. O comportamento dela mudou novamente, tornando-se distante. Suas mãos balançavam em suas laterais, e medo correu através de mim com o pensamento de que ela poderia desmaiar. Faltava apenas mais uma coisa, e então eu iria.
“Eu gostaria de pedir um favor, porém, se isso não for muito.” Seu rosto suavizou um pouco, e eu podia ver que ela faria qualquer coisa por mim, que ela se importava tanto assim. Cada célula do meu corpo me pediu uma última vez para parar com aquilo, para envolver os meus braços ao redor de Bella e nunca deixá-la ir. É tudo uma mentira!
Meu peito começou a doer e eu tive que lutar para cada respiração, escondendo cuidadosamente a verdade do meu primeiro e único amor.
“Qualquer coisa,” ela disse, uma pitada de força por detrás das palavras. Eu não pude esconder meus sentimentos enquanto fazia o meu último pedido para ela. Olhei profundamente em seus olhos, querendo que ela soubesse o quanto eu a amava, o quão importante ela era para mim. Perdido em seus perfeitos lagos castanhos, eu tive que me lembrar de falar.
“Não faça nada estúpido ou imprudente. Você entende o que estou dizendo?” comandei.
Ela assentiu fracamente, e eu sabia que ela havia entendido. Com cuidado, tentei trancar todo o amor, toda a preocupação, a minha vida inteira, escondendo-os dela novamente. Afastando tudo aquilo, porque sem ela eu não era nada.
Mas ela vai viver.
Reforcei a mentira. “Estou pensando em Charlie, é claro. Ele precisa de você. Cuide-se… Por ele” E por mim.
“Eu irei,” ela sussurrou, balançando sua cabeça novamente. Pelo menos ela não discutiu este ponto.
Eu devia a ela o meu próprio juramento, embora soasse vazio, misturado a todas aquelas mentiras. “E, em troca, vou lhe fazer uma promessa. Prometo que esta será a última vez que você vai me ver. Não voltarei. Eu não a farei passar por nada como isso novamente. Você pode seguir com a sua vida sem qualquer interferência minha. Será como se eu nunca tivesse existido.” Enquanto eu falava aquelas palavras, tentei queimá-las em meu coração. Ela merecia nada mais, nada menos que isso da minha parte.
Bella balançou-se diante de mim. Novamente, eu temia que ela fosse desmaiar – se eu tivesse que levá-la para a casa, acho que a minha decisão não aguentaria. Minhas palavras eram gentis, suaves, pelo menos para ela. “Não se preocupe. Você é humana – Sua memória não passa de uma peneira. O tempo cura todas as feridas para a sua espécie.” Mas não para a minha…
Como se lesse minha mente, ela disse, “E as suas recordações?”
“Bem…”
Como eu gostaria de dizer para ela que eu me lembraria de cada íntimo detalhe seu. Seu cheiro, seu toque, cada palavra que ela já tinha dito para mim, cada olhar, cada sorriso, cada lágrima, até mesmo seu gosto incrivelmente delicioso ficaria gravado em minha memória permanentemente, nunca me deixando, sempre ali para me assombrar até o fim dos meus dias. Eu nem mesmo poderia mentir para ela – ela veria através de mim em um segundo.
“Eu não vou esquecer. Mas a minha espécie… nós somos muito facilmente distraídos.” Eu tentei sorrir, para convencer a ela e a mim mesmo que era verdade. No momento, eu não conseguia enxergar como poderia evitar de pensar nela. Victoria, a minha mente sussurrou, mas o nome desapareceu com a brisa.
Bella acreditou em mim, acreditou naquela mentira absurda, e este era o fim. Finalmente era hora de partir. Se eu ficasse por mais tempo eu não iria embora nunca. Dei um passo para trás, meu peito vazio a não ser pela dor – uma dor com a qual eu viveria até o fim da minha existência.
“Isso é tudo, suponho. Nós não iremos incomodar você novamente.” Enquanto eu preparava para me afastar, sua expressão mudou para surpresa, e isso me pegou desprevenido por um segundo.
“Alice não vai voltar.”
Ao que parece, eu devia continuar a torturá-la, e a mim mesmo. “Não. Todos eles já se foram. Eu fiquei para trás para lhe dizer adeus.” Seu rosto estava inexpressivo agora – completamente vazio, como o meu espírito.
“Alice foi embora?”
“Ela queria se despedir, mas a convenci de que um término rápido seria o melhor para você.” Lutei para manter as visões de Alice – onde eu e Bella viveríamos felizes juntos – longe de invadirem a minha mente. Esse futuro desapareceria agora.
Bella estava se balançando mais uma vez, o rosto branco, seusolhos vazios. Ela respirou fundo. Como eu queria abraçá-la…
Está na hora… Deixe-a viver.
“Adeus, Bella”, eu disse suavemente, dando um último e longo olhar para seu lindo rosto. Antes que eu pudesse me mover, ela veio em minha direção.
“Espere!” Ela falou, e suas mãos vieram ao meu encontro.
Eu detive seus braços, impedindo cuidadosamente que ela me alcançasse, mas antes que eu pudesse me impedir inclinei-me, estupidamente tocando meus lábios em sua testa. A eletricidade que eu sentia sempre quando tocava a pele dela não havia diminuído nestes últimos dias torturosos, e ela relampejou através de mim como um raio naquele meio segundo de contato. Eu saboreei o calor, o cheiro, a sensação da pulsação dela em minhas mãos e sob meus lábios, e por mais um segundo o som do seu coração. Meus sentidos estavam repletos dela, e meu coração tentou novamente: Não faça isso! Fique com ela, para sempre… ela precisa de você, ela TE AMA.
Lutando contra cada instinto que eu tinha, eu a deixei ir. “Cuide-se”, sussurrei, afastando-me antes que ela abrisse seus olhos.
Ela vai viver… mas as palavras eram vazias, já que eu sabia que minha vida havia acabado. Sem ela, eu só iria existir, até o dia em que ela morresse. Então eu deixaria de existir, e haveria paz. Tinha que haver paz…
Sem olhar para trás, corri o mais rápido que pude. Cada passo dado rasgava a minha carne, arrancando pequenos pedaços do meu coração e deixando-os pelo caminho. Em três batimentos cardíacos dela eu já estava em pé ao lado do meu carro.
Ouvi seus passos atravessando o gramado, mas ouvi um som muito mais perturbador, o farfalhar de folhas. Ela estava tentando me seguir.
Bella, não tente me encontrar…
Meus olhos se voltaram para as árvores de novo, minhas pernas me implorando para ir encontrá-la, mas com toda a força que eu poderia reunir, virei-me na direção oposta e corri para a casa dela. Encontrei um pedaço de papel e rabisquei um recado rapidamente, imitando sua caligrafia singular e dizendo a Charlie onde encontrá-la, caso ela se perdesse. Olhei para o relógio enquanto deixava o recado ao lado do telefone. Ele estaria em casa dentro de alguns minutos para assistir o jogo da noite, ela não poderia ter ido muito longe. Ele iria se assegurar que ela estivesse a salvo.
No caminho de volta para o meu carro, eu a ouvi novamente, ainda andando pela vegetação. Nada restava dentro de mim agora exceto a dor, e com cada som a dor se aprofundava ainda mais. Se eu ficasse mais um segundo eu não seria capaz de suportar – eu iria até ela. E uma vez que ela estivesse ao meu alcance, eu nunca mais a deixaria ir.
Rapidamente cheguei ao volante, mal observando a estrada enquanto passava por ali pela última vez. O cheiro dela estava impregnado no interior do Volvo, criando uma visão fantasmagórica que me chamava do assento do passageiro, implorando-me para voltar. Cegamente saí da cidade. Enquanto as mentes dos motoristas à minha volta zumbiam na parte de trás da minha cabeça, sai da estrada principal e entrei na floresta. Sem saber exatamente onde eu estava, encostei o carro, incapaz de aguentar a tortura por mais tempo.
Aquele último vislumbre do rosto dela, com os olhos suavemente fechados, estava gravado permanentemente em minhas pálpebras e, cada vez que eu piscava, ela aparecia diante de mim. Não poderia existir agonia pior do que essa…
Mas, sim, poderia existir, eu me lembrei. Outra imagem preencheu a minha mente, uma de sangue misturado ao lindo cabelo de Bella, e em torno de seu corpo quebrado. Não um pesadelo – uma memória. Por vezes demais a vida dela tinha sido colocada em risco por minha causa, por estar exposta ao meu mundo. Era apenas uma questão de tempo antes que ela fosse ferida de novo, provavelmente de forma fatal. Então, ela iria embora para sempre, e seria minha culpa.
A dor desse pensamento levou minhas mãos até o meu rosto enquanto meu peito era dilacerado e aberto e tudo dentro dele desaparecia. Tanto quanto deixá-la me fazia vazio, a idéia dela morrendo literalmente apagava a minha existência. Obriguei-me a respirar, me acalmar, mas a sensação agora era permanente. Pelo menos sem a minha presença ela iria viver. Ela iria desfrutar de uma vida humana, que iria acabar algum dia, com uma morte humana. Então ela iria encontrar o paraíso que eu nunca iria ver.
Ela vai me esquecer, eu pensei, e a dor apenas aumentou. O olhar nos olhos dela, a fácil aceitação da minha rejeição despedaçou-me novamente. Como ela podia acreditar que eu pudesse simplesmente deixá-la? Eu estava tão preparado para vê-la lutar, implorar, tornar impossível para mim partir, que eu fiquei chocado quando ela não o fez. O amor dela tinha me mudado de inúmeras maneiras; eu presumia que o mesmo acontecia com ela. E se eu estivesse errado todo esse tempo?
Tentei respirar, mas não consegui. Cada pensamento que atravessava a minha cabeça só causava mais dor. Mesmo enquanto eu tentava pensar no quão melhor Bella estaria sem o perigo que o meu mundo propunha, eu não encontrava nenhum conforto. Enquanto ela seguia em frente com sua vida, a minha era interrompida. Não havia nada para mim agora, nada
A tortura do silêncio foi quebrada pela vibração do meu celular, que estava no porta-copo. Baixei as mãos e peguei-o, tentando decidir se isso era realmente uma distração ou se iria apenas amplificar a dor. Finalmente olhei para o identificador de chamadas, esperando que fosse Alice. Fiquei um tanto surpreso por não ser.
“Alô, Carlisle,” eu disse suavemente. Minha respiração estava irregular enquanto eu lutava para conseguir ar suficiente para falar.
“Você falou com ela”, disse ele, captando o tom da minha voz. Ele ficou em silêncio, esperando.
“Sim”, solucei, sem lágrimas. Como uma palavra tão pequena podia carregar tanta tristeza. Minha garganta se fechou, e eu não conseguia mais falar. Não conseguia respirar, não conseguia pensar, nem conseguia mais enxergar.
“Fique onde você está”, disse ele, e a linha ficou muda.
Alice já havia dito para ele onde eu estava. Minha mão se mexeu em direção da chave, preparando-se para partir, mas eu ainda não havia encontrado os meus sentidos. Uma parte de mim ansiou pela companhia do meu pai, apenas por um pequeno momento, mas a minha dor não era dele, nem deveria ser.
Lentamente, consegui respirar. Ele merecia uma despedida de verdade. Eu me ajeitei e esfreguei o rosto, tentando apagar alguma tristeza nele. Minhas emoções não poderiam ser trancafiadas novamente, uma vez que Bella possuía a única parte de mim que permitia isso – meu coração.
Por favor espere, Edward, nós estamos quase aí, os pensamentos de Carlisle me penetraram.
Por favor, Edward… os de Esme também. Minha cabeça caiu sobre o volante com o pensamento de encarar a minha mãe – seria quase tão difícil dizer adeus à ela quanto foi com Bella.
Mais uma vez eu peguei as chaves, tentando encontrar forças para fugir deles, mas a essa altura um familiar carro preto surgiu atrás do meu e estacionou. Forcei uma outra respiração irregular, em seguida agarrei a mala de couro preta do meu lado e deliberadamente abri a minha porta. O fantasma de Bella sorriu para mim, sentado ao lado da carta que eu havia prometido enviar por ela. A aparição permaneceu no carro enquanto eu saía. Fiquei esperando, meus olhos colados ao chão.
Esme me alcançou primeiro, não me permitindo dar sequer um passo na direção dela. Ela abraçou-me e colocou a cabeça no meu peito.
Sinto muito, Edward… Nós te amamos… Por favor, não vá… os pensamentos se repetiam mais e mais em sua mente enquanto ela me abraçava forte. Eu a amava tanto, minha mãe, e correspondi ao seu abraço, descansando a minha bochecha contra o cabelo dela.
“Você sabe que tenho que ir. Vou manter contato, eu prometo”, sussurrei.
Ela balançou a cabeça, mas não se mexeu.
Finalmente abaixei meus braços, mas ela se recusou a me deixar ir, e tive medo de que tivesse que repetir a cena que eu tinha acabado de sofrer com Bella. Felizmente Carlisle interviu.
“Esme, temos que deixar Edward escolher seu próprio caminho”, disse ele suavemente enquanto rompeu o aperto dela sobre mim. Os pensamentos dele cuidadosamente espelhavam-se suas palavras, embora houvesse algo mais…
Esme finalmente me soltou, mas em seguida puxou meu rosto para baixo, beijando a minha bochecha. “Lembre-se que nós te amamos também. Por favor, volte logo para casa”, ela implorou.
“Eu te amo, mãe”, eu disse roucamente. Olhei em seus olhos por um momento, mas quando meus lábios começaram a tremer eu me virei, olhando para as árvores escuras.
Ela recuou, e Carlisle segurou-a por um momento, tentando confortá-la sem trair a sua própria tristeza. Esme em seguida marchou de volta para o carro, e eu relutantemente olhei para o meu pai.
Eu devo perguntar a você uma última vez, esta é a única maneira? Ele avaliou o meu rosto, incapaz de esconder sua própria tristeza por mais tempo.
Tentei engolir o caroço que se acumulou na minha garganta. Com aquelas palavras ele pretendia obter apenas uma confirmação, mas elas me atingiram forte, tentando-me novamente. Mais uma oportunidade de voltar atrás…
“Sim, é,” eu disse com firmeza, olhando para longe novamente.
A tentação aumentou assim que Carlisle lembrou-se da descrição que Alice deu da visão dela que já não mais existia, e a imagem que eu havia visualizado na mente dela retornou. Eu tinha meus braços ao redor de uma Bella vestida de branco enquanto me inclinava para beijá-la. Um futuro no qual Alice ainda acreditava.
Em minha mente o tecido branco transformou-se no carpete macio que costumava estar na minha casa, e o vermelho dos lábios dela tornou-se uma piscina de sangue acompanhando sua pele cremosa. Eu apertei meu queixo com a visão. A versão de Alice do futuro estava longe de ser perfeita, e não haveria espaço para mais erros.
“Muita coisa pode acontecer entre o agora e o depois”, vociferei enquanto meus olhos se levantavam ao encontro dos dele. Um arrependimento me preencheu de imediato. “Eu sinto muito, Carlisle. Tem que ser dessa maneira. Eu a amo demais, e o perigo é tão grande quanto.” Por favor, entenda, pensei.
Eu respirei novamente, mas o ar não me preencheu. De repente, lembrei-me que a minha mão não estava vazia. “Há uma coisa que você poderia fazer por mim, entretanto.” Eu lhe estendi as minhas chaves. “Você poderia, por favor, enviar a carta que está no banco da frente? É uma carta de Bella… para a mãe dela.” Minha garganta se fechou ao dizer o nome dela, ao mesmo tempo que ouví-lo me perfurou. Carlisle cuidadosamente pegou as chaves, concordando com um leve aceno. Ele olhou para o meu rosto, preocupado.
Para onde você vai? Nossa família é incompleta sem você, Edward. Minha tristeza estava agora espelhada nos olhos dele, levando a dor até o meu peito novamente. Eu não poderia ficar e torturá-los também.
“Eu vou matar Victoria.” Aquele nome transformou parte da tristeza em ódio enquanto eu via o rosto da ruiva reluzir através da mente de minha mãe. Ela estava ouvindo atentamente cada palavra minha. “Não se pode permitir que ela seja uma ameaça para ninguém, muito menos para Bella.”
Carlisle estudou a minha expressão e considerou brevemente a ideia de oferecer-se para vir comigo. Antes que eu pudesse protestar ele pensou em Esme e mudou de idéia. Ele colocou as mãos nos meus ombros.
Cuide-se, filho. Eu te amo, ele pensou, e então colocou os braços à minha volta, dando-me um abraço de despedida.
Minha voz saiu como um engasgo. “Eu também te amo, pai”.
Ele deu um passo para trás, e sem olhar novamente eu me virei e corri para a floresta. Ambos os pensamentos de Carlisle e Esme estavam cheios de tristeza e amor enquanto eles me viam desaparecer.
O ar frio e úmido chicoteava o meu cabelo enquanto eu corria, mas isso não contibuiu em nada para me acalmar. Só me fazia lembrar do vazio repugnante que estava em meu peito. Incapaz de chorar, incapaz de dormir, incapaz de esquecer – agora eu sabia que estava realmente condenado.
Apenas um pensamento podia me distrair e, enquanto as árvores perdiam o foco à minha volta, as palavras que eu tinha visto na tela do meu computador por um momento obscureceram a imagem de Bella em minha mente.
MOCHILEIRO ENCONTRADO DILACERADO EM TRILHA PERTO DE BILLINGS, gritava a manchete. Victoria estava caçando…

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