domingo, fevereiro 27, 2011

O Lado Sombrio da Lua - Capítulo 10: Doces Ou Travessuras

Victoria estava ficando descuidada. Ela nem se incomodou em tentar encobrir o corpo desta vez – deixando-o em uma vala na estrada onde a polícia facilmente o encontrou. Eu sabia que ela esteve na cidade há menos de uma semana, mas já tinha matado. Caçar na mata tinha começado a ficar difícil quando o frio tomou conta e havia direcionado os caçadores e praticantes de caminhada de volta para suas casas quentes, por isso ela mudou de tática. Ela me levou para a cidade, sua nova escolha de presas particularmente perturbadora.
“Quantas noites você vai ficar conosco em Hamel, Sr. Randall?” A funcionária da noite disse enquanto o relógio na parede ressoou quatro vezes. As sobrancelhas dela se arquearam, inspecionando-me, imaginando porque eu estaria fazendo check-in à essa hora profana.
“Até amanhã de manhã”, eu disse, pegando a caneta acorrentada ao balcão. Perto de mim estava uma pilha da última edição do Star Tribune. A manchete anunciou o mais recente de uma série de assassinatos que as cidades tinham experimentado no último mês. Então, Victoria foi mais esperta do que eu pensava, disfarçando sua matança como uma daquelas cometidas pelo serial killer.
A cabeça de Victoria iria rolar… em breve. Ela não podia se esconder em uma cidade tão grande como Minneapolis por muito tempo, e o mundo humano era muito mais minha casa do que dela. Sua última refeição foi pequena, uma criança, assim ela deveria caçar de novo, provavelmente, ao entardecer. Isso me dava um dia para me preparar. Ambos ficaríamos escondidos nesse brilhante e ensolarado dia, então eu iria finalmente acabar com isso.
A tímida mulher do outro lado do balcão sorriu docemente, esperando-me completar o formulário de check-in. “Você está aqui a negócios ou lazer?”
Becky, estava escrito em seu crachá. Seus olhos e seus pensamentos começaram a caminhar pelo meu rosto, e eu rapidamente lhe entreguei o papel. Os pensamentos grosseiros que se agitavam através de sua mente me fizeram apreciar o silêncio da floresta.
“Negócios,” eu disse com firmeza, capturando seus olhos com os meus próprios. Enquanto eu a encarava minha garganta aquecia, e o monstro em mim rapidamente enumerou vinte maneiras de acabar com a vida deste ser humano vulnerável. O efeito não foi deslumbrante.
Seu desejo se tornou medo em um instante enquanto ela se lembrava da vaga descrição do serial killer comparando a mim. Alto, jovem, cabelos escuros. Seus olhos são tão escuros… tão vazios… tão frios… Deus, onde está  Bob? Devo chamar a polícia?
Eu tentei suavizar meu olhar. “Estou em uma conferência em Polaris, na próxima estrada.”
Becky não acreditou em minha história, e seus reflexos assumiram o controle. Quando ela calculou suas chances de escapar, o coração dela acelerou novamente, vendo que as chances não estavam a seu favor. “I-isso é ótimo”, ela gaguejou, deslizando a minha chave pela imitação de mármore. Ela imediatamente se afastou, pegou o telefone e apertou um único botão de discagem rápida. Sem esperar por uma resposta, ela começou a falar muito alto. “Butch, desculpe interromper seu treino. Estou pronta para você esfregar o corredor…” Seus olhos dispararam de volta para os meus furtivamente, enquanto ela mentalmente procurava armas em mim.
Na outra extremidade do telefone, uma voz computadorizada informou que ela não tinha novas mensagens de voz. “Tudo bem, o vejo em dois minutos”, disse ela, falando com a máquina como se fosse uma pessoa. Sua farsa teria funcionado com outro humano, mas eu sabia que não havia outra pessoa ouvindo sua conversa além de mim.
Com a chave na mão, eu não tinha mais interesse nela, e ela estava mais do que aliviada em me ver andando para longe. Seu encontro com o mundo imortal foi rápido e indolor. Becky não sabia quão sortuda ela era. Eu poderia ser assustador, mas Victoria era mortal.
“O que você quer dizer com assustador?” A voz de Bella disse ingenuamente enquanto eu caminhava pelo corredor até o meu quarto, abafando a música brega vinda através do hotel de estrada. O resto do prédio estava em silêncio, a maioria das mentes dormia sem sonhos, e os outros não podiam competir com a minha lembrança de suas palavras. E as memórias estavam voltando mais forte a cada dia.
A minha própria voz interrompeu a dela. “Eu não te assusto?”
“Não mais do que o normal.”
Rangendo os dentes eu cheguei em meu quarto e fui direto para a TV, tentando encontrar algo para mascarar o som dos meus pensamentos traidores. Um vídeo de rap apareceu, e eu aumentei o volume. O som revoltante funcionou melhor do que eu poderia ter esperado. Agora, se eu pudesse evitar de fechar meus olhos.
Meus pensamentos relutantemente retornaram para a lista de atividades desta noite. Isso foi ao que minha vida tinha sido reduzida, a uma lista. Quanto mais longa a lista, melhor; cada tarefa levando à próxima, como a criação de uma fileira de dominós. Eu tinha que colocar cada um seu lugar, forçar minha mente para se concentrar em cada retângulo de marfim, minimizando as possibilidades de meus pensamentos vagarem de volta para aquele canto chuvoso do mundo onde o meu coração residia. Infelizmente, eu sabia que um dia os dominós cairiam, não deixando nada para me manter longe dela. Meu maior medo era que algum dia eu iria sucumbir, correndo de volta para ela, condenando-a. Mas não hoje. Pelo menos é isso que eu disse a mim mesmo pela milésima vez.
Arrumei a minha mochila e sacola na cama, e outro dominó foi colocado em seu lugar. Não, eu era forte o suficiente para ficar longe. Ela merecia uma vida humana normal, a única coisa que eu ainda poderia dar para ela. Antes de minha mente conjurá-la novamente, voltei para a minha lista. Próxima tarefa, eu ordenei.
Hoje tinham mais dominós que o habitual… tempo para recarregar, reabastecer, e limpar. Fingir ser humano por algumas horas. Semanas na floresta tinham me deixado despenteado, e embora eu não me importasse, interagir no meio da agitação de uma cidade grande exigia um certo nível de civilidade. Eu posso ser um monstro, mas eu não sou um animal.
Enquanto eu arrancava as etiquetas das roupas novas, um novo rosto apareceu na minha mente. Alice teria gastado muito mais tempo e esforço comprando as camisas e calças jeans que comprei, mas ela teria ficado muito mais perturbada ao ver as roupas sujas que eu estava descartando. Eu me perguntava como ela estava, minha irmã favorita. Eu me pergunto se ela tinha me perdoado. Duvido muito.
A outra razão deste exercício era recarregar minhas baterias, embora em um sentido mais literal do que estava na brochura ao lado de minha cama. Eletricidade, roupas, e, se eu tivesse a coragem um telefonema, foram as razões pelas quais eu vaguei na cidade. O receio da funcionária havia me lembrado de outra tarefa que eu precisaria quando minha breve escala na civilização estivesse completa – eu precisava caçar.
Eu vasculhei dentro de minha bolsa de couro e encontrei o meu celular e novo laptop. Este último tornou-se uma necessidade quando eu tinha sido incapaz de chegar perto o suficiente de Victoria para ver seus pensamentos ou definir seus padrões. Depois de perder o cheiro dela em mais de uma ocasião, eu tive que recorrer à pesquisa na Internet por assassinatos misteriosos e mapas, para encontrá-los. Após duas semanas de nada, eu finalmente peguei seu cheiro ao redor da vítima mais recente aqui.
Mas primeiras coisas primeiro. Conectei o telefone a um carregador e liguei ao lado da cama. O pequeno dispositivo de prata assentou-se na mesa de cabeceira, esperando por mim para fazer a chamada que eu estava temendo. Carlisle não iria esperar muito mais, porém. O laptop foi conectado no carregador em seguida, antes que eu meticulosamente dobrasse e embalasse o conjunto extra de roupas novas que eu comprei. O telefone parecia crescer mais enquanto eu demorava.
Eu havia ignorado as duas últimas ligações de Carlisle, sabendo que ele iria deixar uma mensagem se houvesse uma emergência, mas meu correio de voz permaneceu vazio. Ele só podia querer uma coisa, então. Que eu cumprisse a minha promessa de dar notícias. Eu devia isso à ele, me manter em contato, eu devia isso para Esme.
Chuveiro ou telefonema primeiro? Como o covarde que eu era, eu peguei o conjunto de roupa limpa e fui para o banheiro. A ligação iria esperar mais alguns minutos. A culpa tomou conta de mim junto com a água quente enquanto um rosto diferente apareceu ao lado de Bella na minha imaginação. As feições suaves de minha mãe fizeram uma cara para mim enquanto eu enxaguava o xampu de meu cabelo. Tanto sofrimento eu havia causado…
O banho foi apenas um pequeno atraso, e cedo demais eu já estava na frente do espelho, secando meu cabelo com a toalha. Quando ele estava molhado era um castanho escuro, e me concentrei em meus olhos antes que eu pudesse comparar à cor de alguém. Minha íris estava tão escura que eu não podia discerni-las de minhas pupilas. Sim, eu definitivamente precisava caçar.
Observei o rosto no espelho, notando com um suspiro quão diferente eu estava. Retirar a camada de sujeira e imundície que acompanha viver uma existência nômade não podia apagar a falta de vida que olhava no reflexo para mim.
“Eu já vi cadáveres com uma cor melhor.” Foi a minha voz narrando a nauseante e pálida imagem de Bella da minha vida passada.
Eu voltei ao meu estado real, um predador com apenas iscas e anzóis. A beleza se tinha desvanecido, o deslumbramento tinha fugido. Era assim que eu aparentava naquele dia, sangrento dia, contemplando a multiplicidade de maneiras que eu poderia acabar com a vida de Bella? O que poderia te-la atraído para mim, um monstro horrendo, tão obviamente perigoso? “Agora eu me tornei a morte, destruidor de mundos,” citei a mim mesmo.
Lembrei-me das fotos que eu escondi em seu quarto, como o Edward que era dela parecia brilhar com adoração. Ela vira através da imagem mortífera, arqueada e hesitante na minha frente, e infligiu sua luz em mim. Isso é o que era, eu percebi. Assim como o sol iluminava minha rígida pele de estátua em um arco-íris de cores, a riqueza do seu espírito, sua alma, se refletiu em mim também. Sua ausência deixou nada além de um espaço vazio e frio – um espelho em uma sala escura. Não, isso não foi muito preciso. Eu era apenas um passivo espelho pendurado silenciosamente em um quadro empoeirado.
Os olhos de um assassino encararam os meus, os círculos pretos e bochechas cavadas exalando o mal vazio e personificado que eu encarnava. Eu engoli o fio de veneno na minha língua, lembrando-me que eu teria que matar novamente hoje à noite, mesmo que fosse apenas um animal indefeso que caísse vítima de mim.
O arder em minha garganta não queimava com a perspectiva, mas manteve-se uma dor incômoda, facilmente ignorada nesses dias. A dor que eu sentia cada vez que eu fechava meus olhos obscureciam a sede, pois a cada piscar ela estava lá, implorando-me para voltar. Seus olhos… seus cabelos… suas mãos estendidas naquele último dia… Pare com isso.
Victoria… Eu tinha que manter a minha força se eu fosse acabar com a astuta vampira. A lua cheia pendurada fora da minha janela destacava minha negligência… ela estava minguante da última vez que cacei… há três semanas.
Minhas próprias palavras me assombraram novamente. “Há outras fomes. Fomes que eu nem sequer entendo…”
Não, eu não posso me deixar fixado em Bella, e joguei a toalha de lado. O poço sem fundo que existia onde meu coração costumava estar se alargara ameaçando empurrar-me para suas profundezas sombrias. Eu joguei a toalha de lado e me virei.
Próxima tarefa: o telefonema. Eu estava aqui por uma razão, não para relembrar.
Uma vez vestido, eu inspirei profunda e inutilmente, então peguei meu telefone celular. Ele tocou uma única vez.
“Edward, já estava na hora”, disse Alice, e minha mão tremia. Não era com ela que eu queria falar. Por que ela estava com o telefone de Carlisle?
“Onde está Carlisle?” Tinha acontecido alguma coisa?
“Ele está aqui, não se preocupe, mas eu queria falar primeiro. Você já está pronto para voltar?” Eu apertei meus olhos bem fechados, só para ver Bella rir livremente em minha mente.
“Deixe-me falar com Carlisle, Alice. Eu não tenho nada a falar com você.” Se eu não ouvir a voz de Carlisle em cinco segundos eu iria desligar. Ela iria dizer para eles que eu estava bem.
“Bella ainda está ferida, sabe?” Eu me encolhi com o som do nome do meu amor. “Ela não pode viver sem você tanto quanto você não pode viver sem ela. Você está empurrando-a para o abismo, Edward. Ela pode pular.” A voz dela estava sombria.
Eu conhecia Bella – ela nunca faria algo tão drástico. Não, ela tinha seu pai e faria qualquer coisa por ele. “Bella…” o nome dela quebrou na minha garganta. “Bella me prometeu. Ela vai cuidar de si mesma, por Charlie.”
“Talvez você deva apenas dar uma olhada nela, para ter certeza.”
Maldita. Ela tinha estado me observando de novo… vendo a tentação cruzar o meu caminho todos os dias. Se eu voltasse eu não seria capaz de partir novamente – eu sabia disso – e Alice também. Ela era implacável.
O tom perspicaz de sua voz me fez desconfiar. “Alice, se você voltou lá, então por Deus eu irei…”
“Não, eu não voltei”, ela cuspiu, “Mas minhas malas estão prontas. Eu estarei bem atrás de você quando você desistir.Você não é tão forte.”
“Eu estou apostando em Alice,” a memória de Bella murmurou.
Com uma careta, censurei a minha irmã e a mim mesmo. “Pare de ficar me vigiando. Você não deveria estar assistindo o futuro.” Uma imagem do passado sangrento de Bella passou pela minha mente, atiçando o fogo na minha garganta. A sensação me enojou e fortaleceu ao mesmo tempo. Eu não podia voltar atrás. Ela devia ficar em segurança.
“Isto está tudo errado, Edward. Você vai voltar – quanto mais você esperar mais dor você inflige em todos nós. Você não é o único sofrendo, sabe?”
Claro que eu sabia, por que ela acha que eu estava ligando? A única razão era dar a Carlisle e Esme um pouco de paz de espírito.
Seus cinco segundos acabaram. “Você vai me deixar falar com Carlisle ou não?” Eu a cortei enquanto deslizei meu polegar sobre o botão ‘Desligar’.
Ela não falou no telefone outra vez. “Ele quer falar com você”, disse ela.
“Edward”, Carlisle disse, e a dor se torceu no meu peito. Sua voz estava calma, quase calorosa, mas eu podia ouvir a preocupação por trás da fachada.
Eu retornei o cumprimento com a mesma falsa leveza. “Olá, Carlisle. Eu só quero que você saiba que estou bem”, eu menti. Pelo menos posso manter essa promessa… a promessa de me manter em contato com ele.
“Você está vindo para casa? Sua mãe está muito preocupada com você.” A máscara caiu com um estrondo quase audível, a tristeza em sua voz rasgando a minha consciência.
“Não, eu tenho uma nova pista, mas desde que eu tinha tempo, pensei em dar notícias.”
“Obrigado.” Ele não pôde conter um suspiro desapontado. “Onde está você? Nós poderíamos encontrá-lo, apenas pela tarde. Esme sente muito sua falta.”
No silêncio, ouvi a sua esperança, e isso só aumentou a dor. “Talvez, mas Victoria é extremamente móvel. Ela não fica em um lugar por muito tempo.” Eu deveria simplesmente dizer não, mas eu sabia que era Esme que tinha realmente feito esse pedido. Esmagar suas esperanças era demasiadamente brutal. “Eu vou te ligar assim que surgir alguma oportunidade.” O silêncio continuava, me empertiguei para a próxima pergunta. “Como está minha mãe?”
Carlisle se moveu; papéis farfalharam ao fundo. “Ela está… lidando com o fato. Rosalie e Emmett se decidiram por um casamento pequeno para mudar um pouco, se você pode acreditar nisso.” Eu podia ver o sorriso que devia estar quebrando em seus lábios. “Nós todos fomos para Niagara e ficamos encharcados enquanto diziam seus votos sob as rajadas das Cataratas”. O som do seu sorriso desapareceu. “Jasper ficou no seu lugar.”
Outra facada – eu fui o padrinho de Emmett em cada um de seus muitos casamentos com Rosalie. “Bom, já era tempo de ele começar a arcar com alguns dos encargos matrimoniais”, eu disse casualmente.
Ele limpou a garganta desnecessariamente. “Aham, sim. Ele saiu para caçar com Esme agora.”
Meus dedos encontraram a ponte do meu nariz. Esme não estava lidando muito bem com isso, nem Carlisle se Jasper tinha que ter uma sessão um-a-um para acalmar minha mãe. Eu continuei, no entanto. “Por favor, dê a Rose e Em meus parabéns.”
“Eu darei, quando eles ligarem. Eles escolheram passar a lua-de-mel na Europa desta vez, Paris, eu acho.” Toda a emoção abandonou sua voz. Não era de se admirar que Esme estava tão chateada; eu não fui o único que a tinha abandonado.
Carlisle não desistiu. “Edward, por favor, esta caçada é…”
“Muito necessária”, eu terminei. Eu não poderia ir para casa, a minha presença iria apenas aumentar a tristeza de Esme. “Victoria é uma selvagem sem escrúpulos e tem que ser parada. Se você tivesse visto a sua vítima mais recente, você concordaria. Ele tinha doze anos, Carlisle, ainda vestido em seu traje de Halloween.” Eu tinha visto o corpo através da mente dos investigadores na cena, os poucos que poderia tolerar a visão, então segui seu cheiro de volta para o bairro sossegado de onde ela tinha roubado o menino enquanto ele pedia doces-ou-travessuras antes de eu perceber que estava seguindo a trilha errada.
O silêncio durou mais do que eu poderia esperar. “Então deixe-me ajudá-lo. Juntos podemos detê-la, e você estaria livre para voltar para casa.”
Eu não podia ler seus pensamentos, mas seu tom de voz era clara. Ele mudou de time e estava jogando pelo time Alice. A traição doía, mas não consegui reunir nenhuma raiva, não enquanto ele trabalhava para juntar os pedaços da bagunça que eu havia feito. “Não. Esme precisa de você mais do que eu. Victoria está sozinha, eu posso lidar com ela.”
Carlisle engoliu seco por hábito. “Edward, eu acho que você deveria reavaliar a sua situação… e sua decisão.”
Mais uma vez eu o ignorei, pelo menos a autoridade que ele tentou me pressionar. “Não. A decisão está tomada. Nada mudou.” A conversa tinha acabado. “Te ligarei de novo quando eu puder. Mande meus saludos à Esme e à família”, eu murmurei, desejando que eu pudesse voltar no tempo para minha família e dar-lhes a felicidade que eles tiveram um ano atrás. Eles não mereciam sofrer por meus erros.
Ele soltou um suspiro inútil, derrotado. “Muito bem. Se cuide, filho. Amamos você”, disse ele tristemente.
A memória que suas palavras evocaram me pegou de surpresa.
Um pedaço de papel amarrotado colocado na mesa ao lado de uma adormecida Bella. Eu cuidadosamente desdobrei o pequeno quadrado, observando como as dobras estavam desgastadas e à beira da ruptura. Quantas vezes ela leu as duas simples palavras que ficavam em minha mente? Cuide-se.
“Cuide-se,” Bella havia murmurado em seus sonhos – e agora repetida na minha cabeça. “Por Edward.”
Eu desliguei o telefone, a visão do cabelo emaranhado e sorriso sonolento de Bella remanescentes na minha visão desfocada.
“Por favor, cuide-se,” eu sussurrei, incapaz de dizer o nome dela.
Talvez você deva apenas dar uma olhada nela. As palavras de Alice ecoaram em minha mente, e eu quase esmaguei o telefone, tentando forçar o meu pensamento de volta ao presente. Peguei o laptop, com a intenção de procurar mais crimes em Minneapolis, mas meus dedos não obedeceram. Os dominós em minha mente se inclinaram…
Só uma rápida visita. Antes que eu percebesse, eu estava olhando para um mapa com uma linha azul desenhada a partir de Hamel para Forks. 1.790 milhas… eu poderia pegar um vôo mais cedo e estar de volta antes que Charlie voltasse da pesca. Não, não, não.
O computador caiu de minhas mãos. Antes de atingir a colcha de poliéster eu me enrolei no canto, meus joelhos puxados para cima apertados contra meu peito. Os dominós na minha cabeça tombados, cada um derrubando o outro, caindo com um baque suave que se assemelhava a um batimento cardíaco humano. Os batimentos cardíacos dela. Era tudo que eu poderia fazer para me impedir de correr para fora da porta.
Alice havia enfatizado que Bella estava sofrendo – ela tinha visto alguma coisa? Bella estava no hospital mais uma vez?
Não, minha irmã estava apenas me atraindo com insinuações vagas… Ela queria uma desculpa para ela mesma voltar. Bella estava a salvo – salvo de mim – com uma vida livre de assassinos míticos e demônios imortais. Eu não podia voltar atrás. E eu tinha prometido… minha palavra não valia nada?
Meus dedos deslizaram pelo meu cabelo antes de apertar meus punhos. Eu tinha cometido um outro erro – fazer uma pausa da perseguição foi uma idéia idiota. Sem a necessidade de me concentrar no cheiro, nas pistas, a minha mente foi direto para o lugar que era proibido: direto para Bella.
Enquanto minha testa batia em meus joelhos, meu coração foi até onde Alice parou, guiando-me de volta para o meu desejo… meu amor… minha vida…
“Eu não gostei. Não vê-lo. Isso me deixa ansiosa, também,” Bella disse suavemente, ficando vermelha frente aos meus olhos.
Caí mais profundamente no desespero que eu estava evitando. O espaço parecia fechar-se sobre mim enquanto ela me chamava, segurando seus braços abertos. Em minha mente seu calor me cercava, se misturando com seu cheiro. A sensação era tão real que quando abri meus olhos eu esperava que o quarto estivesse cheio de frésias e chamas.
Eram as chaves em meu bolso que queimavam, me chamando. Seria tão fácil… Eu me imaginei em pé na frente de sua casa, subindo pela janela e a encontrando dormindo, como eu tinha feito tantas vezes antes. Tão pacífica, tão frágil… mas não! Arremessei as chaves do outro lado da sala, juntando-as à parede acima da cabeceira da cama.
Uma bela demonstração… Era a sua paz, sua beleza, sua delicada fragilidade que tinham que me manter afastado. A única coisa que eu poderia trazer à ela era a morte, dor, ou pior, a condenação.
Bella ainda está ferida… a voz de Alice intrometeu novamente. O pensamento de Bella chorando por minha causa arrastaram meus olhos até a porta. Abracei fortemente minhas pernas, impedindo-as de me trair. Ela iria viver e seguir em frente. Na verdade, Bella provavelmente já o tinha feito, Alice era uma mentirosa mais perfeita do que eu. Era isso… Alice poderia ter visto Bella queimando a língua em um biscoito quente, nada mais, e exageraram a história para meu benefício.
Lentamente eu balançava, fora de sincronia com a música rap na TV, tentando me puxar de volta da beira da tentação. Não foi até o pôr do sol, 12 horas depois, que eu levantei, peguei minhas coisas e saí correndo. O motel estava enchendo-se para a noite, e eu escapei da minha prisão auto-imposta antes que os pensamentos das pessoas felizes, ocupadas e vívidas pudessem me contaminar.
Conferir. Se alimentar. Então patrulhar os mais prováveis campos de caça de Victoria. Minha lista mais recente se formou facilmente. Uma nova pilha de dominós a acompanhou, e eu recomecei, fingindo que a minha era uma vida que valia a pena viver.
Deixei a chave do quarto na caixa de check in, preparando o primeiro dominó em minha mente antes de vislumbrar a data no topo do jornal que sobrou solitário. A ironia me tirou o fôlego.
Hoje era dois de novembro, Día de los Muertos.
Dia dos Mortos.

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