domingo, novembro 14, 2010

Coalescence - Capítulo 20: Coisas Escondidas

Nota da Autora: Esse capítulo contém uma cena do passado de Jasper que eu criei quando estava escrevendo Singularity. Eu estava tentando descobri a razão pela qual Jasper poderia ser tão malvado, e então, se transformar em alguém tão bondoso se vampiros ficam congelados quando se transformam. Minha única resposta era que Jasper era um homem muito bondoso com um defeito fatal. Outros autores viram caminhos similares para ele, todos chegamos a uma conclusão parecida quanto ao mistério que é Jasper.

[Alice]

Jasper finalmente se rendeu a mim. Seu corpo se curvou lentamente para se moldar ao meu, e seus braços me envolveram com uma força desesperada.

“Desculpe-me,” ele sussurrou no meu cabelo várias vezes.

“Não foi sua culpa, Jasper,” eu disse. Eu lhe mandei amor e confiança, esperando que isso fosse ajudar.

“Desde a primeira vez que você viu esse clã, você queria estar aqui. Você merece estar aqui, mas eu não possso ser bom o suficiente para eles. Eles vão descobrir sobre mim, e eles não me deixarão ficar.”

Eu me coloquei em seu colo e envolvi minhas mãos ao redor de seu lindo e torturado rosto. “Eles não estão com raiva, estão?” Ele não respondeu de primeira, mas olhou atentamente para mim, procurando por algo.

“Estão?” Perguntei novamente, preocupada que Carlisle não tivesse sido verdadeiro.

“Não,” ele disse finalmente. “Não, nem mesmo Emmett. Rosalie era a única brava, mas isso é normal para ela. Eles ficaram surpresos, mas não com raiva. Eles deveriam ter ficado furiosos.”

“Mas não ficaram,” Eu disse suavemente. Comecei a passar meus dedos em seu cabelo emaranhado. “Eles não ficaram porque eles sabem o que eu sei, que vale a pena salvar você, Jasper Whitlock.”

“Eu não te mereço, Alice, nunca vou merecer.”

“E eu nunca, jamais, vou te merecer,” eu disse fervorosamente, esperando que dessa vez ele fosse acreditar em mim. Por que ela não conseguia ver o que ele significava para mim? Por que ele não conseguia ver o que ele era?

“Você merece alguém que possa viver com essas pessoas e ser um deles.”

“É esse o problema? Você não acha que pode ser um deles?”

“Eu sei que não posso!” Sua voz estava cheia do ódio que eu podia sentir pulsando através dele. “Eu quero isso Alice. Eu quero ser igual a eles. Eu quero isso mais do que você imagina, mas toda vez que começo, desliza pelos meus dedos.”

“Jasper, o que desliza pelos seus dedos? O que você não esta me contando?” Eu perguntei desesperada.

Ele respirou fundo, e pareceu tremer enquanto soltava o ar lentamente. “Eu costumava ser capaz de me controlar. Eu podia manter o monstro que eu era longe do homem que eu estava aprendendo a ser. Eu sabia que me juntar ao Cullens seria difícil porque eu ainda preciso muito de sangue humano. Eu não percebi que teria que lutar contra cada momento maléfico da minha vida para estar com eles.”

“Não entendo, querido. Por que você tem que lutar?” Eu disse as palavras com tanto amor quanto pude. Eu precisava entendê-lo. Ele olhou para mim, e eu pude sentí-lo. Não as emoções vindo dele, eu o senti dentro de mim. Agora eu podia sentir o buraco nele. Ele estava finalmente me deixando compartilhar de sua dor.

Me aproximei dele, direcionando meu amor e minha devoção para aquele buraco na tentativa de preenchê-lo.

“Estou lutando contra eu mesmo,” ele admitiu com uma voz áspera. “Estou lutando contra o homem que eu era para poder me tornar o homem que quero ser. Estou perdendo.”

“Essa luta não é só sua para perder. É minha luta também. Você não é mais um soldado solitário, Jasper, e já é hora de você me deixar ajudar.”

“Ela está certa,” disse uma voz gentil atrás de nós. Carlisle saiu de detrás das árvores. Ele derrubou as botas de Jasper nas suaves folhas no chão da floresta. O som pareceu silenciar a floresta ao nosso redor.

Jasper olhou para as botas, se recusando a encontrar o olhar de Carlisle.

“Confie na sua companheira,” Carlisle disse. Jasper fechou seus olhos. Eu olhei para Carlisle confusa.

“Alice, você disse que encontrou vários soldados em seus anos a procura de nós. Algum deles saiu da guerra ileso?” Carlisle me perguntou.

“Não, é claro que não,” respondi.

“Você prometeu,” Jasper sibilou, ainda mantendo seus olhos fechados.

“E pretendo manter essa promessa. Eu simplesmente preciso que você me ouça, e que Alice entenda o que eu estou prestes a dizer,” Carlisle explicou. “Jasper, você não está destruído. O que você esta enfrentando está acontecendo porque você está finalmente se curando.” Ele virou o rosto para mim, olhando atentamente para mim como se ele estivesse disposto a me fazer entender algo.

“Quando os soldados voltam para casa, eles voltam com várias cicatrizes. Algumas estão do lado de fora, mas a maioria delas estão por dentro, enterradas lá no fundo, e nunca foram cuidadas. Como feridas em decomposição, elas apodrecem até destruir o homem que as carrega. Esses jovens soldados voltam para casa e tentam esquecer o que eles viram e o que eles fizeram, só para descobrirem que eles não podem ter uma vida normal até que todas as feridas estejam curadas. Se eles ignorarem as feridas internas, eles irão morrer lentamente por dentro. Se eles tentarem se curar e retornarem para suas vidas, seu passado volta para destruí-los. Assim enquanto eles mantenham isso em segredo, mantenham isso preso lá dentro, eles não podem curar. Nenhum homem consegue fazer isso sozinho.

“Você está certa, Alice; Jasper não está mais sozinho, e é hora de chamar a cavalaria. Jasper realmente está lutando consigo mesmo. A família está preparada para ajudar, mas não podemos fazer nada até que Jasper nos permita.” Jasper não se mexeu.

“Eu não entendo,” eu disse novamente, mas era apenas parcialmente verdade. Eu entendia que o meu Jasper estava curando. Entendia que ele estava lutando contra algo. O que eu não entendia era o que fazer.

“Confie na sua parceira, Jasper,” Carlisle disse novamente, e então foi embora.

“Jasper?” Minha voz era um sussurro. O que eu não vi nele? Como eu falhei com ele?

O borbulhar do rio encheu o ar ao nosso redor como um riso sarcástico.

“Não é você,” ele disse finalmente. É claro que ele diria isso. Ele nunca deixaria eu me culpar por machucá-lo.

“Jasper Whitlock, o que está te machucando?”

“Eu não queria que você soubesse. Eu não queria arruinar isso pra você.”

“Arruinar o que?”

“Seu mundo. Essa vida. Tudo. Eu nunca quis encontrar os Cullens. Nunca. Eu não posso suportar a idéia de dividir você. Eu odeio que aquele leitor de mentes te conhece melhor do que eu. Odeio estar ao redor de outros que têm tanto autocontrole quando eu sei que está além de mim fazer o que ele fazem. É o que eu venho te dizendo, mas você não escutava.”

Prendi meu fôlego. Todos os seus olhares sofridos, todas as declarações sarcásticas, toda a demora tinha sido porque ele estava realmente sofrendo. Eu tenho sido tão egoísta que não pude ver. Minha cegueira fez isso.

“Jasper, eu sinto-“

“Não, não faça isso. Ainda não. Eu pensei que assim que chegasse aqui, eu iria odiar isso tanto que eu poderia levantar muros e agüentar. Eu poderia lidar com o ódio. Eu quero odiar aqui, mas não consigo. Esse é o problema.” Ele abriu os olhos e me olhou com uma feição desesperada. “Não sei se consigo explicar, mas quando eu comecei a gostar de estar com o Cullens, ou a maioria deles, os muros que eu construí, desmoronaram. Eu não tenho mais meu ódio para me manter a salvo de meu passado. Você me curou, Alice. Você me trouxe de volta a vida, e eu quero ficar vivo. Quero viver de novo, mas para viver novamente, eu tenho que lutar. Tenho que lutar contra o monstro que eu era para ser o homem que eu sou.”

“Suas memórias,” eu disse para mim mesma.

“Você foi o suficiente para me fazer completo,” Jasper disse, seus olhos fixados em mim. “Assim que estávamos sozinhos, eu estava completo, mas eu era um homem inteiro afundando na areia movediça. Meu passado me suga de volta, e eu não posso fugir dele. Eu não posso ser o homem que você quer que eu seja porque o outro homem, o monstro impiedoso que matou tudo que estava em seu caminho, quer destruir o que eu me tornei. Ele quer ter controle.”

“Se nós formos embora, você estará inteiro de novo, mas não curado?”

“Eu podia ir embora e me sentir em paz com você, mas nunca estaria livre do meu passado. Ele está solto, e eu não sei como prendê-lo de volta.”

“Como os soldados que não conseguem se livrar dos pesadelos,” eu disse. Olhei em seu lindo rosto e vi cansaço lá. Eu não podia imaginar o tipo de luta que causaria que um vampiro parecesse exausto.

“Estou cansado de contê-los, e estou com medo do que irá acontecer se eles vierem à tona novamente como aconteceu hoje. Eu não consigo me livrar deles, e não consigo viver com eles. Eu preciso ser curado, mas não sei como.”

“Carlisle disse para confiar em mim. São suas memórias que você não confia a mim, não é?”

“Meu passado é pior do que você imagina. Eu não quero que você veja o passado que Edward viu, o homem que ele me viu ser,” Jasper disse, desviando seus olhos de novo. Ele estava sentado, curvado como se fosse uma criancinha.

“Eu já vi o seu passado.”

“Não todo.”

“Você não quer que eu saiba da sua dor,” eu disse, puxando seu queixo e o olhando nos olhos.

“Eu não quero que você saiba quem realmente sou.”

“Eu sei quem você realmente é, amado.” Sussurrei as palavras e gentilmente beijei seus olhos e sua boca. Me deixei sentir o beijo, sentir o beijo e o amor que estava junto dele para que Jasper soubesse. Enquanto meus lábios moveram eternamente contra os dele, puxando-o, eu deixei meus dedos traçarem as cicatrizes que ele odiava. Lentamente desabotoei sua camisa, tomando meu tempo com o material arruinado. Então tracei as cicatrizes através de seu corpo. Meus dedos as conheciam, cada uma era um pedaço precioso de um quebra-cabeça que agora eu precisava montar. Seus lábios começaram a se moverem contra os meus, e suas mãos gentilmente traçaram meu rosto. Olhei para cima, para vê-lo me observando com aquele olhar intenso que sempre me fazia vibrar de amor por ele. Eu lentamente me afastei, nunca tirando meus olhos dos dele.

“Você não pode viver com os segredos. É isso que o Carlisle estava dizendo, não era? Igual à todos aqueles soldados, você vai lutar contra seu passado até que você esteja em paz com ele.” Eu o beijei de novo, dessa vez mais forte para que ele soubesse o quanto eu o amava, que eu ainda o queria. “Eu falhei com você, Jasper. Eu me precipitei com todos os meus planos e realmente não vi suas necessidades. Eu realmente sinto muito.”

“Não é você. Sou eu.”

“Não existe mais um ‘você’ ou ‘eu’,” eu disse, o beijando novamente. “Apenas existe ‘nós’, nós somos um só. Eu não posso viver sem você, e me recuso a tentar. Não posso viver sem diminuir sua dor, porque é minha própria dor. Eu posso te sentir, Jasper. Não importa o quão bem Edward pode saber meus pensamentos, você é meu coração.”

Os músculos do rosto de Jasper se relaxaram um pouco, mas ele parecia muito mais cansado agora.

“Apenas me diga o que te deixou triste lá no penhasco. Apenas me diga alguma coisa que Edward viu.”

Sentamos em silêncio por um momento. O silêncio o envelheceu, e por um momento, eu vi todos os oitenta anos de sua vida em seu rosto. Então, com a mesma rapidez, ele suspirou, e os anos se foram com sua respiração. Ele olhou para mim e então concordou, me puxando para o seu abraço. Ele me segurou apertado, e eu me segurei nele.

“Eu te contei o que Maria fez quando eu acordei da queimação. Ela me levou até onde meus próprios homens estavam feridos e indefesos. Eu não pude me controlar para não me alimentar deles. Eu queria ir embora, mais do que qualquer coisa eu queria correr daquele lugar, mas havia muito sangue…” Sua voz quebrou, e meu coração silencioso se apertou de dor.

“Quando os homens estavam mortos, Maria simplesmente jogou uma lamparina sobre as camas de feno e riu. Eu queria matá-la, eu avancei contra ela, mas ela tinha vários outros com ela. Ela nos levou de volta para a casa que ela usava como base. Naquele tempo, ela estava usando o caos da guerra para ajudá-la a recuperar o seu território perdido e seguir para o Texas.

“A casa estava em estado constante de caos, e os recém-nascidos brigavam constantemente. Eu tinha mais controle de minhas emoções do que a maioria, e eu inconscientemente comecei a afetar as emoções do outros. Maria imediatamente viu que eu tinha um dom e, apesar dela não entender completamente, ela sabia da vantagem que meu dom lhe dava. Isso, e minha habilidade natural de lutar me fizeram ser insubstituível. Ela travava batalhas entre nós mesmos para eliminar os lutadores mais fracos, e eu ganhei cada luta. Eu gostava da sensação de conquista que o poder de vencer me dava, e amava os elogios que Maria jogava em mim. Ela me manteve por perto e começou a me alimentar mais, tentando me persuadir a ser leal. Mesmo assim, matar doía. Minha pequena relutância não era… aceitável para ela.

“Ela me enviou numa missão uma noite. Ela me mandou para o nordeste de Austin para ver se a cidade era comandada. Eu pensei que ela estava me dando outra honra, mas ao invés disso, eu estava correndo na direção de uma armadilha que Maria tinha planejado.”

Jasper parou, a monotonia de sua voz parou abruptamente com a última palavra, e eu podia sentir a vergonha e a dor de suas memórias se inchando dentro de mim. Nós tínhamos mudado de sentir um do outro para realmente ser um ao outro. Eu tentei pegar essa dor, para aliviá-lo, mas era esmagadora. Ele estava tão machucado, que eu estremeci pela dor.

Ele imediatamente se afastou e olhou para mim preocupado.

“Não.” Minha voz era firme, apesar da acentuada dor que eu sentia por dentro. “Não pare. Eu quero saber disso, para entender.” Eu o beijei de novo, gentil e lentamente, então recostei novamente contra ele. A dor era pior aqui, mas eu sabia que era aqui que ele precisava de mim. Ele respirou fundo várias vezes antes de continuar, e a vergonha e o remorso do que ele estava a ponto de contar caiu em mim como chumbo.

“Eu fui cerca de duzentas milhas a noroeste do Rio Guadalupe. Lá existem formações de pedra em pequenos vales que estão escondidos do resto do mundo, e foram as pedras que desencadearam a memória. Elas me pegaram ali, no meio das pedras. Maria conhecia o líder de um clã que usava esse lugar como base, e ela o tinha oferecido sangue em troca de sua ajuda. Havia quatro deles, eu parti um no meio antes que os outros pudessem colocar a mão em mim, mas eu não era forte o suficiente para lutar com todos. Eu nunca sou forte o suficiente.”

Eu sentei direito. “Como você pode dizer isso?! Jasper, eu-“

Ele fechou os olhos e colocou um dedo gentilmente sobre minha boca. “Deixe-me contar, minha amada.” Eu assenti, mas desta vez quando me inclinei nele, eu o segurei no pescoço, o puxando apertado contra mim.

“Eu estava lá por quase duas semanas, preso contra as pedras do vale. Eles levaram muito tempo para me fazer falar. Pelo menos Isso é algo, eu não quebrava facilmente.” Sua voz era severa, eu o abracei mais apertado com mãos trêmulas. Eu não podia bloquear as imagens de figuras escuras machucando meu Jasper de virem à mente. Eu comecei a tremer de medo e raiva, mas eu o abracei firme.

“Eles mantinham um grupo de homens e mulheres, presentes de Maria, que comiam na minha frente, me provocando com o sangue enquanto eles mordiam e rasgavam meu corpo. Doze dias de inferno. Alguns dias, eles simplesmente colocavam um cadáver sangrando por perto e faziam eu me contorcer queimando em agonia. Em outros, ele me seguravam e mordiam todo o meu corpo. Eles tiravam cada dedo da mão, cada dedo do pé, e colocavam de volta. Eu nem mesmo sei quantas vezes eles me desmembraram. No fim, eu estava quase louco de sede e dor. Eu os odiava de um jeito que nunca nem sabia que era possível. Eu queria nada mais do que matar todos eles. Ainda me lembro do dia que Maria e seu grupo vieram e me resgataram. Ela matou todos eles é claro, mas eu não vi. Eu só me lembro de correr para os três últimos humanos em cativeiro e me esbaldando em seu sangue. Eu estava totalmente selvagem. O sangue deles, a alegria de saboreá-lo, me curou de um jeito que eu não sabia que era possível. Toda vez que eu bebo, eu sinto aquela cura. Maria veio até mim, me acalmando e me oferecendo mais sangue. Ela me segurou enquanto eu mancava, e trouxe os humanos para mim ela mesma. Ela me afagou e me beijou e me disse que eu era forte. Ela me disse que me amava e só queria me manter seguro. Ela disse que precisava de mim. Eu sempre quis poder, e ela me disse que eu teria isso com ela.

“Eu a ajudei de todos os jeitos. Aceitei o amor dela e as constantes batalhas sem questionar. Cada mentira que ela contou, cada toque, cada morte – eu acreditei em tudo aquilo.”

Eu queria dizer algo para ele, qualquer coisa que aliviasse a vergonha e dor que pulsava em nós dois. Queria lhe dizer que eu ainda acreditava nele e o amava, mas eu não conseguia dizer nada através de meus soluços que faziam ambos tremerem. Com um grande esforço, eu finalmente coloquei para fora a única coisa que eu sabia dizer.

“Obrigada… por confiar em mim.”

Ele balançou sua cabeça, tentando transmitir algo. Olhei para ele, mas ele se recusou a encontrar meus olhos. Sua respiração saia cortada. “Eu sinto tanto… Eu nunca sou… forte o suficiente…”

“Sim, nós somos.”

Ele respirou fundo e escondeu seu rosto em meu pescoço.

Nós,” ele suspirou.

“Sim, querido, nós. Nós somos para sempre. Somos eternos. Somos mais forte do que qualquer coisa,” eu suspirei.

“Você não esta envergonhada?” Seus olhos voaram para os meus e então desviaram.

“É disso que você tem medo? Você pensou que eu ficaria com vergonha de você?” Coloquei minhas mãos ao lado de seu rosto e o forcei a olhar para mim. “Jasper Whitlock, não há vergonha em ser machucado pelos outros. Você não fez nada errado. Você é o homem mais incrível que eu já conheci, e a pessoa mais forte que eu conheço. Eu sou e sempre serei orgulhosa de você.”

De repente, suas mãos estavam por todo meu corpo. Minha camiseta foi feita em pedaços. Ele me beijou com uma necessidade desesperada. Eu nunca tinha sentido tanta necessidade dele. Era como se a confissão do segredo tivesse deixado um buraco nele, e ele estava tentando preenchê-lo comigo.

Caímos no rio, nos agarrando e rasgando tudo que separava nossos corpos. Nossas bocas e mãos estavam em todo lugar, famintos com a necessidade de tocar e fazê-lo nosso.

A água límpida do rio corria por nós, levando a lama e a sujeira, e de alguma forma lavando as memórias. Quando a sujeira foi embora, Jasper me levantou e caminhou para as suaves folhas no chão. Ele deitou sobre mim, já não aparentando mais cansaço. Seu sorriso ela aquele de um prisioneiro que experimentava a liberdade.

Desta vez, quando as cores apareceram , elas não fluíram entre nós, elas se levantaram dentro de nós e nos completou. Nós éramos um só.

* * *

Nós não ficamos por perto da casa no dia que os móveis chegaram. Jasper deixou claro que ele estava nervoso de estar perto de humanos. Eu podia dizer pelo rosto de Edward que ele estava falando a verdade.

Os dias entre o nosso retorno de Monte Adams e a chegada dos móveis foram preenchidos de uma calma estranha. A família foi educada e amável, mas as provocações de brincadeira tinham ido embora. Em seu lugar havia uma cuidadosa preocupação. Trabalhamos juntos para terminar o quarto de Edward e ocupá-lo com os móveis, mas a conversa ao nosso redor era cautelosa, como eram as ações.

Jasper aguentou o óbvio desconforto, mas isso o afetava. Ele estava muito cuidadoso agora. Todos estavam.

Nós caçamos enquanto os outros arrumavam nosso quarto, e estar afastado disso tudo o ajudava a relaxar um pouco. Seus olhos ainda estavam assombrados enquanto ele derrubava um alce. Eu sabia que não demoraria muito até que ele precisasse se alimentar de um humano.

Enquanto caçávamos, eu continuei tendo as visões mais estranhas da família. Eles pareciam estar uns nos braços dos outros, se retorcendo contra uma coisa prata. Até Carlisle e Edward tentaram, isso era muito estranho de assistir.

Havia risadas na casa quando voltamos. O rugido de felicidade de Emmett fez Jasper se encolher enquanto nos aproximávamos. Ele sabia que aquela risada só estava ali porque nós tínhamos saído. Eu me perguntei se ele alguma vez seria capaz de rir abertamente e reivindicar essa felicidade como sua.

Mesmo assim, quando entramos, a risada não parou.

Entramos e encontramos Emmett e Rosalie completamente cobertos no que parecia ser uma mola fina que estava enrolada nos dois.

“Ei, vocês voltaram!” Ele no cumprimentou, e começou a andar em nossa direção. A coisa de mola não quebrou como eu pensei que iria, simplesmente esticou.

“Se você quebrar, você perde,” Esme avisou.

“Ah, é,” Emmett sorriu, e então voltou para o lado de Rosalie. Rosalie nem se mexeu. Ela parecia que estava agüentando qualquer que fosse o jogo que eles estavam jogando com uma graça entediante.

“O que vocês estão fazendo?” Jasper perguntou com um tom suave. Olhei para ele, e vi curiosidade em seu rosto. O humor na sala devia estar mais relaxado do que eu percebi.

“Nós descobrimos a alegria do Slinkys (off: mola maluca),” resmungou Rosalie. Ela rolou os olhos.

Eu tive uma pequena visão de uma cachoeira de metal descendo as escadas.

“Isso pode funcionar,” disse Edward concordando. Ele caminhou até uma parede coberta com pilhas de caixas azuis e começou a puxar os tubos de metal para fora.

“Não são tubos, são molas,” ele disse olhando para mim, e então ele deixou uma cair no chão. Era lindo.

“Por que Rosalie e Emmett estão cobertos com eles?” Perguntei, olhando para trás para os dois vampiros que estavam tentando cuidadosamente se desembaraçarem.

“Bem, Edward enrolou uma dessas coisas ao redor de Emmett, e era tão divertido vê-lo tentando se desembaraçar que nós pensamos que isso poderia fazer um bom jogo. É mais difícil do que parece porque as molas são muito frágeis,” Esme disse com um sorriso infantil. “Essas coisinhas tem muito potencial para brincar.” De repente seu comentário inocente tomou um significado totalmente diferente quando eu a vi com Carlisle enrolados em nada além de molas. Eu tremi e Edward fez um barulho como se fosse vomitar. Eu preciso trabalhar nisso.

“Por favor, não faça isso,” Edward sibilou. “Alice teve uma idéia sobre usar todos eles para fazer uma cachoeira de molas na escada,” ele disse em voz alta.

“Todas elas?” perguntou Emmett. “Seria divertido, mas não iria estragá-las? Eu quero guardar algumas dessas para mais tarde.”

Eu de repente tive uma visão de molas cobrindo Rosalie e Emmett. Argh! Isso está ficando ridículo. Então uma visão de Jasper e eu bem enrolados nessas coisas me atingiu. Vi Jasper observando Rosalie e Emmett se sacudindo e se desenrolando. Ele tinha um brilho perverso nos olhos. Pobre Edward precisaria passar a noite bem, bem longe.

“Sempre passo,” ele sussurrou com uma careta.

“Por que todos não guardamos alguns para mais tarde?” Carlisle sugeriu diplomaticamente. Ele pegou seis caixas e correu pro andar de cima. Jasper o seguiu rapidamente.

“Espera, espera,” chamou Emmett enquanto ele se abaixava para enroscar a mola em si mesmo. “Precisamos de algumas, também.” Quem imaginaria que um simples arame poderia fazer vários vampiros tão felizes?

Edward estava passando as mãos pelo cabelo e olhando atentamente para fora da janela.

Decidi seguir Jasper escadas acima. Eu quase tinha me esquecido sobre os novos móveis novos. Entrei no quarto e fiquei maravilhada. Os móveis que encomendamos estavam colocados perfeitamente no quarto, e na grande cômoda de Jasper, Esme tinha colocado um grande vaso com suas rosas. O cômodo estava adorável e cheirava maravilhosamente bem, mas foi o carinho que eles colocaram que o fez realmente lindo. Outros dois vasos de margaridas e lírios estavam de cada lado do espelho que estava preso acima de minha cômoda. Ela colocou um paninho em baixo deles, cada um de crochê e feito à mão. Nas paredes, ela pendurou três das pinturas que eu tinha admirado. Ela tinha feito isso por nós.

“Eles fizeram um ótimo trabalho,” disse Jasper suavemente. Seu rosto estava cheio da mesma gratidão que o meu. Ele caminhou até o closet e colocou as molas dentro, só para tirar uma bota de madeira. Parecia entalhada à mão e ainda cheirava a óleo e cera.

“Pensei que você poderia usar isso,” a alegre voz de Emmett surgiu. Nos viramos para vê-lo sorrindo para nós da porta.

Jasper olhou para ele por um momento antes de finalmente simplesmente dizer, “Obrigado.” Eu sabia o que o estava incomodando. Ele tinha tentado matar Emmett a não menos que cinco dias atrás, e ainda assim o vampiro tinha feito um presente para ele.

“Você gostou das flores?” perguntou Esme. Seus olhos brilharam. “Eu sei que você não gosta de arranjos complicados, então fiz o paninhos de crochês simples. As rosas me lembram de você.” Ela entrou no quarto e olhou ao redor, e eu me joguei nela.

Nós tropeçamos para trás, rindo enquanto nos abraçávamos. “Ainda não estou acostumada com isso,” ela sorriu e me abraçou de volta. “Rosalie me ajudou a escolher as pinturas,” ela disse quando eu finalmente a soltei.

Eu me virei para minha irmã e ela imediatamente levantou suas mãos. “Não. Estou bem sem um abraço. Apenas diga ‘obrigada,’ e podemos ir brincar com as molinhas.”

Estraga prazeres.

“Obrigada,” eu disse conforme as instruções. Ela sorriu, assentiu e saiu. Os outros a seguiram. Permaneci por um momento para olhar para o quarto. Eu o tinha escolhido, mas eles pegaram minhas escolhas e fizeram disso algo especial. Sem sequer perguntar, eles sabiam o que eu queria. Eu estava mais do que agradecida. Olhei para o espelho por um momento, vendo o adorável arranjo que Esme tinha criado ali, e então meu reflexo mudou. Como antes, há muito tempo atrás, eu estava olhando para meu reflexo no futuro. Eu era uma noiva, usando um vestido branco de renda e um véu. Além de mim, minha irmã e minha mãe estavam me arrumando. Eu parecia radiante no dia do meu casamento.

Eu era uma noiva!

Como isso poderia ser possível? A visão sumiu, e eu lentamente me virei do espelho.

“O que foi?” Jasper perguntou calmamente. Olhei para ele. Ele não queria se casar, eu tinha certeza disso. Ele não veria utilidade nisso. Ainda assim, eu seria uma noiva.

“Eu acabei de ver um vislumbre do futuro,” eu disse, contando da verdade só o que me atrevi. “É lindo, Jasper, verdadeiramente lindo.” Sorri para ele e me perguntei como isso iria acontecer. Eu nunca o contaria. Nunca. Esta tinha que ser a escolha dele, tinha que ser algo que ele queria.

“Vamos lá nos divertir com as molas?” Perguntei.

“Podemos fazer isso aqui?” Seu sorriso torto me pegou desprevenida e eu o beijei.

“Pelo amor de Deus, esses são brinquedos de crianças!” Edward gritou lá de baixo.

Edward fugiu de casa quando todos nós íamos para a cama. Coitadinho. Eu precisaria olhar no futuro para ele. Com certeza havia alguém lá. Com certeza, ele não ficaria sozinho por muito mais tempo. Por mais irritante que ele fosse, ele era realmente uma pessoa boa. Eu não podia imaginar ouvir todos nós, saber todos os nossos segredos, e ainda assim nós tratar como iguais. Ele nunca pareceu usar seu dom contra nós. Ele nunca falou do fardo que deve ser, e ainda assim eu sabia, ah como eu sabia, que isso era um grande fardo para carregar. Eu acho que até Jasper estava começando a respeitar aquele aspecto dele.

Eu nunca teria pensado que molas malucas podiam ser tão divertidas. Claro, nós as destruímos totalmente, mas o jogo que Jasper e eu jogamos valeu muito o preço. Os pobres brinquedos se sacrificaram por uma causa muito boa.

Jasper e eu testamos completamente a nossa coma, verificando o limite de sua resistência. A armação pesada da cama de madeira era exatamente o que nós precisávamos, apesar de que alguns parafusos fortes ajudariam com o balanço. Me perguntei como Esme se sentiria sobre buracos no chão dela.

O espelho em nosso quarto permanecia fiel à sua promessa na luz da manhã. Toda vez que eu olhava para ele, eu me via como a noiva que eu seria. O fluxo de emoção cada vez que via que isso era tão maravilhosamente intenso que era difícil de não compartilhar. Jasper continuava olhando para mim enquanto eu me vestia e penteava o cabelo, mas não disse nada.

Esme já estava lá em baixo quando nós finalmente saímos do nosso novo quarto. Ela nos cumprimentou animada enquanto jogava pedaços torcidos de metais destruídos no lixo. Jasper sorriu para ela enquanto fazia o mesmo.

Os brinquedos tinham de alguma forma unido a família novamente, e eu me perguntei se Emmett tinha feito isso de propósito. Provavelmente não.

“Ah, que bom, vocês estão de pé,” disse Carlisle assim que saiu de seu escritório. “Eu queria conversar com você antes que os outros chegassem. Por favor, venham.” Ele gesticulava para nós entrarmos no grande cômodo. Eu entrei primeiro, com Jasper perto de mim. Não tinha idéia se ele fez isso por cortesia ou proteção, ou os dois.

Carlisle fechou a porta atrás de nós.

“Eu queria falar com você sobre suas memórias,” ele disse olhando para Jasper. “Estive pesquisando sobre trauma de guerra e os tratamentos para isso. Como mencionei, eu acho que talvez a razão delas serem tão potentes é que você não lidou com elas antes. Você está novamente em um clã, e isso instiga as memórias. Ainda mesmo que você se sinta seguro aqui, o que é um ótimo elogio para nós, suas defesas estão mais fracas e não vão se defender contra o ataque. Essa é uma suposição justa?”

Jasper assentiu, seu rosto cauteloso. “Sim, senhor.” Me encolhi ao ouvir o tom que ele usou para um superior, ao invés de um membro da família. Carlisle franziu as sobrancelhas, mas não mencionou isso.

“Acho que é hora de substituir aquelas memórias antigas por umas novas. Talvez nós possamos forçá-las a vir, uma por uma, lidar com elas, e oferecer experiências seguras para substituí-las. Isso leva anos para os humanos, mas para um vampiro, pode levar menos tempo.”

“Ou mais,” preveniu Jasper.

“Sim, ou mais. Jasper, você quer continuar do jeito que você está?”

“Não, senhor.”

“Então, nos deixe te ajudar a superar seu passado.” As palavras de Carlisle eram ditas de forma tão suave que elas pareciam flutuar ao redor dele, mas elas eram firmes. Ele deixou claro em seu musical tom que esse não era um ponto que podia ser discutido. Ele era um médico e ele estava firme em curar seu paciente.

Jasper continuou perfeitamente imóvel. Eu podia sentir seus pensamentos oscilando. Esperança e perda flutavam ao seu redor. Perguntei para mim mesma se Carlisle sabia o que ele estava pedindo; se ele sabia que isso exigia mais confiança do que Jasper podia dar. Eu o vi seus ombros caírem, e então minha mente me mostrou ele lutando com Carlisle. Ele tinha escolhido confiar neles.

“O que eu preciso fazer?” Jasper perguntou. Sua voz era quase vazia.

“Venha conosco para a floresta. Eu tenho uma idéia.” O sorriso de Carlisle era pequeno mas sincero quando ele disse isso.

“Irei com você,” Eu disse enquanto olhava para o futuro. Eu vi lutas e risadas.

“Eu preferiria que você ficasse, Alice, se você não se importar.” Ele se virou para Jasper. “Ela ficará perfeitamente segura com Esme, eu juro.”

Comecei a protestar, mas Jasper olhou para mim atentamente e disse, “Eu quero fazer isso sozinho.”

“Vai ficar tudo bem,” eu murmurei. “Você vai ficar bem.” Eu estava tão orgulhosa dele.

Dentro de vinte minutos, todos os garotos saíram com Carlisle na liderança. Eu agora podia dizer que eles tinham planejado isso. Minha própria fé em Carlisle vacilou enquanto eles corriam, e eu me encontrei mordendo o lábio. Dentes de vampiro realmente machucavam.

“Venha comigo para o jardim, Alice,” disse Esme. Novamente, não era um pedido, apesar de que foi dito educadamente.

Eu podia ouvir Rosalie na garagem. Ela estava trabalhando em nossos automóveis e tinha a música alta, e os estalidos do rádio pareciam fora de lugar no jardim de Esme.

Estava ensolarado, e eu assisti hipnotizada enquanto um milhão de arco-íris iluminavam as superficies das flores. O lugar explodia em cor e luz.

“É tão lindo,” ofeguei.

“Eu as cultivo em todo lugar que moramos, apenas para dias como esse. Eu queria que você visse.” Ela parecia como uma garotinha compartilhando um grande segredo. Então, ela vestiu as luvas mais feias que eu já tinha visto, se ajoelhou no chão, e começou a puxar plantas que pareciam inocentes com uma fúria quase tangível.

“O que você está fazendo?”

“Tirando as ervas daninhas,” ela disse enquanto sorria para mim. Ela deu um tapinha no chão e me passou um par novo e horrível de luvas.

“Você realmente precisa delas?”

“Não, suponho que não,” ela admitiu com os lábios franzidos, “mas é como eu sempre fiz. Se sente certo, de alguma forma.” Ela se virou para o jardim, e eu coloquei as luvas. Elas pareciam sacos em minhas pequenas mãos.

“Por que você odeia tanto as ervas daninhas?” Eu tinha que perguntar depois de vê-la ir atrás de um dente-de-leão como se fosse um inimigo mortal. Eu fiquei com pena de qualquer vampiro que tentasse mexer com ela.

“Carlisle me pergunta a mesma coisa,” ela riu. Então ela olhou ao redor para as flores brilhando. “Eu trabalho muito duro para deixar o jardim encantador, mas se eu negligenciar totalmente, as ervas daninhas sorrateiramente aparecem e o destrói, então eu tenho que tirá-las rapidamente. Elas vão acabar com a beleza do que eu criei se ficarem.” Ela sorriu para mim enquanto respondia, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Havia uma dor profunda lá que me dizia que isso não era mais sobre o jardim. Eu comecei a puxar as mesmas plantas que eu a vi arrancando, mas isso não me deu tanto prazer assim.

“É como a minha vida,” Esme disse, sem olhar para mim. “O jardim é o que eu quero ser, mas as ervas daninhas são o que eu sou.”

Eu a observava torcer os dedos ao redor da base da grama e arrancá-la do chão. Ela jogou a grama despedaçada atrás dela com uma olhar de desgosto.

“Como você pode dizer isso? Você é a vampira mais amável que eu já conheci. Seu amor é a principal coisa que trouxe Jasper pra essa família. Você é o jardim, Esme, você é o jardim que brilha.”

“Obrigada, Alice, mas apenas posso tentar ser como o jardim. A única razão que você me ve como um jardim brilhando é porque eu tenho que diariamente tirar as ervas daninhas.” Ela virou para mim, e tirou suas luvas. “Você viu o que aconteceu quando eu me transformei?”

“Não, o primeiro vislumbre que eu tive de você foi quando você caçou.”

Ela assentiu e olhou para a grama, puxando distraidamente um monte de folhas. “Edward acredita que nós perdemos nossas almas, e Carlisle acredita que nós podemos de alguma forma ainda ter almas, mas que nós devemos ganhar o nosso lugar no portão do paraíso,” ela sorriu um pouco. “Eu quero acreditar nele, mas não sei mais como acreditar. Eu fui criada como a maioria para acreditar no paraíso e inferno e em um Deus gracioso, mas nunca encontrei ou senti aquela graça até que eu abri meus olhos como vampira. Engraçado, não é? A primeira coisa boa que aconteceu comigo foi renascer como uma condenada.”

“Você não é condenada, Esme.” Minhas palavras eram exaltadas. Doía vê-la desse jeito.

“Ah, mas temo que você esteja errada. Eu sou condenada duas vezes.” Ela olhou para mim e então voltou a arrancar as ervas enquanto falava. Uma planta morria com cada palavra. “Eu conheci Carlisle pela primeira vez quando eu era muito jovem. Fomos atraídos um ao outro, mas para me salvar, ele foi embora. Ele não queria essa vida para mim, mesmo ele estando atraído por mim. Ao ir embora, ele me condenou a uma vida que me destruiu.”

“Eu queria ser professora, mas ao invés disso, concordei em me casar com um homem que eu não amava para fazer minha família feliz. Ele me machucava, e eu queria me separar, mas minha família não queria nem ouvir isso. Eles até me culpavam pelos machucados que cobriam meu corpo. Meu marido foi para a guerra, e voltou como um verdadeiro monstro. Ele me machucou de tantas formas. Finalmente, quando descobri que estava grávida de um filho dele, eu fui embora. Eu fugi e criei uma vida nova para mim e para o meu bebê, pensando que talvez Deus me ajudaria porque eu estava me ajudando. Meu garotinho morreu em meus braços apenas alguns dias depois que ele nasceu. Eu estava rezando enquanto ele dava o seu ultimo suspiro. Deus, se existe um Deus, o levou enquanto eu rezava.

“Eu não conseguia mais suportar a dor. Doía para respirar, doía sentir o meu próprio coração bater. Eu cometi suicídio, Alice. Pulei de um penhasco e tentei morrer. Carlisle me encontrou em um necrotério e me mordeu enquanto eu estava deitada inconsciente da presença dele. Então, você vê? Eu sou duplamente condenada. Tão estranho, não é? A primeira graça que eu recebi a senti quando abri meus olhos para ver meu companheiro. Eu o encontrei quando eu estava finalmente, completamente condenada.”

“Não,” eu disse, balançando a cabeça e me recusando a acreditar no que ela dizia sobre si mesma. “Não, você não pode estar condenada. Nada que ame do jeito que você ama pode ser maléfico.”

Ela estendeu a mão e tocou minha bochecha. “Você soa como Carlisle e Edward. Eles tentaram me convencer por anos de que eu era boa, que eu tinha esperança.”

“Esme, você é tão inerentemente bondosa. Você não vê isso?”

“Eu vejo agora, mas ainda tenho que lutar contra todos aqueles pensamentos e memórias. Todos os dias, eu tenho que lembrar que valho a pena, que eu sou capaz de amar essa família, que está é minha segunda chance, minha graça. Apenas é tão difícil.

“Eu não te trouxe aqui para que sinta pena de mim. Estou mais feliz agora do que jamais fui, apesar de que eu sempre vou sentir falta do meu garotinho.” Seus olhos tristes suavizaram e seus lábios automaticamente formarm um sorriso enquanto ela pensava nele. Minha garganta apertou pela perda que ela carregaria o tempo todo.

“Eu te trouxe aqui para entender Jasper. Está vendo, você não tem memória de seu passado. Você não se lembra do que você pode ter sido ou o que você perdeu. É um presente maravilhoso não ter memórias que você tenha que lutar contra constantemente. Carlisle tentou por anos me convencer de meu valor, assim como Edward, mas eles não conseguiam. Finalmente eu percebi isso por conta própria. Enquanto Edward estava fora, eu comecei a enxergar a mim mesma com mais clareza. Levou um tempo, mas quando Edward voltou para casa, eu percebi que tinha criado um lar para onde valia a pena voltar. Que eu era uma pessoa digna de amor.

“Com seu Jasper é igual. Ele te vê como a graça dele, como um presente que ele não devia ter, e ele sente que não merece. Eu vejo você tentando fazê-lo se sentir digno, tentando forçá-lo a se sentir como se ele fosse parte daqui. Você não pode, Alice, e você precisa parar de tentar. Ele tem que descobrir por conta própria.”

“Mas eu preciso que ele sinta que ele pertence aqui. Nós precisamos de família, Esme. Sem vocês, nossos caminhos nos levam para a morte. Sem vocês, ele nunca vai descobrir o quão bom ele realmente é,” protestei.

“Edward diz que Jasper quer ficar aqui, mas que ele tem medo do que ele pode fazer. É por isso que os garotos estão com ele agora. Você não pode fazer ele se tornar o que você quer que ele seja, Alice. Não é o seu direito. Só ele pode fazer essa escolha, assim como eu finalmente fiz. Só ele pode descobrir o seu valor. Tudo o que podemos fazer é mostrá-lo o caminho a seguir; ele tem que descobrir onde esse caminho o leva.”

“É tão difícil de assistir, Esme,” eu disse com a voz áspera. Eu tive que limpar o caroço da minha garganta antes que eu pudesse continuar. “Ele é o centro da minha vida. Eu precisava dele antes que eu soubesse que precisava de sangue. Tudo o que eu já fiz, eu fiz para de alguma forma estar com ele, para salvá-lo. Mesmo antes de conhecê-lo, minha vida girava em torno dele. Ele está em tanta dor, e eu quero curá-lo. Eu quero que ele encontre uma felicidade como a que você tem.”

Ela me puxou para um abraço caloroso. Fiquei maravilhada com a forma que ela poderia sentir e cheirar do jeito que uma mãe deveria, quando eu não tinha a memória de uma.

“Alice, você começou isso. Você não vê? Você o salvou, e ele finalmente pode ter aquela paz e alegria ele mesmo, mas o resto agora depende dele. Você preparou a terra e começou a plantar, mas ele deve escolher como o jardim dele vai ficar. Ele vai precisar descobrir quais coisas são ervas daninhas para arrancá-las ele mesmo.”

Eu olhei ao redor para as cores do arco-íris dançando nas flores. Eu não tinha visto ervas daninhas antes porque a luz e as cores tinham escondido elas. Agora que eu estava aqui com Esme, eu podia vê-las rastejando pelo jardim. Em cada canto e debaixo de cada moita, ervas daninhas esperavam para dominar e acabar com a beleza. Eu podia ver o estrago que elas fariam. E eu entendi.

Só Jasper poderia determinar o que ele se tornaria. Nós podíamos ajudá-lo, tirar as ervas com ele, e plantar com ele, mas só ele poderia construir sua vida.

Olhei em seus olhos gentis, e amei Esme. Eu amei o seu espírito, e sua sabedoria. Amei sua habilidade de amar. E então me foquei nas adoráveis flores que escondiam as ervas, e vi que esse jardim não era sobre elas. Elas estavam aqui, assim como sempre estariam, mas elas não estavam no controle. O jardim era sobre o amor e a graça que Esme não conseguia encontrar.

“Esme? Posse te perguntar uma coisa?” E perguntei, tentando encontrar um jeito de colocar meus pensamentos em palavras.

“Claro, querida. Você pode me perguntar qualquer coisa.” Ela se virou para o jardim.

“Você disse que não sabe no que acreditar porque você nunca encontrou a graça de Deus e o amor como uma humana. E se você não as viu porque você mesma era aquele amor e graça? Talvez a maior evidência de graça não é o que pelo o que você sofreu, mas sim pelo o que você se tornou. Talvez a maior testemunha do amor é que uma vampira duplamente condenada pode criar algo tão lindo quanto um jardim, ou uma família como essa. Você é o exemplo mais lindo de amor que eu já vi. Talvez você é a evidencia que você nunca encontrou.”

Esme parou e olhou para mim. Seus olhos suavizaram e então se iluminaram. Tão calmamente que soou como o vento sussurrando através das flores, ela disse, “Obrigada, Alice.”

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