domingo, outubro 03, 2010

Coalescence - Capítulo 01: Ironia

Nota da autora: Essa história é a sequência para minha primeira fanfic sobre Alice, chamada Singularity. Sendo uma sequência, se você não leu a primeira história, você não entenderá essa.

Coalescence é definido como o processo de se juntar para formar algo ou para unir, ou a junção de duas coisas em uma totalmente nova e única na qual as partes originais ainda são reconhecíveis. Esse também é o termo usado para descrever a junção de duas galáxias.

Para mim, é a perfeita definição para o processo do amor.

Coalescence continua com a vida de Alice e Jasper exatamente depois que eles se encontraram no restaurante na Philadelphia. O ano é 1948.

* * *

[Alice]

É irônico que eu o tenha encontrado na Pensilvânia.

Não existem estradas retas na Pensilvânia. Não existe forma de ir facilmente ou rapidamente de um lugar para outro aqui. Não importa onde você vá, as voltas e viradas te forçam para fora do seu caminho. A viagem é divertida e a paisagem é linda, mas toma bastante para chegar ao seu destino.

Irônico.

Não existiam caminhos retos em minha vida. Nada veio facilmente.

Pensei sobre essas duas verdades enquanto eu virava outra curva indo norte e saindo da Philadelphia.

Na verdade, eu praticamente não era capaz de pensar.

Respirei e senti o pesado perfume de nossos cheiros combinados. Canela, cedro, e noz-moscada combinados com meu aroma floral e doce. Era avassalador. Tudo hoje foi avassalador. Eu não podia imaginar o que Jasper deve estar sentindo.

Isso supostamente deveria ser fácil.

Ele era minha vida. Meu destino, e isso era supostamente para acontecer sem esforço algum.

O homem que eu vi minutos depois de meu nascimento, o homem do qual eu senti falta por 28 anos estava sentado ao meu lado, no meu carro. Ele estava segurando minha mão. Eu deveria ser capaz de dizer tudo e qualquer coisa para ele. Eu deveria ser capaz de contar para ele sobre minha maluca, maravilhosa, e terrível vida, mas eu apenas não conseguia.

Por que isso não era fácil?

Olhei para Jasper e vi um pacífico sorriso enquanto ele esperava por minha resposta para sua pergunta muito lógica. Ele queria saber porque hoje tinha sido tão insanamente maravilhoso. Ele deveria saber o que aconteceu, e ele estava pacientemente esperando. Ele merecia uma resposta honesta.

Uma resposta honesta pode fazê-lo fugir. Não, iria fazê-lo fugir. A verdade sobre mim era tão bizarra que ele me deixaria. Aquela visão dele correndo de mim não mudou, exceto para se tornar impossivelmente dolorosa.

Havia algo estranho sobre aquele sorriso, o que também me fez cautelosa. Era muito sereno, e eu não conseguia dizer se ele estava simplesmente feliz, ou algo mais estava acontecendo debaixo dessa calma fachada. Era uma calma e pacífica piscina, ou a calma água antes de uma queda de cachoeira?

Respirei seu aroma profundamente de novo e me preparei. A ultima coisa que isso seria era fácil.

“Por que eu não começo do princípio?” Perguntei, tentando esconder meu nervosismo. Não é agradável confessar ser uma aberração entre as coisas míticas.

“O quão no passado é isso?” Ele perguntou quietamente. Seu rosto permaneceu sem mudanças.

Virei minha atenção para a estrada – Eu realmente não queria bater meu carro de novo.

“28 anos. Eu acordei no dia 18 de março de 1920,” Comecei, e dei uma olhada nele. A visão dele me fez perder a linha de raciocínio novamente. Como eu iria dar respostas à ele me sentindo assim?

“Acordou? O que isso significa?” Ele perguntou curiosamente. Sua profunda voz encheu o carro e vibrou meu corpo.

“Hmm, bem, sei que isso é muito estranho, mas eu acordei recentemente. Foi como se eu tivesse sido feita assim.” Tirei minha mão do volante para acenar para mim mesma.

“E antes? Quem te criou?” Ele agora estava muito curioso, e eu tinha sua atenção completa.

“Não sei. Eu acordei em uma floresta sem uma lembrança, ou criador.” Ri de mim mesma. Isso soava ridículo até para mim. “Acredita que eu nem mesmo sabia o que eu era por quase um ano? Eu simplesmente esbarrei com outros dois, e eles me contaram que eu era uma vampira. Eu fiquei tão chocada.” Eu dei um risinho com aquela memória.

Eu olhei para ele e ele estava agora tanto cativado quanto perplexo. Eu apertei os lábios e aguardei.

“Deixa eu entender isso direito. Você não se lembra de quem você era, você não se lembra da queimação ou quem te transformou, e você nem ao menos sabia que era uma vampira?” Sua voz ficou um tom mais alta a cada afirmação.

“Hmm, é.” O que mais eu poderia dizer? “Eu não sabia que nós éramos venenosos nem que não precisávamos respirar nem nada do tipo. Eu apenas era, e eu não sabia porque ou o que eu era. Era tudo muito confuso.” Minhas mãos convulsionaram-se na dele com a minha memória, e ele agarrou a que ele estava segurando com um pouco mais de força. Ele ainda estava me tocando, e eu me agarrei a este fato como uma pessoa que está se afogando se agarra a um salva-vidas.

“Ninguém te ajudou? Como você não matou uma cidade inteira? Você não estava louca de sede?”

“Bem, sim, claro que estava,” eu ri de novo. “Até mesmo me lembro de ter pensado que eu provavelmente poderia matar uma cidade. Eu matei um monte de gente no meu primeiro ano, mas, por sorte, eu não estava próxima a uma cidade.” Eu não havia percebido o quão próxima eu poderia ter chegado de destruir uma cidade até agora, e a idéia me deu um calafrio. “Eu acordei num bosque, e eu apenas corri e corri, comendo pelo caminho. Eu nunca fui a uma cidade, só a uma escola –”

Sua rápida ofegada de ar me interrompeu.

“Eu não matei ninguém,” eu disse rapidamente. “A escola estava fechada por causa de um feriado, e eu me escondi lá de uma tempestade porque eu não sabia o que era –”

“Espere um pouco,” ele disse, esfregando a mão sobre seus olhos negros. “Você não sabia o que era uma tempestade?”

“Eu não estou explicando muito bem, estou?” Eu fiz uma careta.

“Eu apenas não estou acostumado a esse tipo de história. Eu lidei com centenas de recém-nascidos, e todos eles se lembravam do seu passado. Todos eles estavam muito cientes de onde estavam. O que aconteceu com você?”

“Eu queria saber. Quando acordei, eu conseguia me lembrar dos nomes de várias coisas, mas não de todas. Eu não entendia nada. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo, eu simplesmente corria. Corria e matava todo mundo no meu caminho. Eu tentei com tanta força me lembrar de algo, de qualquer coisa, mas tudo o que eu sabia era que meu nome era Alice. Eu nem mesmo sei se esse nome é realmente meu,” eu terminei deprimida. Minha voz foi ficando mais baixa enquanto eu lhe contava. Respirei fundo novamente e senti uma calma se instaurar ao meu redor. Devia ser o aroma dele que me acalmava tanto.

Então ele estendeu o braço e posicionou a mão livre sobre os nossos dedos entrelaçados. Eu tive um formigamento com aquele toque adicional. Fiquei feliz pr dentro com o seu significado. Ele queria me acalmar. Ele não queria que eu ficasse chateada.

“Me conte sobre a escola”, ele disse baixo.

“Bem, havia essa tempestade. Eu gostava da chuva porque ela me limpava, mas era uma tempestade forte, e virou uma tempestade de granizo. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, e eu pensei que alguém estava atirando bolas de gelo em mim porque estava bravo comigo.” Sua risada enferrujada ecoou em seu peito de novo.

“Realmente, fazia sentido. Eu já estava apavorada por ter matado tantos humanos, então eu imaginei que Deus ou alguma coisa estava tentando me matar. Eu corri para dentro de um grande prédio e acabou que era uma escola. Eu não sabia disso a princípio, então pensei que fosse apenas um lugar para humanos pequenos – o que eu suponho que é. O cheiro ali por muito pouco não me enlouqueceu! Se as crianças tivessem estado lá, eu acho que teria matado o corpo estudantil inteiro, mas eles não voltaram por alguns dias, e eu fui capaz de entrar num acordo com o que eu estava fazendo e quem eu queria ser.”

“Você partiu? Como sendo uma vampira recém-nascida você partiu de uma escola repleta do cheiro de humanos?” Ele soava incrédulo, mas seu riso torto transmitia que ele estava impressionado. Eu gostava disso.

“Eu realmente não queria matá-los. Eles eram crianças. Eu aprendi a ler e a fazer contas ali, e aprendi que eu tinha uma escolha a fazer.” Sorri com a memória do meu primeiro triunfo, e então dei de ombros. Parte de mim queria dizer-lhe como eu soube que deveria partir, mas a parte cautelosa afastou a idéia rápido.

“Eu nunca ouvi falar de um recém-nascido que pudesse fazer isso. O que aconteceu depois?”

“Bem, eu vaguei por aí por cerca de um ano até cruzar com Charles e Makenna. Eles são nômades, e me disseram o que eu era e me mostraram como viver e como agir como humana, mas eles partiram alguns dias mais tarde.” Eu claramente me recordei da solidão que me engoliu quando eles partiram, e eu tive um calafrio quando me dei conta de novo de que eu não precisava mais ficar sozinha.”Depois disso, eu vaguei por aí.”

“Até agora?”

“Oh, céus, não.” Eu ri. “Eu viajei um bocado, mas também arranjei empregos e fui para a escola.”

Eu lancei um olhar para sua forma silenciosa. Ele simplesmente ficou sentado lá olhando para mim.

“Empregos?” A palavra foi uma exclamação emudecida.

Mordi meu lábio e tentei continuar soando indiferente. “É claro. Eu precisava de dinheiro. Não é barato ter uma casa e um carro, sabe? E você não pode colocar um preço em roupas verdadeiramente boas.”

Ele fechou os olhos e respirou fundo duas vezes.

“Vampiros não precisam de roupas ou carros ou casas. Nós precisamos apenas de sangue, ou pelo menos eu pensava que precisávamos,” ele disse balançando a cabeça.

“É claro que eu não preciso dessas coisas,” eu comecei e então me contraí ao perceber como isso era uma mentira. A casa e o carro eram opcionais, mas as roupas eram um assunto delicado. “Eu apenas gosto de tê-los. Roupas bacanas mostram o melhor de mim, e os carros protegem as roupas. O apartamento e a casa são úteis para receber correspondência e como um lugar seguro para manter meus pertences.”

“Tipo roupas?” Havia uma ponta de sarcasmo partindo sua voz.

“Sim, e outras coisas. Eu tenho meus álbuns de fotografia no meu apartamento e minha mobília está na minha cabana em New Hampshire.”

Eu olhei de novo, e ele estava sentado lá com o queixo caído.

Eu desanimei por dentro. Isso era o que eu temia. Eu era bizarra demais para ele.

“Eu não comprei um carro imediatamente. Levou alguns anos. Eu arranjei um emprego primeiro e então – “

“Que tipo de emprego exatamente um vampiro tem?” ele perguntou na mesma voz rouca e sarcástica.

“Hmmm, bem, eu tentei um monte de coisas a princípio, mas todas as coisas tinham medo de mim. Eu tentei trabalhar em plantações, e fazendas -” Sua risada me interrompeu.

“Você tentou trabalhar numa fazenda? Animais têm pavor de nós”

“Sim, eu sei disso agora. Eu não sabia até que entrei num celeiro e todos os animais fugiram em disparada, menos as ovelhas.” Eu ri novamente, e sua baixa e profunda voz acompanhou o meu tom soprano.

“Você devolveu os animais ao fazendeiro?” ele perguntou dentre risinhos.

“Não. Eu me dei conta de que já havia causado dano o suficiente. Eu pensei que seria melhor partir e deixá-lo recolher seus animais e limpar suas baias. Eles fizeram uma bela bagunça quando fugiram.” Ele riu novamente, e eu sorri para ele. Sua risada era maravilhosa, como a baixa melodia de um baixo bem tocado.

“Por que as ovelhas não fugiram?”

“Elas não tiveram a chance. Elas me viram e caíram mortas no mesmo local. Elas só emitiram um último “béé,” e rolaram com suas perninhas estendidas para cima. Ovelhas morrem com facilidade.” Ele estava rindo com tanta força que o carro balançou, e eu ri junto com ele. Minha voz era como o céu límpido, e a sua era a terra profunda. Eu me deleitei com o lento retorno da vida aos seus olhos.

Quando nós dois paramos de rir, ele perguntou, “Então que emprego funciona para um vampiro?”

“Eu me tornei costureira para um casal muito bacana de judeus em Nashville.” Minha voz se suavizou com a memória de Hank e Myrtle.

“Você não rasgava os panos?”

“Às vezes. Mas agora eu sou muito boa com roupas.”

“Percebi,” ele disse observando meu traje e o corpo sob ele novamente. Aquilo era simplesmente tão excitante em maneiras novas e não-usuais.

“Eles não perceberam que você era diferente? Como você escondeu seus olhos?”

A pergunta era simples, mas as ramificações de para onde isso levaria me atingiram como um balde de água fria. Meus olhos eram cor de mel, não vermelhos, e a razão disso era o núcleo da minha esquisitice.

Eu tomei um fôlego, dei um sorrisinho e disse, “Para começar, ambos eram quase cegos, então eles não me viam como eu sou. Meus olhos estavam dourados então, porque eu estava me alimentando de animais.”

“Quando você começou com isso?”

“Quando eu tinha um ano e meio.”

“Como você pensou em bebe-los? Eu não posso suportar o cheiro deles.” Ele franziu o nariz com a última afirmação.

“Eu vi dois outros fazendo isso, e pensei que talvez eu pudesse tentar. Eu não gostava de matar pessoas.” Eu me preparei.

Pronto. Pergunte-me agora. Pergunte como eu os vi.

“Nenhum de nós gosta de matar,” ele disse amargamente.

Jasper parecia como se estivesse ponderando a respeito de algo que eu havia dito, e segurei o fôlego e aguardei pela pergunta inevitável, mas a que ele perguntou não era a que eu estava esperando.

“Você nunca nem mesmo fez um lanchinho com alguém do trabalho?”

Eu dei um risinho com sua pergunta e com o meu alívio. Então eu internamente amaldiçoei minha covardia.

“Na maioria eu fazia trabalhos à mão, então eu trabalhava em casa. Eu nunca nem mesmo respirava na loja deles até alguns dias depois de Hank morrer de ataque cardíaco.”

“Casa? Onde você morava?”

“Numa igreja,” eu respondi sem pensar. Jasper apenas soltou uma bufada surpresa e começou a esfregar o polegar na minha mão de novo.

“E isso não era no mínimo um pouco irônico para você?”

“Eu não sabia que nós supostamente éramos condenados até conhecer o clã de Nova York. Eu vivi na torre do sino de uma igreja perto da loja por dois anos. Eu sei uma dúzia de hinos religiosos,” eu finalizei orgulhosamente.

“Hinos, certo. Como você foi parar em Nova York?”

“Eu me mudei para lá com Myrtle depois que Hank morreu e tomei conta dela e de sua irmã, Edwina. Elas eram tão cegas quanto morcegos,” expliquei.

Jasper apenas me olhou.

“Sim,” eu disse, sabendo qual seria a próxima pergunta. “Eu cuidava das duas irmãs. Eu trabalhei como costureira durante a noite por um tempo e então Edwina me ensinou tudo sobre a bolsa de valores.”

Ele deu outro risinho.

“A pior parte de tudo isso era que as duas queriam me casar, entào elas viviam convidando candidatos para visitar, e –”

Sua explosão de risos me interrompeu de novo. Eu sorri para ele.

“Você precisa ir devagar,” ele abafou o riso. “Eu sinto como se estivesse perdendo alguns pontos muito engraçados e muito importantes. Eu juro, Alice, você teve a vida mais esquisita.”

Oh, você não sabe nem da metade, eu pensei com uma nova onda de culpa.

“Você tem alguma pergunta sobre a minha vida?” Eu precisava introduzir o assunto. Talvez se ele me perguntasse, eu poderia encontrar a coragem de lhe contar sobre o meu fardo. Eu sabia que podia lidar com o futuro se Jasper estivesse do meu lado. Eu não me libertaria dessa culpa crescente até que ele soubesse.

“Só algumas dúzias. Por que você escolheu ficar com as duas irmãs velhas e cegas?” Ele estava sorrindo e balançando a cabeça descrente.

Pergunte mais.

“Você quer saber sobre os meus olhos?” Se ele quisesse, eu poderia lhe contar sobre as visões com Carlisle e Edward. Eu poderia me libertar.

“Você disse que se alimenta de animais. Eu não sei como você aguenta, mas se te faz feliz, eu respeito a sua decisão,” ele deu de ombros.

Meu coração afundou quando percebi que eu teria que lhe dizer diretamente. Eu reuni minha coragem e comecei a abrir minha boca para fazer a confissão que me libertaria, mas ao invés disso o flash de uma visão me engoliu. Jasper estava correndo, e eu estava desolada chamando por ele. Eu o havia assustado.

Aquela visão me causou uma intensa dor física, uma queimação, dentro de mim, e acabou com qualquer esperança de dizer a verdade. Eu decidi que precisava mudar completamente de assunto.

“Já não é a hora de você me contar sobre si mesmo?” Eu perguntei com doçura, tentando esconder meu medo e desapontamento.

Seu rosto caiu, e ele tirou a mão da minha para passá-la por seus grossos cabelos dourados. Aquilo enviou através de mim uma forte onda de medo e pânico.

“Você não quer saber sobre mim. Não há nada bom para contar,” suas palavras foram sussurros dolorosos enquanto ele se virava para olhar para fora da janela. Uma nova onda de perda passou sobre mim. Então a visão dele correndo me atingiu novamente, e eu quase ofeguei com a dor. Eu senti Jasper tenso ao meu lado, mas ele não olhou para mim. Eu não podia permitir que isso acontecesse agora.

Eu decidi prosseguir com a história da minha vida, apenas omitindo algumas partes. Eu podia sentir a vergonha crescendo enquanto eu prosseguia.

“Bem, então” eu continuei alegremente, “vou simplesmente continuar com as minhas aventuras. Eu tive uma boa quantidade delas nos meus vinte e oito anos.”

Eu observei Jasper enquanto ele virava a cabeça. Ele não olhou para mim, mantendo ao invés disso os olhos focalizados no chão.

“Jasper? Está bem assim?” Será que ele era capaz de ouvir o medo na minha voz? Ele levantou o olhar para mim com o rosto cheio da mesma vergonha que eu sentia. Eu sorri para ele tentando apagar aquele olhar. Ele retribuiu um sorriso fraco, mas apertou minha mão.

Comecei com as duas irmãs, e prossegui pela minha vida. Ele riu durante a maior parte. A guerra entre os clãs o deixou bravo, por alguma razão. Ele não gostava da idéia de eu ter lutado nela, o que me deixou um pouco brava também, porque eu era um boa lutadora, e ele precisava me dar algum crédito.

E então as colinas e árvores e campos passaram num flash enquanto eu compartilhava tudo a meu respeito, exceto o que era mais importante. Cada quilômetro fazia minha culpa crescer, mas cada quilômetro também significava outro milagroso minuto com Jasper, e eu caminhei por essa linha estreita com grande cautela.

Finalizei minhas histórias da Europa com minha decisão de voltar para casa. Eu lhe contei sobre as maravilhas da Europa e ele escutou com muita atenção enquanto eu lhe contava sobre a beleza de lá. Eu não lhe falei sobre o motivo agonizante para toda a horrível jornada ou do alegre motivo do meu retorno. Eu simplesmente disse que eu não queria que Paul me forçasse a entrar para o seu bando. Enquanto ele permanecia sentado ao meu lado hipnotizado, eu mergulhava no pântano da minha mentira.

Eu senti como se estivesse marcando minha própria alma com o pecado imperdoável de mentir para ele.

Eu estava presa entre duas realidades inalteráveis: eu tinha que ter Jasper, e eu tinha que tê-lo verdadeiramente e completamente. Eu não conseguia pensar em como ter as duas coisas. Eu precisava contar-lhe sobre o meu dom e seu fardo terrível. Eu precisava dividir meus mais íntimos e escondidos segredos com ele, mas se eu compartilhasse quem eu era verdadeiramente, eu o perderia.

Eu dirigi com ele por vários bairros da cidade, mostrando-lhe os lugares e espetáculos de Nova York até o sol se pôr. Então nós dirigimos para a parte não-espetacular da cidade.

“Eu nunca conheci nenhum vampiro como você, Alice,” ele disse sorrindo para mim.

Eu me encolhi com a percepção de que eu não merecia aquele sorriso.

Covarde.

Eu estacionei atrás de uma grande construção de tijolos à vista perto dos barracos próximos ao rio. “Chegamos,” eu disse com o máximo de alegria que consegui.

“Essa é a sua casa?” ele perguntou confuso.

Eu ri apesar do meu humor. “Não, esse é um bom lugar para caçarmos. Eu vou te levar ao meu apartamento mais tarde. Você precisa comer, certo? Bem, é quase o crepúsculo, e os trabalhadores vão chegar em casa.” Eu disse dando de ombros. Eu me sentia tão culpada por trazê-lo aqui, mas ele precisava de comida, e eu precisava de tempo.

Seu rosto passou de confuso para intrigado. “Você não vem comigo?”

Eu nunca havia me sentido tão tentada a caçar um humano antes. Eu queria tanto dizer que sim, mas eu não podia me permitir matar alguém hoje. Não com a lembrança fresca dos humanos bondosos na minha mente.

“Não.”

“Mas eu não quero deixar você aqui”, ele disse franzindo a testa. “E se alguém chegar?”

“Ninguém vai chegar, e eu tenho amizade com os vampiros daqui. Além disso, como eu disse, eu luto muito bem.” Meu coração culpado se deleitou com o pensamento de que ele queria ficar comigo, queria me proteger, e que a vontade de ficar comigo era mais forte do que a atração pelo sangue ao nosso redor.

Suas mãos, tão paradas na maior parte dessa viagem, esfregaram as minhas, e meu estômago inteiro se encheu de uma estranha sensação de ondulação. Ele parecia dividido. “Vá em frente,” eu disse, e ele abriu a porta, soltou minha mão e acenou com a cabeça.

“Eu serei rápido,” e então ele se foi. O peso massacrante da perda recaiu sobre mim. Parte pela sua ausência, mas parte era pela minha culpa.

Quando ele partiu, eu deixei minha cabeça cair sobre minhas mãos e soltei um suspiro de frustração. Eu havia sonhado com nossa primeira conversa milhares de vezes. Eu havia passado a cena na minha cabeça e criado as palavras cuidadosas que diriam a verdade sobre mim à Jasper.

Isso não era nem um pouco como no sonho. Isso era um pesadelo.

Eu queria dizer-lhe o quanto e por quanto tempo eu o havia amado. Eu queria dividir minha alegria e minha vida. Eu precisava que ele me conhecesse, e não só conhecesse coisas a meu respeito.

Nada disso havia se tornado verdade, e era minha culpa. Aquela visão nebulosa dele fugindo de mim era a mais horrível e aterrorizante visão que eu jamais havia tido. A queimação aguda era intensamente dolorosa. Sempre que ela passava pela minha cabeça, eu sentia como se eu estivesse em chamas. Era pior do que a que havia me mostrado Maria, e muito pior do que a que me havia mostrado a morte de Paul. Jasper correndo de mim era algo que eu não seria possivelmente capaz de suportar.

Eu tentei novamente pensar numa maneira de dizer-lhe sobre mim, meu verdadeiro eu, mas não veio nada. Eu tinha tanta certeza de tanta coisa no meu futuro, mas agora que realmente contava, meu dom odioso não era de nenhuma serventia. Eu era tão covarde.

Eu sou uma criatura tão horrível que ele fugiria de mim? O que eu havia feito para fazê-lo fugir?

As perguntas perseguiram umas às outras pela minha mente vasta, causando nada a não ser destruição, até que uma visão totalmente nova a preencheu. Jasper estava quase terminando de caçar. Eu podia ver seu vulto perto de uma cerca de madeira inclinado sobre um homem grande enquanto a dor distorcia seus traços, e então o vulto agachado Chi-Yang saltava sobre ele.

Eu me atirei para fora do carro e segui em direção ao avassalador cheiro dos humanos. Revi a cena várias e várias vezes para encontrar o local certo. A cerca estava à minha direita, e eu voei em direção a ela. Ela era alta, feita para segurar os vagabundos que enchiam essa parte da cidade, e passei sobre ela num salto. Jasper estava lá, há vários metros de distância, e Chi Yang estava saindo das sombras atrás dele.

Eu gritei, “NÃO!” enquanto disparava na direção de seus vultos. Jasper se virou imediatamente, mas eu passei correndo por ele para atingir o vulto de Chi-Yang na corrida com toda a força. O impacto soou como um trovão, e lançou nós dois para trás cerca de 6 metros. Eu dei um salto quando aterrissei, pronta para matar meu amigo para proteger meu amado.

Eu queria pará-los antes que algum deles se machucasse, mas eu já sabia que eu mataria Chi-Yang se ele tentasse machucar Jasper. Eu pretendia ficar parada na frente de Jasper e dizer à Chi-Yang quem ele era, mas Jasper já estava em frente a mim, com os braços estendidos e agachado em posição de luta.

“Não, Jasper, Chi-Yang, parem!” Eu gritei enquanto tentava passar por Jasper, mas Jasper moveu-se junto comigo e não me deixou passar.

“O que você fez, Alice?” Chi-Yang sibilou as palavras cheio de raiva.

“Chi-Yang, me escute. Pare. Ele não é uma ameaça.” Eu passei os braços ao redor de Jasper por trás, desejando que Chi-Yang visse que Jasper era meu.

“Olhe para ele! Olhe para suas cicatrizes! Ele é um soldado, um assassino, e eles são sempre uma ameaça,” cuspiu Chi-Yang enquanto circundava no que eu sabia que era seu modo de ataque.

“Não, ele é um amigo. Ele é meu amigo, e eu o trouxe aqui.” Eu tentei deixar a minha voz o mais calma possível mas fui apenas parcialmente bem-sucedida.

Jasper estava tentando abrir meus dedos entrelaçados. “Alice,” ele disse desesperadamente, “me solte e corra. Eu não vou deixar que ele te machuque.”

“Eu nunca vou correr para longe de você,” eu lhe respondi.

“Então você vai morrer com ele,” rosnou Chi-Yang dando um passo para o lado para aproximar-se de nós.

“Alice, oh Alice, por quê?” A voz era de Mai-Li, e as palavras saíram quase num lamento. Eu a vi atrás de seu parceiro, uma expressão traída no rosto.

“Não, Mai-Li, por favor me escute. Ele não é uma ameaça para vocês,” eu disse num pedido desesperado.

“Para trás!” Chi-Yang gritou para sua parceira, mas ela não se moveu. Eu assisti enquanto a compreensão clareou seu rosto, seguida por alegria.

“Chi-Yang! Pare! Pare agora,” ela cuspiu para seu parceiro. Então ela passou por ele a passos largos e o atingiu no ombro com um ruído retumbante.

“Ele está com você? Mesmo?” Ela estava quase gritando as palavras enquanto se aproximava lentamente de nós.

Chi-Yang ficou em pé ereto, mas ainda pronto para atacar enquanto observava sua mulher avançar. “Mai-Li, você está louca?” ele engasgou.

“Oh, Chi-Yang, pare. Ele é amigo de Alice, e ele é bem-vindo à nossa casa.” Ela soava como se estivesse falando com uma criança travessa.

Eu soltei Jasper enquanto ele se endireitava, e caminhei ao redor dele. Ele estendeu o braço para pegar a minha mão e tentou me puxar para ele. “Está tudo bem,” eu lhe assegurei, “eles são meus amigos.”

Eu caminhei rapidamente até Mai-Li, que me abraçou com outro riso. Ela estava sorrindo com força o suficiente para rasgar seu rosto. Ela sempre havia sido uma romântica incurável.

“Isso não é maravilhoso, Chi-Yang? Este é o amigo de Alice,” ela disse enquanto me abraçava. Eu estava muito feliz por não estar conseguindo ver seu rosto.

Quando ela finalmente me soltou eu olhei para Chi-Yang e depois para Jasper. Ambos estavam parados lá com uma expressão um tanto esquisita.

“Não seja rude,” ordenou Mai-Li enquanto apontava para o seu parceiro. “Venha conhecê-lo.” Chi-Yang avançou lentamente e levantou as mãos, e Jasper fez o mesmo. Eles pararam a aproximadamente três metros um do outro e acenaram em união.

Mai-Li sorriu para eles, e passou o braço ao meu redor para um último apertão. Ela piscou para mim e então me soltou, e eu rezei para que Jasper não tivesse visto isso. Ela caminhou de volta para se posicionar atrás do seu aparentemente incomodado parceiro. Chi-Yang odiava quando perdia a oportunidade de lutar.

Eu respirei fundo e imediatamente me senti mais calma quando fui me posicionar perto de Jasper, que se moveu para ficar levemente um pouco na minha frente. Ele colocou o braço protetoramente ao redor dos meus ombros e olhou para mim com curiosidade. Isso devia parecer terrivelmente estranho para ele.

“Chi-Yang e Mai-Li, este é Jasper Whitlock,” eu disse com o máximo de calma e formalidade que pude.

“Bem-vindo à Nova York, Jasper Whitlock,” Chi-Yang disse formalmente.

“Como eu disse, você é mais que bem-vindo aqui se você é amigo de Alice” disse Mai-Li aos risinhos atrás de seu parceiro. Ela ainda estava com um sorriso largo e olhando para Jasper escancaradamente. Ela percebeu meu olhar e piscou de novo. A mulher era certamente constrangedora.

“Peço desculpas por nosso rude primeiro encontro,” adicionou Chi-Yang secamente. Eu me perguntei o que Mai-Li havia feito para ele fazer isso. Ele não pedia desculpas facilmente.

“Estou feliz por conhecê-los, e também sinto muito. Eu não tive a intenção de me intrometer na sua refeição,” disse Jasper calmamente, e enquanto ele o fez, uma onda de calma não-solicitada passou sobre mim. Enquanto eu observava, tanto Chi-Yan quanto Mai-Li relaxaram também. A estranha calmaria parecia estar se espalhando.

“Seu comportamento e suas cicatrizes me fizeram pensar que você era um soldado que estava aqui para lutar,” riu Chi-Yang. “Você precisa admitir, você faz bem o tipo.”

Eu senti Jasper tensionar-se apenas um pouco. “Eu tive esse problema por toda a minha vida. É um erro comum. Eu não luto mais por um bando.”

“Você deve ser muito bom nisso. Não são muitos de nós que conseguem sobreviver a esse tanto de ataques e sair vitorioso toda vez,” pressionou Chi-Yang. “Soldados com seu óbvio talento e técnica são mesmo muito raros. Você deve ser um assassino incrivelmente dotado, mais do que qualquer outro vampiro que eu já tenha conhecido.”

O rosto de Chi-Yang traiu sua irritação e falta de confiança com a situação, mas também mostrava um pouco de algo mais; ciúme ou talvez ganância. Atrás dele, Mai-Li estava quase dando pulinhos de entusiasmo e alegria.

“Onde foi que Alice te encontrou?” Ela perguntou atrás de seu parceiro.

“Nós nos conhecemos num restaurante na Filadélfia,” disse Jasper calmamente. Sua voz quase não mudou de tom.

“Ah, sei,” disse Chi-Yang, mas o olhar intrigado que ele me lançou não sabia. Mas, contanto que Jasper estivesse a salvo, eu não ligava. Além do mais, Mai-Li não perderia tempo em lhe contar tudo.

“Eu o trouxe de volta para conhecer a todos, e ver a cidade,” eu expliquei, “eu quero mostrar-lhe minha casa e os lugares.” Tentei fazer minha voz soar calma e amigável, mas minha irritação comigo mesma estava crescendo agora que o perigo imediato havia passado. Eu devia ter sido mais cuidadosa. Eu devia ter visto isso.

“Há quanto tempo vocês se conhecem?” perguntou Mai-Li. Pelo olhar no seu rosto, ela estava faminta por respostas como se fossem sangue.

“Sete horas,” eu respondi rapidamente. Seria mesmo verdade? Parecia ser uma vida inteira, mas apenas sete curtas horas haviam se passado.

“Então você conheceu Jasper sete horas atrás e a primeira coisa em que você conseguiu pensar foi em trazê-lo para caçar em Nova York?” o tom de Chi-Yang era como gelo enquanto a raiva submersa borbulhava um pouco na superfície. Na sua cabeça, eu havia trazido um vampiro estranho e com aparência perigosa para esta cidade.Eu senti minha própria raiva crescer um pouco. Também era a minha cidade, e eu havia conquistado meu lugar aqui.

“Eu trouxe um amigo para casa para conhecer meus amigos e ver minha cidade,” eu respondi com a mesma frieza. De jeito nenhum eu o deixaria impune por agir daquela forma. Eu senti o braço de Jasper tensionar-se um pouco, e entrei em um pouco em pânico. E se Chi-Yang realmente visse Jasper como uma ameaça? Ele era um lutador brilhante, e jamais desistia. Eu lutaria por Jasper, e Mai-Li lutaria por Chi-Yang. Era como os vampiros faziam. Eu me senti enjoada com o pensamento.

Mai-Li também sentiu a tensão crescente e se virou irritada para encarar eu parceiro. “Alice viveu aqui e nos protegeu por mais de doze anos. Agora ela traz um amigo para nos ver, e você fica ofendido? Onde estão suas maneiras?”

Chi-Yang fuzilou sua esposa com os olhos. Então eu percebi que ela estava falando baixinho num chinês rápido. Eu não sabia falar chinês, mas o que quer que ela estivesse falando estava fazendo uma diferença. O rosto dele passou de irritado para confuso e então encheu-se de compreensão dentro de alguns segundos. Quando Mai-Li retornou para o lado dele, ela estava escancaradamente satisfeita, e a expressão dele havia se suavizado consideravelmente.

“Oh, sim, Alice. Eu sinto muito por ter me zangado tanto, mas o rosto dele… bem… você precisa entender. Eu nunca conheci um vampiro que mostrasse sua superioridade em batalhas tão fortemente em seus traços.”

“Acontece o tempo todo,” Jasper disse baixo, enquanto uma onda de alívio passava sobre mim.

“Nós atraímos uma platéia e tanto,” sussurrou Mai-Li preocupada.

Eu olhei ao meu redor e vi cerca de uma dúzia de humanos olhando para nós através do espaço entre a cerca e o prédio à nossa direita.

“Nós podemos cuidar dos que estão perto da cerca,” disse Chi-Yang sem emoção. “Você pode cuidar dos dois perto do prédio, Jasper?”

Jasper concordou com a cabeça, ainda me segurando. Eu fiquei gelada por dentro. Nós teríamos que matá-los. O homem morto com o pescoço rasgado certamente seria notado por eles, e eles viram nossa pequena discussão e muito possivelmente ouviram-me atacar Chi-Yang.

“Você quer um?” ele me perguntou baixo. Eu não consegui responder, então apenas balancei a cabeça.

“Ela nunca quer,” suspirou Chi-Yang. “Pronto?” Jasper acenou e se virou um pouco.

“Agora,” sussurrou Mai-Li, e eu fechei os olhos e me preparei para o que eu veria na minha cabeça.

Sete vidas surgiram em um flash e então foram exterminadas. Eu peguei um relance de uma mulher chorando e de crianças, e fui esfaqueada pela angústia enquanto a visão me deixava. Eu senti Jasper voltar para o meu lado dentro de apenas alguns minutos. Eu me virei e vi dois corpos nos seus braços, suas cabeças pendentes para o lado, quase arrancadas pela sua mordida. Havia pouco sangue porque ambos haviam sido completamente sugados. Ele era realmente um assassino talentoso.

“Na água,” eu o direcionei baixo enquanto fui pegar o primeiro humano de Jasper. Sem nenhuma palavra, sete corpos aterrissaram na água escura.

“Alice, você precisa trazer Jasper para nos ver no sábado. Eu adoraria mostrar-lhe China Town. Você vai trazê-lo?” Mai-Li estava mais controlada, mas ainda muito feliz.

“Eu vou ter que falar com Jasper a respeito,” eu disse baixinho, sem olhar para ele. Eu precisaria checar minhas visões com cuidado antes de levá-lo a qualquer lugar perigoso. “Eu te ligo.”

“Então vamos esperar sua ligação,” disse Chi-Yang. Em sua mente, não era na verdade um convite opcional. Ele era o vampiro senior convidando o novato para uma entrevista. Eu odiava aquilo.

Senti o braço de Jasper passando pelos meus ombros, e parte da minha frustração e raiva desapareceram enquanto seu braço se ajustava ao meu redor. Eu sabia que ele estava me protegendo, ele estava cuidando de mim, e aquilo me empolgava. Seu toque, como sempre, deixou minha pele hipersensível, e eu podia sentir meus ombros pinicarem com o seu peso.

Nós recuamos e nos viramos para caminhar rapidamente até a cerca. Ele me soltou apenas pelo tempo suficiente para saltarmos por cima dela, e então seu braço estava de volta no lugar. Talvez fosse a distância, ou talvez apenas o alívio por todo o episódio ter terminado e ele estar a salvo, mas eu me acalmei rapidamente enquanto caminhávamos até o meu carro. Mas eu ainda estava muito irritada comigo mesma.

“Alice, você está bem?” A voz profunda de Jasper enviou ondas de prazer por mim. Eu finalmente me virei para olhá-lo, e seu rosto estava profundamente preocupado.

“Eu apenas sinto muito que aquilo tenha acabado de acontecer. Eu devia ter sido mais cuidadosa, as coisas não precisavam ter ido tão mal,” eu disse, olhando para longe dos seus olhos vermelho-vivos. Por que eu não havia sido mais cuidadosa?

“Eu não acho que foi mal.“ Seu rosto estava serio, mas seu tom estava leve.

“Você pôs o pé na cidade por menos de cinco minutos e foi quase morto pelos meus bons amigos,” eu cuspi. “Jasper, eu sinto muito. Você perguntou se era seguro, e eu disse que sim. Eu não consigo acreditar que tudo isso acabou de acontecer. Eu sinto muito, muito mesmo. Honestamente, eu não tenho ideia do porque ele agiu daquela forma.” Eu levantei o olhar para ver seus olhos sérios, e seu sorriso torto estranho. Desta vez o sorriso não era agradável.

Ele suspirou. “Você realmente não sabe?”

“Não,” eu gemi triste. Ele parou e virou-se para mim. Ele estendeu sua mão. Eu olhei para ele intrigada, mas posicionei a minha na dele.

“É por isso,” ele disse com apenas uma pontada de amargura, e ele levantou minha mão até sua bochecha cheia de cicatrizes.

A princípio, eu fiquei perdida na excitação de tocar seu rosto, e levantei minha outra mão para sentí-lo. Era tão suave. As marcas de mordida formavam ondulações, mas apenas um pouco, as pequenas ondulações de um lago calmo. Eu corri minha mão pela sua sobrancelha e descendo por sua forte mandíbula, sentindo a rocha suave que era seu rosto.

Eu estava tocando o seu rosto.

“Você não sente?” Ele finalmente perguntou.

Eu estava confusa. Eu estava sentindo uma dúzia de coisas naquele momento, algumas das quais eu não tinha palavras para descrever. Ele enxergou minha confusão, e colocou a mão ao redor dos meus dedos, e lentamente traçou a mais profunda das cicatrizes, uma embaixo do seu queixo. Então ele prosseguiu e traçou outra no seu pescoço. Eu tentei me concentrar, mas traçar meus dedos gentilmente pelo rosto de Jasper estava fazendo minha cabeça girar. Olhei no fundo dos seus olhos, e ele tirou meus dedos do seu rosto.

“As cicatrizes?” Ele acenou, e eu finalmente entendi.

“Eu estou coberto delas. A maioria delas está aqui nos meus ombros e pescoço,” ele disse. Sua voz estava dura, quase irritada, quando ele continuou, “mas elas também estão em todos os outros lugares. Cada uma é uma lembrança para mim e para todo o mundo do que eu era. Eu era o líder de um exército de condenados, e essas cicatrizes são minhas insígnias como general. Cada uma é uma vitória. Cada uma representa uma vida que eu tirei em batalha.” Ele deu um passo para longe de mim.

“Você vê, Alice, eu sou uma ameaça ambulante para qualquer um da nossa espécie que olha para mim. Não importa onde eu estiver ou o que eu estiver fazendo, eu sempre serei visto como uma ameaça perigosa. Eu serei sempre confrontado e enfrentado. Eu serei sempre visto como inimigo. Sempre.” Seus olhos miraram o asfalto, e sua voz baixa demonstrou uma dor que quase me partiu. “Então agora você sabe. Eu sou um assassino dentre os assassinos, e eu nunca realmente soube o que é paz. Ninguém morreu hoje naquele pequeno confronto. Para mim, isso é inédito. Para mim, hoje tudo correu muito bem.”

Subitamente, a memória de um beijo surgiu na minha mente preocupada. Eu dei um passo para a frente e muito gentilmente tracei suas cicatrizes novamente. Ele me olhou surpreso, mas eu continuei traçando-as quando ele encontrou meu olhar. Mesmo agora, tocá-lo trazia um pequeno sorriso ao meu rosto.

“Você não as vê?” ele perguntou roucamente. Eu estava vividamente ciente do quão próximos nós estávamos.

“É claro que eu vejo.”

“Você não compreende o que elas são?”

“Eu sei o que elas são, Jasper, e eu sei o que você era.” Eu mantive minha voz baixa e gentil, mas senti meu sorriso aumentar enquanto continuava a traçar as cicatrizes até a sua escápula. Pensei tê-lo sentido estremecer sob o meu toque.

“Eu apenas não as vejo como feias ou você como perigoso, e eu não me importo com o seu passado.”

Ele pegou minhas mãos e as segurou. “Você devia. Eu estive muito próximo de matá-la naquele restaurante.” Um flash de dor disparou pelo seu rosto e pareceu saltar para dentro do meu coração. “Eu quase te rasguei em pedaços. Eu teria te matado instantaneamente e então aniquilado os humanos para ocultar o que eu teria feito. Você devia se importar muito com o que eu era e o que eu sou.” Seus olhos estavam suplicantes agora, mas por quê? Ele queria que eu o deixasse ir? Essa não era uma opção. Então eu fiz a única coisa que eu pude, eu apertei sua mão, e a puxei para mim, trazendo-o para mais perto.

“Eu te disse, Jasper Whitlock, que eu não me importo com o que você fez ou quase fez, e isso é final.” Seu rosto mudou de passivo para zangado, e eu pensei apenas por um segundo que ele iria puxar suas mãos das minhas. Então a raiva mudou para incredulidade, que isso se transformou numa aparência que me derreteu. Era a aparência de uma criança de olhos arregalados vendo o mundo de uma nova forma. Era a aparência da vulnerabilidade.

Comecei a conduzí-lo para longe deste lugar horrível. Eu o levaria para o meu apartamento agora, e ver o que aconteceria depois. Mas, enquanto eu tentava me afastar, suas mãos subitamente pegaram as minhas, e ele estava ao meu lado de novo, com seu braço esquerdo sobre os meus ombros e sua mão esquerda segurando a minha.

“Está bem assim?” ele perguntou.

“Sim. Está ótimo.” Está perfeito. Incrível.

Lentamente coloquei o meu braço direito livre ao redor de sua cintura, e nós andamos até o meu carro. Enquanto íamos, eu percebi que nós nos encaixávamos como duas peças da mesma escultura feitas por um artista talentoso para se encaixarem perfeitamente juntas. Apesar de todas as mentiras, do medo, e da experiência de quase morte, Jasper estava certo. Hoje tudo havia corrido muito bem.

Eu apenas desejei que eu pudesse me sentir melhor a respeito da minha participação naquilo tudo.


[Jasper]

Ela me tocou. Eu esperava que ela se afastasse, recuasse dos meus ferimentos de guerra e de tudo que eles representavam, mas ela simplesmente estendeu as duas mãos para senti-los. E sorriu. Eu senti sua alegria, mas eu não conseguia entender por que ela estava feliz.

“Você não sente?” Eu pressionei.

Ela não sentia. Eu teria que mostrar-lhe, então coloquei minha mão sobre a dela e a conduzi até meus maiores ferimentos. Ela apenas os tocou gentilmente, um olhar maravilhado em seu rosto. Quando ela finalmente olhou para mim, eu tirei sua mão dali, esperando que ela virasse para longe da minha feiura.

“As cicatrizes?” Ela sabia. Eu acenei e esperei pelo inevitável, mas ela não se moveu. Eu teria que dizer-lhe.

“Eu estou coberto delas. A maioria delas está aqui nos meus ombros e pescoço, mas elas também estão em todos os outros lugares. Cada uma é uma lembrança para mim e para todo o mundo do que eu era. Eu era o líder de um exército de condenados, e essas cicatrizes são minhas insígnias como general. Cada uma é uma vitória. Cada uma representa uma vida que eu tirei em batalha.” Eu recuei um passo para deixar essa vampira maravilhosamente boa dar uma boa olhada.

“Você vê, Alice, eu sou uma ameaça ambulante para qualquer um da nossa espécie que olha para mim. Não importa onde eu estiver ou o que eu estiver fazendo, eu sempre serei visto como uma ameaça perigosa. Eu serei sempre confrontado e enfrentado. Eu serei sempre visto como inimigo. Sempre.” Minha voz se partiu sob o fluxo de emoções, e eu tive que desviar o olhar. Ela iria embora agora, e eu sabia que não conseguiria suportar isso. Não agora. Não depois de sentir esperança pela primeira vez como vampiro. “Então agora você sabe. Eu sou um assassino dentre os assassinos, e eu nunca realmente soube o que é paz. Ninguém morreu hoje naquele pequeno confronto. Para mim, isso é inédito. Para mim, hoje tudo correu muito bem.”

Em um segundo, as mãos dela estavam de novo no meu rosto, traçando as linhas do meu pecado. Eu não conseguia comprender isso. Eu a olhei intensamente, tentando entendê-la, tentando entender porque ela ainda estava aqui. Então, mais surpreendente que o seu toque, um lindo sorriso apareceu no seu rosto perfeito.

Era como se ela não pudesse nem mesmo enxergá-las, como se ela não pudesse me enxergar.

“Você não as vê?” Perguntei novamente. Minha voz estava grossa por causa das emoções que ameaçavam me soterrar.

“É claro que eu vejo.”

“Você não compreende o que elas são?” Certamente ela devia saber.

“Eu sei o que elas são, Jasper, e eu sei o que você era.” Ela sussurrou enquanto suas mãos continuavam percorrendo meus traços e seu sorriso inexplicavelmente cresceu. Seu toque despertou em mim sentimentos para os quais eu estava completamente despreparado, e minha pele reagiu com uma necessidade quase violenta de que ela me tocasse mais. A reação foi tão intensa que me fez estremecer. “Eu apenas não as vejo como feias ou você como perigoso, e eu não me importo com o seu passado.”

Eu peguei as mãos dela com um pouco de força demais, mas ela precisava saber que estava errada. ”Você devia. Eu estive muito próximo de matá-la naquele restaurante.” Eu não conseguia conter a dor que saia de mim enquanto eu falava aquilo. ”Eu quase te rasguei em pedaços. Eu teria te matado instantaneamente e então aniquilado os humanos para ocultar o que eu teria feito. Você devia se importar muito com o que eu era e o que eu sou.”

“Eu te disse, Jasper Whitlock, que eu não me importo com o que você fez ou quase fez, e isso é final.”

Ela estava errada, mas eu não sabia como dizer-lhe. Ela se recusava a me abandonar, recusava-se a virar-se para longe do meu rosto horrível, e do aterrorizante e destruidor de almas passado que o havia produzido. Eu tentei desesperadamente pensar em maneiras de fazê-la entender, mas a esperança recém-criada escolheu aquele momento para florescer. A sua força despedaçou as paredes escurecidas do meu interior. Finalmente, eu sabia sem dúvida que ela me amava. Algo lá dentro se prendeu a este fato com um aperto inquebrável.

Eu estava perplexo quando ela me puxou em direção ao carro, incapaz de processar o que eu sentia emanando de nós dois. Eu não consegui suportar que ela se afastasse, e meu braço se moveu para circundá-la e puxá-la contra mim. Ela se enrijeceu, mas prontamente se encaixou ao meu lado.

“Está bem assim?”

“Sim. Está ótimo.” Enquanto ela pronunciava as palavras, sua mão conduziu a si mesma por sobre as minhas costas, enquanto ela se moldava a mim.

Eu não conseguia nomear metade das emoções que eu havia sentido naquelas últimas sete horas. Era como recusar-se a respirar por cem anos, e então tomar um primeiro fôlego num campo de flores. Eu ainda estava deleitado pelo fato de que eu estava sentindo e de que eu gostava do que sentia. Não, nomear essas emoções ainda não era possível.

As dela eram tão tumultuadas quanto as minhas. Eu conhecia a maior parte delas, e elas eram fortes o suficiente para me deixar pensando. Ainda assim, havia algo por baixo, algo que eu reconhecia bem demais. A sutil mistura de medo, culpa e ansiedade eram familiares demais para mim. Aquelas emoções contraditórias eram no melhor dos casos uma duplicidade e no pior, uma mentira. Eu empurrei a idéia para longe, mas ela se recusou a deixar a minha mente. Haviam mentido para mim por toda a minha condenada vida, e essa era a única coisa que eu não era capaz de tolerar. Se eu sentisse que Alice estava mentindo para mim, isso iria me destruir.

Um comentário:

  1. Quando vocês postarão capitulos de Renegado?? Não acredito que ainda não pude ler. Amo o blog até os dias de HOJE

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