terça-feira, outubro 05, 2010

Coalescence - Capítulo 02: Domando A Fera

[Alice]

Jasper segurou minha mão enquanto eu dirigia para meu prédio, e enrijeceu-se quando parei o carro. “Você mora com humanos?”

“Sim,” eu disse, tentando lê-lo. Por que meu apartamento lhe causaria preocupação?

“Eu não sou bom em ficar perto de humanos por muito tempo.”

“Nós não ficaremos aqui por muito tempo,” expliquei. “Eu tenho algumas coisas que preciso juntar, e alguns assuntos dos quais preciso cuidar, e depois eu iria mudar tudo para a minha casa em New Hampshire.” Eu não queria pressionar Jasper rápido demais, mas eu queria sim tê-lo para mim por algum tempo. Além disso, na cabana havia camas de ferro fortemente soldadas.

“Não te incomoda?” ele perguntou.

“O quê?”

“Estar tão perto de humanos.”

“Na verdade não. Eu moro no último andar, e você mal consegue sentir o cheiro deles de lá de cima.”

Ele pareceu cheio de dúvidas enquanto saiu e veio comigo até o porta-malas do meu carro.

“Com quantas coisas você viaja?” ele engasgou quando viu meu porta-malas lotado.

“Eu estava no casamento de uma amiga, então eu precisei de algumas coisas extras,” eu disse com um sorriso. Ele estava certo, eu não viajava exatamente com pouca carga.

“Casamento? “

“Sim. Era para uma amiga da faculdade que se casou. Eu cuidei das flores,” eu adicionei orgulhosa.

Ele apenas permaneceu parado segurando minha mala e me encarando.

“O quê?”

“Você acabou de dizer que você forneceu as flores para o casamento de uma amiga humana que você conheceu na faculdade?”

“Hm, bem, sim. Eu não cheguei naquela parte da minha vida enquanto dirigíamos. Eu vou te contar quando chegarmos lá em cima,” eu disse com um sorriso. Eu precisava prepará-lo. Aquela parte era difícil para todos os vampiros compreenderem.

Flores?”

“Oh, pelo amor de Deus, Jasper, ela era uma grande amiga, e isso era tudo o que eu realmente podia fazer por ela além de dar-lhe a casa.” Oops.

Seu sorriso torto apareceu de novo, e desta vez ele estava se divertindo muito.

“Casa?”

“Oh, apenas pegue aquela outra bolsa e venha. Eu estou vendo que isso vai levar um tempo.” Nós silenciosamente seguimos para dentro do meu prédio, e pegamos o elevador até o meu andar. Jasper parecia estar sentindo dor, mas ele simplesmente não podia estar com fome. Ele havia se alimentado de três homens essa noite. Nós não conversamos até eu fechar a porta do meu apartamento atrás de nós.

Duas coisas me deixaram muito desconfortável, e muito excitada ao mesmo tempo. Primeiro, Jasper estava na minha casa, e nós não tínhamos nada para fazer. Isso era muito bom, e também muito ruim. Segundo, Jasper estava segurando minha mala que continha a lingerie francesa que eu havia comprado antes do casamento de Emily, e nossos novos documentos. Apesar do quanto eu quisesse que ele visse essas coisas, eu não podia deixar isso acontecer. Pelo menos por enquanto.

“Deixe-me pegar isso de você,” eu disse enquanto removia a mala gentilmente e acenava em direção à sala de estar. “Sente-se, e eu já volto.”

Minha felicidade aumentou enquanto colocava as malas ao lado da cama. Jasper, meu Jasper, estava na minha casa.

Apenas para ver o quão forte ela era, eu apoiei meu joelho contra a armação da cama e empurrei. As duas pernas do lado oposto ao meu cederam com um ruído, e a cama tombou para o lado.

“Alice?” chamou Jasper. Ele dizia meu nome daquela forma muitas vezes, percebi.

“Não é nada, apenas esbarrei na cama.” Estúpida cama frágil. Eu suspirei e recoloquei a cama de volta nos seus agora bambos pés. Lá se foi aquela idéia.

Caminhei de volta para a sala de estar, e encontrei Jasper sentado no sofá olhando meu álbum de fotos. O que ele segurava continha as fotos da minha desastrosa viagem para a América do Sul.

“Onde foram esses?” ele perguntou enquanto levantava um dos meus desenhos.

“Aqueles são os Andes Peruanos. E aquele é de algumas árvores esquisitas no deserto de lá,” eu disse apontando para meu outro desenho. Eu me sentei ao lado dele, e senti a excitação pela sua proximidade de novo. Eu esperava que aquela excitação fosse se manter por toda a eternidade. Era como respirar pela primeira vez a cada vez que me aproximava dele, e eu precisava daquela sensação.

“Você é muito boa,” ele disse apreciativamente.

“Obrigada.” As palavras foram automáticas, mas seu elogio tocou de uma forma que nenhum outro jamais havia feito.

“Você deve ter sido uma artista antes.”

Aquela ideia já havia me ocorrido várias vezes. Eu me perguntava se, quando criança, eu costumava desenhar e colorir. “Eu realmente não sei,” suspirei, “mas gostaria de achar que sim. Foi por isso que fui para a faculdade.”

“Você realmente foi para a faculdade?”

“É claro. Eu sou formada em arte e design. É uma das poucas coisas reais ao meu respeito.” Aquela afirmação tinha um duplo sentido tão significativo.

“Por que diabos você foi para a faculdade?” Seu rosto detinha a mesma curiosidade e o mesmo olhar intrigado que todos os outros da minha espécie demonstravam.

Respirei fundo e olhei para o chão. “Eu não tinha nada quando fui criada. Eu não estava nem mesmo calçando sapatos. Eu lhe disse que tudo que eu tinha era um nome, e nunca vou saber se era meu, apesar de ele combinar bem comigo. A primeira coisa que eu obtive quando fui capaz foi um conjunto de roupas. Elas eram minhas. Elas eram a única coisa que realmente me pertenciam. Tenho tido uma necessidade por roupas desde então. Eu sei que é bobo,” adicionei, olhando-o de canto. Seu rosto estava quase impassível, exceto por um olhar que poderia ser de compaixão ou pena.

“Eu sei que vampiros não precisam de nada que os humanos almejam, mas quando você não tem nada e ninguém, bem, você aprende a dar valor às poucas coisas que você realmente possui.” Olhei para ele novamente, mas ele estava perdido em alguma memória. Sentimentos passavam pelo seu rosto tão rápido que eu quase não conseguia distinguí-los, mas eu parecia ter uma reação muito estranha a eles, quase como se os estivesse sentindo com ele.

Eu me perguntei se nós estávamos de alguma forma conectados.

Ele não disse nada, então eu continuei. “É por isso que tenho casas e carros, e é por isso que tenho um diploma real e verdadeiro. Eu precisava sentir como se eu fizesse parte daqui, como se eu realmente tivesse existido de verdade antes, como se eu tivesse uma vida.” Minha voz estava desfazendo-se num suspiro, então eu parei. Quando levantei o olhar de novo, vi o interior do vermelho brilhante dos seus olhos. As emoções dentro deles me pegaram de surpresa, e eu quase engasguei. Eu nunca havia visto uma expressão de tanta compreensão no rosto de alguém.

“Você não tinha nada, então você fez uma vida para si mesma,” ele disse simplesmente.

Eu acenei com a cabeça e senti minha esperança crescendo. Eu não era tão esquisita assim afinal de contas.

“Você fez dela a vida mais incrível,” seus olhos estavam presos nos meus. Comecei a sentir tantas emoções que eu tive dificuldade de olhar dentro daqueles olhos. Eu acho, pensei, que ele está orgulhoso de mim.

Ele estava se inclinando para muito perto agora, e nossos rostos estavam a apenas centímetros de distância. Eu podia até mesmo sentir seu hálito, misturado deleciosamente com o cheiro de sangue. Eu me perguntei se ele se importaria se eu beijasse sua boca. Eu queria tanto sentir seus lábios, e provar seu hálito doce que quase doía.

Então uma das minhas visões irritantes surgiu num flash pela minha cabeça. Ivan estava discando um número no seu telefone. Ele estava prestes a ligar. Eu decidi em uma fração de segundo que eu o ignoraria, e então a visão mudou para ele batendo na minha porta.

Eu odiava Ivan.

Eu suspirei assim que o telefone tocou. Jasper tensionou-se com o toque, e então observou interessado quando me levantei para atendê-lo. Eu tinha certeza que ele podia dizer exatamente como eu me sentia a respeito disso.

“Alô?”

“Quem é ele?” perguntou Ivan numa voz alta e irritada. Eu sabia que Jasper podia ouví-lo, e eu tinha certeza de que Ivan sabia também. Que grande pentelho.

“Seu nome é Jasper e ele é meu amigo,” eu disse sem alterar minha entonação. Preferi olhar para fora da janela do que para Jasper.

“Foi o que Mai-Li disse. Você devia nos avisar antes de trazer novatos para a cidade, Alice. Você não sabe para quem eles podem estar trabalhando. Nova York é um alvo primário, e nós não podemos correr nenhum risco com estranhos.” Sua voz não estava zangada ainda, mas havia um aviso nela.

“Jasper é um nômade. Ele não trabalha para ninguém, Ivan, e você devia saber melhor do que isso. Eu nunca colocaria nenhum de vocês em perigo.” Eu podia sentir minha raiva crescendo com as suas acusações teimosas e sua falta de confiança. “Eu já não provei meu valor depois de tantos anos?”

Ivan parou, e sua voz estava levemente mais amigável quando ele falou. “Eu sei que você não iria nos colocar em perigo, mas você não pode simplesmente ter certeza sobre outras pessoas. Cinco dias atrás, Chi-Yang e eu queimamos três vampiros que estavam nos seguindo. Eles quase escaparam de nós. Se outro bando estiver tentando se mudar para cá, eu não posso correr riscos.”

“Sinto muito.” Aquilo explicava a reação violenta que Chi-Yang havia tido com Jasper. “Eu realmente não traria ninguém aqui se eu não tivesse certeza.”

“Talvez agora você vá ficar aqui, para que as coisas não nos cheguem de surpresa, hein Alice?” As palavras eram de brincadeira, mas o tom não era. Se eu tivesse estado aqui, nada teria chegado até eles de surpresa.

Uma velha pontada de culpa cresceu em mim em resposta à crescente necessidade de proteger o que eu já não queria mais que fosse meu. Eu não precisava disso agora. Eu estava finalmente livre para encontrar a vida que havia estado me chamando desde o meu nascimento. Eu não queria ser atraída de volta para dentro de outra guerra entre bandos por uma cidade. Eu estava pronta para partir.

“Não posso prometer nada,” eu disse.

Ivan esperou por um momento, compondo sua resposta.

“Entendo. Bem, em qualquer caso, eu gostaria de conhecer esse Jasper. Eu sei que vocês vão pra Chinatown no sábado, e se vocês viessem para cá amanhã à noite? Lena e Vasily estarão aqui até lá.”

Fechei meus olhos e os vi correndo por algum campo indistinto em algum lugar no centro-oeste. Eles estavam assustando de propósito um bando de vacas enquanto corriam. Ivan devia tê-los chamado para casa.

“Ainda não sei se vamos para Chinatown,” eu comecei enquanto continha minha raiva da assunção de Chi-Yang, “mas eu ficaria feliz de vê-los todos amanhã.”

“Maravilha!” Sua voz traiu seu alívio. “Estou ansioso para conhecer seu, hmm, amigo. Além do mais, eu quero me certificar de que ele é bom para você,” ele sussurrou sem suavidade suficiente. Eu me encolhi enquanto Jasper dava um risinho.

“Ótimo! Te vejo lá,” eu disse rapidamente enquanto desligava.

Lancei um olhar para Jasper para ver o meio-sorriso cheio de diversão no seu rosto. Ele havia ouvido tudo. Se eu fosse humana, eu teria ficado corado que nem um tomate.

“Mais vampiros ursinhos de pelúcia?”

“Hmm, sim. Este era Ivan. Ele e seu irmão Vasily, e a parceira de Vasily, Lena, querem que a gente vá até a casa deles amanhã.” Eu rapidamente procurei e vi um rápido relance de Vasily e Jasper jogando xadrez, o que me chocou porque Vasily não fazia o tipo intelectual. Respirei fundo e fui me sentar ao lado de Jasper. “Nós não temos que ir à lugar nenhum. Eu posso pegar minha coisas e resolver alguns últimos assuntos, e nós podemos ir embora daqui.”

“Eu não me importo de conhecê-los. Ele parecia mais preocupado do que irritado no telefone. O que é melhor para você?”

“Não tenho certeza. Não há perigo nenhum para nós aqui.” A palavra nós quase ficou entalada na minha garganta. “Além disso, Ivan é realmente bem divertido, e eu acho que você poderia gostar de conhecê-lo.” Eu lancei um olhar para ele, e pela primeira vez reparei nas suas roupas. Elas estavam rasgadas e gastas pelo uso, mas não havia sangue algum. Ele era bom em ser vampiro.

“Nós devíamos ir comprar algumas roupas novas para você,” eu disse sem pensar.

“Isso é alguma ocasião formal?” O sarcasmo provocador pingava das suas palavras.

“Sim, na verdade é. Afinal, isso é Nova York, e nós temos que manter as aparências. “

“Roupas rasgadas não cumprem as expectativas?”

“Não, na verdade não.” Eu não estava brincando sobre isso. As roupas dele não lhe serviam muito bem e estavam bem manchadas. Inclinei a cabeça para olhar para ele, e ele sorriu para mim enquanto se alongava. Ele fez aquilo de propósito; vampiros não precisavam se alongar. Eu gostei disso, e, por um pequeno momento, minha mente ficou ocupada imaginando como era a aparência do longo corpo sob aquelas roupas largas.

“Há quanto tempo você está com essas roupas?” Eu perguntei.

“Três semanas. Eu estava planejando procurar por novas quando caçasse, mas nenhum dos homens que nós matamos era próximo do meu tamanho,” ele disse dando de ombros. Fazia tanto tempo desde que eu havia sido forçada a procurar por roupa daquela forma que a simples resposta me pegou de surpresa.

“Aqui é Nova York. Em Nova York, nós compramos roupas. Nós devíamos sair para fazer compras amanhã. Eu tenho óculos escuros aqui, e as sombras não vão atingir as ruas até meio dia, então para nós deverá ficar tudo bem.”

Ele franziu a testa suavemente enquanto considerava a idéia de fazer compras. “Seria mais rápido e fácil simplesmente matar alguém. Além do mais, eu não acho que jamais tenha ido comprar roupas.”

Senti meu queixo cair.

“Nunca?”

“Não.”

“Você nunca foi em uma loja para comprar roupas? Nunca?”

Ele riu para mim. “Alice, soldados não fazem compras. Nós matamos.”

“Mas e antes? Sua mãe ou pai nunca te levaram para fazer compras?” Eu não podia imaginar uma vida assim.

“Antes da Guerra Civil, nós geralmente fazíamos nossas próprias roupas ou pegávamos roupas de segunda-mão usadas por parentes. Me deram meu uniforme quando eu me alistei. Como vampiro, eu simplesmente matava alguém do meu tamanho e torcia pelo melhor. Está tudo bem com você?”

Acenei lentamente com a cabeça. Ele nunca havia tido suas próprias roupas. Nunca. Ele havia passado oitenta anos vestindo roupas de homens mortos. Bem, isso estava prestes a mudar.

Eu me senti sorrindo. Esta era a maneira perfeita de passar o dia. A neblina duraria até o fim da manhã, e as sombras dos prédios nos deixariam vagar livremente se eu fosse cuidadosa. Uma onda de pura excitação passou sobre mim. Esse seria meu primeiro presente para Jasper.

Encontrei seu olhar curioso, e pulei para o sofá próximo dele. Meu sorriso estava ameaçando dominar o meu rosto.

“Deixe-me mostrar-lhe a cidade e levá-lo em algumas lojas. Nós podemos comprar algumas coisas, e então você terá suas próprias roupas pelas quais ninguém morreu.” Eu me lembrei claramente do quanto aquela pequena vitória havia significado para mim.

Suas sobrancelhas se uniram em preocupação, o que não era exatamente a reação pela qual eu estava esperando.

“O que exatamente você quer dizer com ‘algumas’?”

“Eu quero dizer algumas. Apenas o bastante para te deixar com uma boa reserva.”

Ele olhou ao redor do meu apartamento com a sobrancelha levantada. “Eu acho que sua idéia de algumas e minha idéia de algumas podem ser diferentes.”

“Não se preocupe, Jasper. Eu não vou comprar mais do que você queira.” Eu sabia que isso provavelmente era uma mentira, mas essa era minha área de expertise, e eu não queria que ele arruinasse a minha diversão.

“Meus olhos nos entregarão, e não estará ensolarado?”

“Sim, vai estar ensolarado, mas os prédios lançam longas sombras, e eu tenho uma rota de compras muito boa que eu sigo para evitar o sol.”

Rota de compras? Com que frequência você faz compras?”

“Apenas quando preciso,” eu disse com um sorriso. Era verdade. A coisa era que apenas eu tinha um monte de necessidades. “Além do mais, nós podemos pegar algum dos meus óculos escuros para você usar para fazer compras.”

“Alice, eu não sou bom em ficar ao redor de humanos.” As palavras foram ditas com significado.

“Jasper, você acabou de comer, e comigo perto de você, você não vai ter tempo nem pra pensar em comida.” Acredite em mim. “Nós podemos apenas comprar as coisas, e eu posso ajustá-las a você aqui. Você não vai precisar nem mesmo ser medido por um humano porque eu posso fazer isso aqui também.” Tentei manter minha expressão feliz enquanto uma sensação quente se espalhava por todo o meu corpo. Não havia calor algum, apenas uma incrível antecipação com a idéia de tocá-lo.

“Eu não estou acostumado a estar perto de tantas pessoas. Eu não me saio bem quando estou com humanos.”

Eu não entendia. “É incômodo para você estar aqui?”

Ele parecia desconfortável, e eu senti uma pontada de ansiedade. Eu devia tê-lo levado para New Hampshire.

“Não é tão ruim aqui,” ele disse após uma pausa. “O cheiro deles não é forte demais, e você está completamente isolada no último andar. É apenas um tanto estranho ter tantas pessoas tão perto e não as estar caçando.”

De maneira alguma eu iria deixá-lo me convencer a sair dessa.

“Jasper, por favor me deixe te levar para fazer compras. Por favor? Eu quero compensar as coisas por Chi-Yang, e eu quero fazer isso para você. Quero que você se sinta confortável e bem-vindo aqui, e novas roupas que sirvam em você apropriadamente vão ajudar com isso. Vampiros com roupas largas chamam atenção.”

Ele suspirou e levantou o olhar para o teto. “Se não for por muito tempo, eu acho que consigo suportar algumas lojas.”

“Deixe-me pegar minha fita métrica e tirar suas medidas.” Eu quase saltitei para fora do sofá para ir pegar meu kit de costura. Eu estava delirando com a idéia de medir seu corpo. Eu precisaria ser muito cuidadosa para não ir longe demais porque a idéia de passar aquela fitinha fina ao redor dele estava me deixando tonta.

Voltei com a fita, e fiz um sinal para ele se levantar. Ele havia se acomodado no sofá, estirado e relaxado, e ele tinha uma expressão totalmente perdida em pensamentos em seu rosto repleto de cicatrizes. Ele se levantou num único movimento, sem o menor esforço, e ficou de pé na minha frente, ainda sorrindo seu meio-sorriso. Cada cristal do meu corpo tornou-se excessivamente ciente do quão próximo ele estava de mim.

Eu puxei a fita métrica de seu rolo apertado, e a rasguei.

“Oops,” eu dei um risinho, um pouco nervosa demais. Rapidamente peguei a segunda fita e muito cuidadosamente estendi e a trouxe para perto do seu pescoço. Para isso, eu tive que ficar nas pontas dos pés e estender meu corpo contra o dele. Ele estava perfeitamente parado, olhando-me da maneira mais desconcertantemente divertida. Era quase como se ele soubesse exatamente o que eu estava sentindo e achasse a coisa toda engraçada. Foi preciso dar tudo de mim para medir seu pescoço e memorizar o número.

“Qual é o tamanho?” Ele perguntou lentamente. Seu hálito deslizou por meu rosto, e eu olhei para cima de novo, ainda na posição estranha. Eu sabia que devia me mover, mas eu estava atraída ao corpo alto deste homem numa maneira que imitava a forma como éramos atraídos por sangue. Eu precisava sentir seu peito contra o meu. Eu tive que forçar o meu corpo para deslizar para longe dele.

“Trinta e nove e meio.” Eu pisquei duas vezes e recobrei minha sanidade. “Você precisa se virar.” Ele instantaneamente virou de costas para mim.

Sem seus olhos e sorriso, eu fui capaz de me concentrar um pouco melhor. Rapidamente medi suas costas e comprimento do braço, e então levantei seus braços para tomar a medida para a manga. Ele realmente era um tanto magro, e eu me perguntei o quão bem ele tinha sido capaz de comer antes de ser transformado.

Era a hora de medir sua cintura, e eu me agarrei à minha força de vontade para controlar meu agora bastante incontrolável corpo. “Agora a cintura,” eu murmurei enquanto passava os braços ao redor dele.

Rapidamente deslizei a fita ao seu redor e memorizei a medida. E eu parei. A última medida era a de dentro da perna. Senti um inchaço estranho se espalhar pelo meu rosto e descer pelo meu pescoço, enquanto eu pensava sobre medir a parte de dentro da sua perna. Se eu fosse humana, eu teria ficado vermelho-vivo. De novo.

“Você sabe a medida da parte interna da sua perna?” eu perguntei o mais calma que pude. Mesmo tentando ficar calma, minha voz se esganiçou levemente.

Ele ficou quieto por um momento e me perguntei o que ele estava pensando. Então eu me perguntei como diabos eu iria conseguir aquela medida se ele não soubesse.

“Oitenta e nove ou noventa,” ele disse numa voz profunda. Havia um tom muito rouco nela.

Ele se virou para olhar para mim, e havia algo novo nos seus olhos que eu não conseguia compreender, mas reagi àquilo imediatamente. O estranho calor que aparecia mesmo sem estar quente me preencheu de novo.

Levantei o braço para traçar o seu rosto. Ele permaneceu perfeitamente imóvel enquanto minha mão suavemente traçava a linha do seu cabelo. Então percebi duas folhas de pinheiro em suas madeixas. Abafei o riso enquanto as retirava. Como eu não as havia percebido antes?

“Quando foi a última vez que você lavou seu cabelo?” eu ri. Ele sorriu e correu os dedos fortemente pelos grossos cabelos dourados. Mais quatro folhas e um ramo seco caíram no chão.

“Eu entrei num rio há cerca de uma semana,” ele deu de ombros. “Isso não é tão ruim. Mês passado tinha um pinho nele, e eu tive que arranjar aguarrás para tirar a seiva.”

“Eu posso fazer melhor do que um rio aqui. Vou preparar a banheira, ou você prefere chuveiro?”

Ele me olhou com a expressão vazia. “Vamos começar com a banheira, e você pode tentar o chuveiro mais tarde. Que tipo de xampu você usa?”

“Eu não uso.”

Isso também precisaria terminar. “Eu tenho uma ótima seleção de opções, mas talvez o melhor para você deva ser o de côco. O resto tem cheiro de flores.”

“Não quero ficar com cheiro de flor,” ele quase rosnou. “Eu tomo banho quando preciso, e água fria e corrente funciona muito bem.”

Talvez eu estava lhe empurrando a civilidade um pouco rápido demais.

“Você com certeza não precisa tomar banho. Você não está tão sujo assim,” eu disse diplomaticamente quando uma folhinha marrom caiu da sua cabeça. “Eu apenas tenho uma banheira disponível, e tomar banho com água quente é muito mais prazeroso do que num rio.”

Ele suspirou de novo. “Acho que seria. Eu não tenho tomando um banho quente há uma década ou mais,” ele deu de ombros. “Só não estou acostumado a me preocupar com esse tipo de coisa.”

Sorri para ele. Eu queria fazer tantas coisas por ele. Eu sabia que um banho não lhe faria feliz, mas talvez lhe mostraria que eu me importava.

“O de côco não tem nem um pouco de cheiro de flor, e o xampu vai tirar tudo,” eu disse enquanto agarrava sua mão para conduzi-lo até a entrada do banheiro. Lhe entreguei o pequeno frasco de xampu e ordenei, “cheire,” enquanto ligava a água da banheira.

Ele cheirou a garrafa e levantou as sobrancelhas. “Isso está bem para os seus padrões?” provoquei.

“Não é ruim,” ele deu de ombros. Eu me espremi para passar por ele e peguei duas toalhas. Ele as pegou com um olhar questionador, mas não disse nada.

“Hm, o sabão está aqui,” eu dirigi sua atenção para a barra pequena e branca. Ele pegou o rosa que estava ao lado desse e franziu o nariz após cheirá-lo.

“Eu gosto do cheiro de rosas,” eu disse, mas sei que você não. O branco não tem cheiro de nada a não ser sabão.”

“Para que você precisa de sabão com cheiro de rosas? Você já cheira como um campo cheio de flores.”

“Eu gosto que meus itens de higiene enfatizem meu cheiro ao invés de competirem com ele.”

Ele piscou duas vezes antes de continuar. “Eu usualmente me limpo com areia do rio. Ela funciona bem. Não posso imaginar como aquele sabão poderia funcionar tão bem.”

Eu havia feito a mesma coisa pelos primeiros cinco anos da minha vida. Eu não havia nem mesmo cogitado usar sabão até ir morar com Edwina e atacar seu infinito suprimento de sabonetes perfumados.

“Sabão não funciona tão bem para esfregar, mas é muito agradável e não pinica depois.” A areia irritava até mesmo as nossas peles quando atingia os locais errados.

“É a mesma coisa com o xampu. Vai limpar o seu cabelo, só não tira piche ou seiva, e é tão gostoso quando você o esfrega na cabeça. Eu acho que você vai gostar da sensação.” Estendi o braço e fechei a torneira da banheira.

“Eu tenho certeza de que você vai gostar disso. Me conte o que achou de tudo quando tiver terminado.”

“Obrigado.” Ele disse simplesmente. Eu sorri para ele, e rapidamente saí do banheiro.

Fui até o sofá e tentei me concentrar em tudo, menos na idéia de que Jasper estava tomando banho na minha casa atrás de uma porta fina e facilmente destrutível.

Hoje não havia sido nem um pouco como eu havia planejado, e eu estava desejando mais e mais que eu pudesse simplesmente correr para New Hampshire e simplesmente deixar toda a bagunça de Nova York para trás. Eu o conhecia fazia um total de nove horas, e nada estava indo direito.

Dei um suspiro pesado e comecei a fazer o que precisava. Olhei à frente para ver o passeio até as lojas, o encontro com Ivan, e o sábado com Chi-Yang. Meus vampiros ursinhos de pelúcia estavam rapidamente se tornando um enorme problema.

As compras iriam bem se nós nos limitássemos às lojas menores. Eu podia ver que não haveria maiores problemas a não ser de que Jasper era de fato facilmente distraído pelos humanos, e eu teria que tomar cuidado para me certificar de que nada ameaçador à vida acontecesse. O único outro ponto era o quão aborrecido Jasper parecia estar. Típico dos homens.

O dia com Ivan parecia tão inofensivo quanto. Eu podia ter vislumbres de Mai-Li exibindo alguns pergaminhos de bambu e Chi-Yang exibindo sua vasta coleção de itens antigos de guerra. Ele tinha mais espadas do que um museu. Eu também vi ele e Jasper caçando no que parecia ser um cortiço. Meu coração afundou. Jasper ainda era um vampiro, e eu não estava nem ao menos perto de conseguir fazê-lo provar um animal.

As coisas pareciam em seu lugar e inofensivas, então decidi empurrar as visões para ainda mais à frente. Procurei mais para o futuro, tentando ver quando deixaríamos Nova York e o que viria a seguir. Eu sabia que seria difícil porque nós ainda não havíamos nem mesmo feito planos, mas tentei captar apenas uma visão rápida.

Três visões vieram em sequência. Elas eram borradas, mas claras o suficiente para que eu soubesse o que continham. A primeira era de Jasper correndo com uma expressão de medo no rosto. Eu já havia visto essa, mas ainda doía muito. Fiz força para passar pela visão, esperando ter um vislumbre de outro futuro.

As próximas duas visões descenderam num flash e eram muito piores. Eram ambas de incêndios. Cobri minha boca para conter o grito de dor enquanto as visões perfuravam minha mente. O primeiro incêndio parecia pequeno, mas eu estava olhando para fora das chamas. O segundo incêndio era maior, e eu estava no lado de fora observando corpos de cristal queimando. Nenhum deles continha Jasper. O medo paralisou minha mente enquanto ela se enchia de um único e terrível pensamento. O que eu havia feito?


[Jasper]

Contra minha vontade percebi que o calor era inacreditavelmente relaxante. Eu não havia me banhado propriamente por tanto tempo que havia me esquecido o que a água quente podia fazer pelos nossos corpos frios. Eu não queria admitir isso porque significaria que Alice estava certa.

Que mulher confusa!

Comecei a me perguntar se ela sequer sabia como era viver como um vampiro normal. Carros, roupas, faculdade e sabonetes perfumados estavam o mais distantes da minha vida quanto seria possível.

Eu tinha a desconfortável sensação de que a minha simples e despreocupada existência havia acabado de terminar. E eu não poderia estar mais feliz. Senti meu rosto sorrir enquanto lembrava de sua alegria infantil e seu entusiasmo contagiante. Ela possuía tanta vida dentro dela; mais do que eu jamais havia visto em nenhuma criatura viva.

Ninguém jamais havia se preocupado que eu tivesse um banho decente ou que minhas roupas servissem. Eu nunca havia me importado, até ver que ela se importava. Se tivesse sido qualquer outra pessoa, eu o teria derrubado no chão por ter sugerido que eu comprasse roupas, mas como veio dela, a sugestão era apenas um pouco perturbadora. Também era inacreditavelmente bondosa e cheia de preocupação. Eu tinha certeza de que eu não iria gostar de fazer compras, mas eu amaria passar algum tempo com ela. Eu a seguiria até o fundo do oceano se ela quisesse ir lá.

Balancei a cabeça e então submergi completamente na água. Eu me senti ter um calafrio quando pensei sobre porque ela me queria apropriadamente alimentado e vestido.

Ela cuidava de mim. Ela se importava comigo.

Eu não podia entender o porquê, e eu absolutamente não merecia. Ela merecia algo muito melhor do que eu.

Como podia alguém tão repleto de vida ser atraído para alguém tão imerso na morte?

Comecei a usar o sabonete irritantemente escorregadio na minha pele. Ele escorregou da minha mão várias vezes enquanto eu tentava esfregá-lo sobre mim mesmo. Mãos de pedra não se adaptam muito bem com sabão. Mas ela estava certa, ele realmente havia me limpado, e eu estava feliz que não iria pinicar como a areia fazia.

Quando finalmente cobri meu corpo com espuma, eu derramei uma mão cheia de xampu sobre a minha cabeça e comecei a esfregar. Minha cabeça espumou como a boca de um cão raivoso. Rosnei em frustração. Eu devia ter colocado demais.

Gemi quando inalei o agradável aroma e senti a água ensaboada entre os meus dedos, porque ela estava certa, de novo. A sensação era boa. Aquela mulherzinha havia conseguido me transformar de um assassino em um maricas.

Maldita seja ela.

Subitamente, uma onda de pânico me apunhalou. Ela veio tão subitamente que eu não tive tempo para me preparar. Eu quase saltei para fora da banheira. O medo vinha de Alice, e era tão contagiante que a sensação era como de um corte. Então, antes que eu tivesse a chance de reagir completamente, ela foi controlada e diminuiu um pouco. Procurei pelo som de uma luta, mas não veio nada. Eu ainda podia sentir seu medo, mas agora era uma dor fraca. Ainda assim, eu caí para dentro da água e limpei o máximo do caos ensaboado que consegui. Então, agarrei as toalhas dela e rapidamente comecei a me secar.

Eu não sabia o que havia lhe causado dor, mas eu sabia que faria qualquer coisa que estivesse ao meu alcance para pará-la.

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