sexta-feira, outubro 15, 2010

Coalescence - Capítulo 07: Fantasmas Do Passado

[Alice]

Os rastros de Jasper e seu cheiro eram quase impossíveis de seguir, então tive que seguir o rastro dolorosamente óbvio dos outros. Eram quatro diferentes cheiros e pegadas, e nenhum deles ao menos tentou esconder sua passagem. Suas trilhas desviavam e voltavam enquanto eles perdiam e achavam o rastro de Jasper. Muitas vezes eu temi que eles o tivessem perdido e voltariam para me encontrar, mas isso nunca aconteceu. Quem quer que fossem eles, eram implacáveis em sua caçada.

E a visão do fogo nunca se desbotou.

Voamos sobre as colinas e montanhas baixas de Allengheny e então fomos mais ao sul e oeste, até que estávamos nas densas florestas dos Apalaches. Jasper estava usando córregos e rios que corriam nos cumes entre os picos para tentar esconder seu cheiro. Eu estava grata pela floresta não esconder somente nossa pele, mas também marcar seu caminho tão claramente.

Enquanto voei por cima das árvores, eu tentava manter minha cabeça apenas na busca. Eu me mantive insensível ao tumulto que estava dentro de mim, focando apenas na busca de Jasper. A corrida era o único jeito de manter o medo e a perda incapacitante controlados. Então enquanto eu estava indo em direção à ele, enquanto eu ainda tinha um propósito, nenhum desses medos poderiam me vencer. Eu não pensava no que poderia acontecer se ele fosse pego pelos outros.

Ou o que seria de mim se ele realmente não me quisesse.

Nós tínhamos corrido a maioria das cordilheiras e rios que compõem a area do Apalache quando uma visão me absorveu tão completamente que eu dei de cara e derrubei um grande carvalho. Jasper corria no crepúsculo em uma floresta fina. Ele ainda estava entre os montes baixos, mas as vastas planícies se estendiam diante dele. De repente ele mudou a direção, e correu indo ao sul, contornando as árvores e tentando permanecer na cobertura da floresta esparsa. Com um rugido de vitória, um grande vampiro o atacou por trás de uma moita. Eles colidiram com uma explosão metálica. O atacante envolveu Jasper em um abraço apertado de urso, e começou a rodar com ele pelo chão da floresta. Enquanto eu assistia aterrorizada, outros dois se empilharam sobre suas formas, esmagando Jasper no chão.

“Não!” Arfei enquanto eu ficava de pé.

Despedacei o resto do carvalho de cima de mim e comecei a correr novamente. A visão me deixou a mercê do medo, e a dor cortante da perda esfaqueou meu peito. Nada além de Jasper importava agora. Olhei para cima e vi os raios do sol tocarem o topo da colina na minha frente. Eu estava sem tempo.

Eu me esforcei mais fortemente, mas minha velocidade já estava em seu pico. Eu procurava desesperadamente pelos lugares da visão, as baixas colinas, a floresta e as planícies entre ela, mas não as achei antes que o sol já tivesse ido do céu. No momento que reconheci a paisagem, um rugido fraco e um baque metálico alcançaram meu ouvido. Era à minha esquerda.

Corri para frente, quase explodindo no meio da cena com minha pressa. Jasper estava sendo puxado do chão por três vampiros. Eles estavam gritando e rindo em vitória, e apesar que Jasper lutou de volta, ele estava totalmente preso pelas forças deles. Dois seguravam seus braços, e o menor dos três estava logo atrás dele, segurando seu peito com uma mão e seu cabelo com a outra.

Meu mundo ficou vermelho de ódio. Empurrei para trás o ataque violento de visões enquanto eu tentava desesperadamente chegar desapercebida por trás dos atacantes.

“Então este é o grande Jasper Withlock!” Riu o menor deles, cuspindo veneno enquanto falava. “Carlos vai me promover por isso”, ele sussurrou, puxando fortemente a cabeça de Jasper pra trás. Eu suprimi meu rosnado. Ele seria o primeiro a morrer.

“Nós devíamos montar nele. Arrancar sua cabeça e pendurá-la na parede”, declarou o maior, falando em espanhol. Os outros riram duramente.

“Ah, sim. Isso é perfeito, Jose. Isso provaria que o capturamos, e ele poderia passar o resto da eternidade nos observando.”

“Carlos tem ordens restritas”, vociferou o de cabelo comprido que segurava o braço de Jasper em uma torção agonizante. Jasper estava se esforçando, mas não havia nada que ele pudesse fazer sozinho para sair dos braços deles.

“Nós o destruiremos por inteiro.”

“Não,” argumentou o pequeno, que deveria estar no comando, “Não, não vamos. Eu quero a prova. Se Carlos queimar a cabeça dele depois que a dermos, tudo bem, mas eu quero que todos saibam quem pegamos.”

Eu tive que silenciar meus gritos enquanto as visões invadiam minha mente. As visões brilhavam furiosamente, me mostrando vários futuros, e nenhum deles era bom. Eles iam forçar Jasper para baixo e arrancar sua cabeça. Ele lutaria, mas ele não poderia ganhar. O fogo o consumiria.

Eu estava quase com o grupo, mas tive que fazer uma pausa para as visões passarem. Minha raiva redrobrou enquanto minha frustração aumentava. Como eu podia salvá-lo se as visões não cediam? Seria o meu dom que custaria sua vida?

Eu estava tão perto que se eu rugisse, eles me ouviriam. Engoli para dentro o medo e a raiva crescente das visões, e agachei para atacar. Não havia saída, mas eu tentaria. Dei dois passos, silenciosamente me aproximando das costas do pequeno homem que eu mataria. Eles estavam colocando lentamente Jasper para baixo, seu corpo lutando contra eles e rosnados ameaçadores e gemidos vinham de sua figura contorcida.

Por apenas um momento as visões mudaram, e esse pequeno momento foi o suficiente. Pulei, mas antes que pudesse sequer sair do chão, minha mente me mostrou a razão para a mudança da visão, eu estava sendo agarrada por trás por outro. Meus braços voaram para parar os braços que me cercariam, mas era tarde demais.

Encontrei meus braços sendo esmagados contra minhas costelas em um aperto que só poderia ser de um recém-nascido.

Rugi com a minha ira enquanto eu tentava me contorcer para fora de seu aperto, mas o rugido se transformou em um murmúrio enquanto ele continuava a me apertar. Comecei a sentir meus braços e minhas costelas se comprimindo a ponto de uma fratura, e uma forte dor irradiou do meu centro.

“Seja boazinha”, sussurrou meu captor com outra constrição. “Seja boazinha ou eu te esmagarei agora”. Parei de me mover para mostrar que entendi.

Na minha frente, eu ouvi um choro alto seguido por uma blasfêmia e um rugido selvagem. Vi Jasper se debater violentamente, raiva fluindo dele em cada movimento. A pressão sobre minhas costelas aliviou, e eu fui capaz de girar um pouco para vê-lo.

Ele estava lutando contra os braços do outro, mas ele estava impedido de se mexer. Suas pernas chutavam e seu corpo se retorcia e contorcia, mas não havia jeito dele escapar. Os olhos dele encontraram os meus, e eu vi uma fúria selvagem, desesperada e dolorosa. Balancei minha cabeça para fazê-lo parar, mas ele continuou sua impossível luta de qualquer maneira.

O movimento foi o suficiente para alertar o recém-nascido. Seus braços imediatamente se apertaram ao meu redor, e eu solucei com a dor cortante.

“Pare ou eu acabo com ela agora.” O recém nascido gritou para Jasper. As palavras estavam cheias de ameaça.

Jasper parou de lutar instantaneamente, e a dor aliviou apenas um pouco. Ele já havia feito algum dano no meu braço esquerdo, porque ele estava estranhamente entorpecido.

O menor dos homens acenou para seus companheiros, eles forçaram os braços de Jasper brutalmente para trás e o agarraram nos ombros e no pescoço pela parte detrás. Então o pequeno deixou Jasper e andou na minha direção.

“Ora, ora. Quem é você, pequena?” Ele estendeu a mão e tocou minha bochecha suavemente com o dedo antes de puxar a mão para trás e me bater forte no rosto.

Ouvi o grito enfurecido de Jasper atrás do homem que agora bloqueava totalmente minha visão. Ele veio mais perto, até que seu rosto quase tocou o meu, e respirou fundo.

“Hmm, você tem uma mistura única em seu cheiro. Seu perfume é de flores, mas seu aroma ainda assim é da cidade.” Ele respirou novamente e ronronou em perversa satisfação, “Ah sim, os cheiros de Nova York ainda estão fortes em você. Nós pegamos um membro de um clã.”

Minha raiva quente se transformou em gelo.

“Nós podemos usá-la”, disse o recém-nascido atrás de mim. “Usamos ela para entrar na cidade, ou a levamos para Carlos?”

O pequeno traçou seu dedo lentamente pela minha face. Tentei me afastar, mas eu não tinha para onde virar minha cabeça.

“O que você diz, pequena? Você nos ajudará ou eu devo destruí-la devagar? Eu irei obter as informações que preciso”. Eu podia ouvir Jasper lutando atrás dele.

“Por que apenas não a levamos para Carlos? Nós percorremos um longo caminho vindos do sul, ele deve estar a poucas horas daqui”, disse a voz atrás de mim. Permaneci parada, e seus braços aliviaram por uma fração o aperto.

“Nós temos ordens”, disse o de cabelo longo. “Nenhum sobrevive. Destruir tudo o que vier no nosso caminho.”

“Cale a boca! Eu estou no comando, e eu digo que pegaremos as informações que pudermos antes. Tenho a sensação de que eles nos falarão tudo o que precisamos saber”, disse o pequeno em satisfação.

“Eles?”

“Ah, sim. Eles nos falarão tudo o que precisamos, e talvez mais, se apenas perguntarmos direito”, a ultima palavra foi um grunhido.

Ele se moveu para o lado, deixando os olhos de Jasper e os meus travarem uns nos outros. O rosto de Jasper estava horrorizado. O pequeno riu e esfregou suas mãos.

“Ela não sabe de nada”, Jasper tentou botar para fora as palavras ásperas contra o braço que estava esmagando seu pescoço. Meu medo e raiva cresceram novamente.

“Eu discordo. Além do mais, não é o que ela sabe, é o que ela é, e o que ela é para você.” Ele puxou seus lábios finos entre seus dentes em um sorriso rosnado.

“Sim, toda a informação que precisamos está bem aqui, e nós vamos conseguir isso de uma forma ou de outra.” Seus olhos frios se voltaram para mim. “Segure-os firme,” ele ordenou e então se virou, assobiando.

Aquele que estava me segurando se moveu inquieto. “Eu odeio isso”, ele sussurrou.

“Você vai se acostumar com isso logo”, disso o de cabelo comprido. Ele apertou a virada que torcia o braço de Jasper e eu o vi fazer uma careta de dor. “Eu ao menos vou gostar de vê-lo queimar lentamente”.

“Eu quero vê-lo vendo ela queimando,” disse o que falava espanhol. Jasper rosnou para ele.

Meu estômago revirou debaixo da pressão do braço do recém-nascido. Eu tinha que achar uma forma de escapar, mas minhas visões não vinham.

“Mas ela é tão pequena”, gemeu o recém-nascido, e eu senti uma forte onda de emoções passar por mim. Talvez isso fosse compaixão. O recém-nascido se moveu e eu pude ver que ele sentiu o mesmo.

“José, isso não é necessário. Ela não será um problema, não precisamos fazer isso”, disse o recém-nascido em resposta ao sentimento. Uma segunda onda de emoções me atingiu, tão forte que segurou meu medo por um momento. Fechei meus olhos, para me acalmar e focar minha mente. O fogo me atingiu novamente. A visão dele foi mudando e se transformando, mas sempre estava lá. Eu tentei voltar um pouco, para tentar ver quem estava nele e como chegamos nesse ponto. Duas rápidas imagens me deram um lampejo de esperança. Primeiro, eu vi a face do recém-nascido nas chamas, segundo, vi o recém-nascido me colocando de lado. Se ele fizesse isso, eu seria capaz de eventualmente escapar de seu aperto inquebrável.

Ouvi vários baques atingirem o chão à minha esquerda. Eu não abri meus olhos. Senti outra onda de piedade me atingir, e o recém-nascido se moveu novamente.

“José, eu preciso do combustível”, chamou o pequeno, e então eu ouvi o barulho de chamas.

Outra onda de compaixão, ou talvez pena, berrou por mim, desta vez misturada com medo.

E então eu soube. Isso estava vindo de Jasper.

Olhei para ele e seus olhos pediam para eu entender alguma coisa. Piedade, compaixão, medo, tudo me invadiu novamente.

“Derrube-o,” vociferou o menor deles. Jasper lutou para se manter em pé, mas o pequeno ajudou os outros e o forçou a ficar de joelhos. Fiquei entorpecida. Jasper olhou para mim de novo e as emoções se arrastaram.

Eu entendi.

“Por favor, não”, eu implorei. E o pequeno estava imediatamente do meu lado.

“O que você me dará?”

“O que você quiser, mas por favor não nos machuque”, implorei novamente, deixando meu medo muito real vacilar minha voz. O aperto do recém nascido diminuiu de novo.

“Eu quero Nova York”, ele rosnou.

Eu estava procurando minhas visões, tentando viver entre o mundo presente e o mundo do possível futuro. O pequeno notou minha hesitação e agarrou meu cabelo para levantar minha face.

“Eu não acho que você percebe o que vou tirar de você. Não vou parar até ter a cidade em minhas mãos. Vou assistí-la morrer por horas e me divertir com isso. Você entendeu?”

Pude sentir a incerteza do homem que me segurava com seu punho. Ele se movia constantemente, mas seu aperto ainda não havia hesitado. Eu tinha que usar sua fraqueza.

“Nova York não é minha para eu te dar, mas-” uma mão acertou meu rosto com força novamente. O rosnado estrangulado de Jasper arrebentou através de mim.

“Então, você não tem nada do que eu precise,” ele disse com facilidade e andou de volta para Jasper de joelhos.

“Por onde devemos começar?” Ele começou a puxar o cabelo de Jasper para trás e examinar seu rosto e cabeça. Ele iria arrancar a orelha de Jasper.

“Eu não sou a líder do clã”, gritei rapidamente entre a onda de pânico e as visões que agora surgiam na minha cabeça. Isso aconteceria em breve. Fuga ou morte estavam apenas a um momento de distância.

O pequeno olhou para o de cabelo comprido.

“Eu não sou a líder, mas eu sei como me infiltrar.” Tentei soar derrotada, como se tivesse desistido e estivesse escondendo um grande segredo.

O pequeno olhou entre Jasper e eu e sorriu maliciosamente. “Talvez eu tenha estado indo errado com tudo isso”, ele disse enquanto esfregava as mãos de novo. Ele andou até mim. Minhas visões me mostraram que o recém-nascido me moveria. Quando meus olhos viram de novo, o pequenino estava a alguns centímetros de meu rosto.

“E você Jasper? O que você está disposto a me dar?” Piedade e medo rugiram através de mim. O menor agarrou minha mão e começou a inclinar meu dedo mindinho para trás bem lentamente. “Ou melhor ainda, o que você está disposto a deixá-la perder?” Engoli em seco e tentei inutilmente puxar minha mão quando percebi o que ele estava fazendo.

“Qualquer coisa”, Jasper gemeu em desespero.

“Eu preciso do líder, aquele que vê o futuro. Aquele que nos impediu anos atrás e continua a nos impedir. Estou aqui para achá-lo e matá-lo.” Pânico cresceu e torceu dentro de mim.

“É o chinês. Ele é quem você quer, mas ele é muito bem protegido e letal.” Jasper resmungou contra a pressão em seu pescoço.

O pequeno pegou mais dois dedos e os puxou fortemente. Gemi com dor enquanto pequenas fissuram se formavam e se espalhavam em minha mão. Medo e piedade fluíram em mim como um dilúvio, e naquele momento, o recém-nascido me deslocou para longe com seu braço, como se para me proteger. Foi tão rápido que eu não seria capaz de usar isso se eu não tivesse sido avisada antes.

Enquanto o recém-nascido começou a me mover, eu executei uma virada aguda e chutei com minhas pernas, quebrando o aperto dele e puxando minha mão para fora do aperto do pequeno. Rugidos de raiva saíram do grupo enquanto eu empurrei o recém-nascido e lancei-me para o menor, em suas costas.

O recém-nascido estava atordoado e não reagiu de primeira, e naquele momento, eu afundei meus dentes no pescoço do menor e comecei a torcê-lo tão forte quanto eu podia. Suas mãos revidaram, pegando meus braço e então travando suas mãos sobre as minhas para parar a remoção de sua cabeça.

Ele me girou para enfrentar o recém-nascido, e eu vi o golpe do vampiro um momento antes de ele acontecer. Eu mal tive tempo de virar meu corpo inteiro e me agachar. O punho do recém-nascido bateu na cabeça do menor, ao invés de mim.

Enquanto eu ouvia o estalo, minha mente se focava apenas em Jasper. O de cabelos longos iria arrancar sua cabeça em apenas um segundo. Corri até ele, pulando sobre a forma curvada de Jasper e agarrando os cachos negros de seu cabelo comprido enquanto eu passava. Deixei o ímpeto de meu salto levar o vampiro de cabelos longos para longe de Jasper. Ele soltou o braço de Jasper, mas ainda segurou sua cabeça em um estrangulamento. Caí para trás com a massa de cabelos negros ainda em minhas mãos, puxando o de cabelo comprido e Jasper comigo.

Cabelo Comprido urrou de raiva e agarrou meu braço com sua mão livre. Mas agora ele estava fora de equilíbrio e entre Jasper e eu. Jasper começou a golpeá-lo no rosto com a mão livre, mas o braço do Cabelo Comprido ainda estava em volta de seu pescoço, e o chamado José estava puxando Jasper para o lado oposto, tentando separar seu corpo de seu pescoço.

Eu não tinha tempo para ir matá-lo, e ao invés disso agarrei o braço do Cabelo Comprido e o tirei do pescoço de Jasper com um rugido. Jasper estava instantaneamente em uma batalha com José enquanto o de cabelo comprido torcia meus braços e me agarrava violentamente. Minha camisa rasgou quando suas mãos não me acertaram por menos de uma polegada. Eu dancei em volta dele, tentando tirá-lo de balance puxando seu cabelo enquanto ele me puxou para ele com um braço e tentou me atacar com o outro. Ouvi um grito adoecido e o crack do desmembramento, mas eu não podia ver quem tinha sido despedaçado.

Braços fortes se estenderam por baixo de meu braços que ainda lutavam e cercaram meu peito.

“Rasgue-a,” o menor rugiu em meu ouvido enquanto me puxava de volta. Cabelo Grande começou a puxar o braço que ele ainda segurava. Eu chutei ele, mas minhas pernas eram muito curtas para acertar seu corpo. Senti a pedra que era meu braço ser puxada, e gritei de dor e fúria.

Com um solavanco, eu caí de volta no Pequeno. Virei para olhar meu ainda intacto braço esquerdo maravilhada. Eu podia sentir as fissuras ao longo do meu ombro se curando enquanto via além de minha mão, Jasper e Cabelo Comprido lutando entre si. Tentei saltar para auxiliar Jasper, mas os braços ao meu redor me impediram. O menor tentou passar suas pernas em volta das minhas, mas minha visão me deu aviso suficiente para puxar minhas pernas para cima, sobre meu corpo. Posição um, pensei ironicamente.

Ele tentou me puxar, me forçando embaixo dele, mas eu travei minhas pernas e preveni a virada. Então, comecei a bater a parte de trás de minha cabeça em sua face o mais rápido que pude. Os baques rápidos soavam como tiros de metralhadora, o que me deu grande prazer. O Pequeno gritou de dor e frustração e me libertou. Pulei e me agachei para me preparar para o ataque que se aproximava. Sua cara estava destruída, e ele vacilou quando tomou uma larga distância para seu golpe. Mergulhei facilmente por ele, e pulei em suas costas na minha posição favorita para matar. Com um grito de vitória, eu torci a cabeça dele e atirei-a no agora furioso fogo. Deixei seu corpo se contorcendo e virei para achar Jasper.

Ambos, Cabelo Grande e o recém-nascido estavam nele. Jasper tinha Cabelo Comprido preso pela cabeça e estava afastando os ataques desleixados do recém-nascido com sua mão livre. Cabelo Comprido estava socando o corpo de Jasper para tentar quebrar a gravata em volta de seu pescoço. Assisti com horror enquanto o recém-nascido agarrava o braço de Jasper, puxando-o para trás e golpeando forte suas costas. O barulho era ensurdecedor. Eu podia ver seu braço esquerdo quase quebrando e se separando do corpo. O grito de Jasper me cortou em duas.

Eu estava no grande recém-nascido antes mesmo de saber o que estava acontecendo. Pulei em seus ombros e enfiei meus dedos em seus olhos. As órbitas caíram no chão como rochas, enquanto o recém-nascido gritava em agonia. Segurei seu enorme pescoço e comecei a torcê-lo e puxá-lo, mas este vampiro era enorme e seu pescoço não queria sair. Ele arqueou as costas e caiu, me levando para o chão. Redobrei meus esforços para remover sua cabeça, levando meus joelhos sobre seus ombros, para contar com a ajuda dos músculos da minha perna. Ele se virou e se levantou de joelhos enquanto ele usava suas mãos enormes para pegar meus braços de forma dolorosa, mas as visões me falaram para agüentar firme, então eu me enrolei em torno da cabeça sem olhos o máximo que pude.

Com sua massiva força ele me puxou e tirou sua própria cabeça fora.

Caí no chão e rolei com a cabeça antes de jogá-la nas chamas. O corpo do recém-nascido caiu no chão, se debatendo e se contorcendo enquanto buscava sua cabeça.

Virei-me ao redor para achar Jasper lutando com o Cabelo Comprido com apenas uma mão. Seu braço esquerdo pendia mole ao seu lado. Corri para ele, agarrando o braço direito do Cabelo Longo e arrancado-o para fora. Cabelo Comprido arqueou as costas e gritou, mas o grito foi cortado imediatamente pelo crack de sua cabeça sendo tirada pelo braço bom de Jasper.

Jasper ficou de pé vacilando em suas pernas, e olhou para mim com os olhos selvagens cheios de dor e preocupação. Sua camisa estava completamente destruída, revelando a longa fissura que ia de sua clavícula até quase seu quadril. Quando seu braço balançava, a fissura aumentava e se movia. Sem pensar, eu estava a seu lado com meus braços ao seu redor, para segurar seu braço e seu ombro no lugar.

“Jasper…” eu murmurei. Era tudo que consegui colocar para fora. O alívio de tocá-lo e saber que ele estava vivo era quase demais para mim. Eu senti seu braço bom indo ao meu redor e me puxando firmemente para ele.

“Meu Deus, eu achei que tivesse te perdido”, ele gemeu com a voz rouca. Senti seu corpo se curvar para abraçar o meu, mas seu braço esquerdo não se movia com o resto do corpo. Ele enterrou seu rosto em meu cabelo, e com um hálito doce continuou a gemer. “E se eu tivesse perdido você? E se eu tivesse perdido você?”

Eu não podia responder, eu só o abracei até que um movimento em meus pés me fez lembrar de nossa tarefa sinistra inacabada. “Os corpos”, eu disse, e ele me soltou.

Eu me afastei dele, dormente, recolhi os corpos de nossos atacantes e os joguei no fogo que havia sido construído para nós. Quando isto estava feito, eu parei e vi o fogo de minhas visões. A realidade do que eu havia passado nas ultimas 30 horas me atingiu como um soco. Eu tinha visto tudo isso. Jasper havia corrido. Eu havia chamado por ele. O fogo era para ele, para mim, e para os outros. Tudo isso tinha sido verdade. E tudo havia acontecido por causa de minhas visões. Eu quase o matei por causa por causa de minha incertas, mentirosas e malignas visões. Sufoquei um soluço.

Ele estava ao meu lado imediatamente. Sua mão foi para baixo de meu queixo, erguendo meu rosto para o dele. Sua face estava contorcida em dor e preocupação. Corri minha mão pelo seu braço nu e percebi que ele tinha usado sua camisa rasgada para amarrar seu braço ao seu corpo. Olhei para o quebrado profundo e senti um horror esmagador crescendo dentro de mim.

“Eu sinto tanto.”

“Sente tanto pelo que, Alice? Eu não entendo.”

Desviei o olhar da preocupação em seu rosto. Ele tentou virar minha cabeça e encontrar meus olhos de novo, mas eu me recusei. Eu não poderia ficar olhando para ele. Não agora.

“Alice!” Ele me sacudiu em desespero. “Alice, do que você está falando? Isso não aconteceu por sua causa. Esses homens têm sido meus inimigos por décadas. Eles me acharam porque eu fui tolo. Você está me ouvindo? Isso foi minha culpa. Eu deveria ter sido mais cuidadoso. Eu quase te matei com minha estupidez. Que porcaria! Pare de balançar a cabeça e olhe para mim. Alice!”

Eu estava tremendo agora. Toda a raiva, toda a auto-recriminação cresceu em mim, sacudidos de suas profundezas pelo terror crescente que eu não podia nomear.

“Fui eu. A culpa é minha. Minha. É sempre minha culpa. Eu podia vê-lo correr, e isso me assustou. E eu vi as chamas, mas elas continuavam mudando e eu não sabia o que fazer. Eu sinto muito, Jasper. Não posso controlá-las, elas me controlam. Eu fiz isso. Fui eu.” O tremor ficou tão forte que eu não podia parar.

Seu braço foi ao meu redor, me puxando para ele enquanto ondas de calma e paz entravam em mim com tanta força que seguraram o terror um pouco. Eu me agarrei na paz e nesse homem com toda a minha força. Eu me pressionei nele, tentando alcançar a fonte das emoções que mantinham o horror longe. Eu podia ouví-lo murmurando meu nome várias vezes. Senti os primeiros raios do sol me atingirem, e abri meus olhos para ver o sol nascente transformá-lo em um arco-íris de cor e luz de tirar o fôlego. Eu engasguei com a pura beleza disso, e a verdade saiu na luz.

“Eu posso ver o futuro, mas não posso controlá-lo. Eu não posso controlar nada. Isso dói. As visões doem. Elas às vezes fazem acontecer coisas que não eram para acontecer. Eu posso ver o futuro, mas isso não ajuda. Você não entende? Isso não funciona direito. É tudo errado, tudo errado. Eu sou toda errada.”

“Segure-se em mim, Alice”, ordenou a voz áspera de Jasper. Meus braços obedeceram e foram ao redor de seu pescoço. Eu estava fora do chão e me movendo rapidamente no círculo de pedra de seus braços. Mas ondas de calma não eram o suficiente agora. Nem mesmo aqui em seus braços. O terror veio à tona e eu não podia mais segurá-lo.

Ele correu comigo por um tempo que eu não pude medir. Quando ele parou, ele sentou no chão, em um lugar com sombra, e me puxou para seu colo. Ele se envolveu ao meu redor, puxando sua perna para cima para que eu tivesse cercada por ele. Mas isso estava errado. Isso sempre seria errado. Isso era errado porque eu era quebrada e maligna. As visões provaram isso.

“Alice, Alice, me escute. Você é perfeita, e você é mais do que eu podia uma vez sequer imaginar. Você é tão boa”, ele disse contra meu cabelo enquanto ele me puxava ainda mais perto.

O terror me tomou até encontrar minha voz. Eu não podia parar mais isso. Sua calma paz não podia mais segurar esta força, embora eu podia sentí-lo tentar.

“Não. Não, está errado. Está tudo errado. Você me deixará por isso, porque é errado. Todos me deixam. Você também deixará. Mas não quero que você me deixe. Eu não posso sobreviver à isso novamente. Não de novo. Jasper, por favor. Eu te amo, por favor, eu te amo tanto. Por favor, não me leve para lá, por favor, por favor, por favor. Eu serei boa agora. Eu prometo. Por favor”, eu estava gritando através de meus soluços sem lágrimas.

“Eu serei boa, eu prometo,” eu gritei enquanto o terror sem nome me pegou.


[Jasper]

Eu a envolvi em meu braço bom, tentando dar à ela alguma paz. Eu não tinha idéia do que estava acontecendo, mas eu tinha que tentar parar isso. O terror nela era bem real, apesar de não conseguir entender sua origem. Nós tínhamos vencido. Tínhamos sobrevivido contra todas as probabilidades, e nós deveríamos estar celebrando este fato. Ao invés disso, ela estava tremendo violentamente em meu braço. Eu amaldiçoei os monstros que haviam nos atacado e deixado meu braço esquerdo sem utilidade.

Ela se agarrou em mim com força, como se sua própria vida dependesse disso. Seu toque mandou seu medo paralisante por mim em ondas penetrantes. Elas eram tão violentas que eu quase gemi. Normalmente eu teria corrido, teria procurado a segurança que apenas distância pode dar para alguém como eu. Mas eu não a deixaria. Não de novo. Isso havia causado mais dor do que eu poderia suportar novamente. Me inclinei sobre sua forma tremendo e beijei sua cabeça.

“Alice, não se preocupe, meu amor. Estou aqui, Alice. Estou aqui. Shhh…” Eu disse isso de novo e de novo, tentando aliviar sua dor, mas o medo continuou a crescer nela mesmo contra meus maiores esforços.

Ela escondeu seu rosto no meu peito. Ouvi seu pequeno suspiro quando a luz do Sol nos atingiu e, como se a luz do sol a tivesse despertado, um monte de palavras que não faziam sentido vieram à tona, mas que carregavam consigo muita culpa e ódio de si mesma.

“Eu posso ver o futuro, mas não posso controlá-lo. Eu não posso controlar nada. Isso dói. As visões doem. Elas as vezes fazem acontecer coisas que não eram para acontecer. Eu posso ver o futuro, mas isso não ajuda. Você não entende? Isso não funciona direito. É tudo errado, tudo errado. Eu sou toda errada.” As palavras apenas fizeram seu estadoemocional ficar pior. Eu precisava levá-la para outro lugar, longe da cena de nossa batalha. Eu precisava levá-la para um lugar calmo e quieto, onde eu poderia tentar curá-la. Eu me lembrei passando por um celeiro velho, o qual ainda tinha um pedaço do teto no lugar.

“Segure-se em mim, Alice.” Eu disse gentilmente em seu cabelo. Seus braços imediatamente agarraram meu pescoço e eu a levantei com meu braço bom. Ela estava tão perto do terror desconhecido que agora suas emoções me rasgavam, e meus passos ficaram devagar enquanto tentava lidar com as ondas horríveis.

Depois do que pareceu a eternidade, eu era capaz de encostar na pedra suja e com musgo dentro do celeiro, e a puxei para meu colo. Eu me enrolei ao seu redor o máximo que eu pude, circundando-a como se quisesse bloquear fisicamente o que estava acontecendo. Seu terror estava me causando pânico. E se eu não conseguisse parar isso? E se eu não conseguisse curá-la? Eu comecei a ninar sua forma tremendo enquanto ela continuava a soluçar.

“Alice, Alice, me escute. Você é perfeita, e você é mais do que eu podia sequer imaginar. Você é tão boa”, eu disse baixinho enquanto a balançava. Eu a puxei apertado, tão apertado que eu temi estar esmagando-a, mas eu tinha que fazer isso. Independente da dor, eu tinha que segurá-la.

“Não. Não, está errado. Está tudo errado. Você me deixará por isso, porque é errado. Todos me deixam. Você também deixará. Mas eu não quero que você me deixe. Eu não posso sobreviver à isso novamente. Não de novo. Jasper, por favor. Eu te amo, por favor, eu te amo tanto. Por favor, não me leve para lá, por favor, por favor, por favor. Eu serei boa agora. Eu prometo. Por favor”, ela estava gritando, implorando, se rasgando por dentro, e eu não tinha idéia do porque.

“Eu serei boa, eu prometo”, ela gritou enquanto aquele terror sem nome a levava e ia destroçando seu corpo e mente.

Nunca senti na minha mente uma emoção tão dolorosa vinda de outro de minha espécie. Eu conhecia isso. Eu havia sentido isso com freqüência durante as minhas caçadas para alimentação, e eu odiava esse sentimento porque isso dilacerava cada fibra da minha mente. Isso era a pior coisa que eu poderia ser forçado a sentir – uma emoção que só os piores monstros criavam. O choro que veio de Alice estava encharcado no medo cru de uma criança aterrorizada. Seus gritos eram gritos de uma inocente, machucada e ferida garotinha. Isso me queimava por dentro, e senti meu corpo convulsionar ao seu redor enquanto eu sentia sua dor e tentava tirá-la dela.

Eu não tenho idéia de quanto tempo a ninei. Ela tremia em meus braços, me implorando para não deixá-la enquanto eu a balançava e falava de novo e de novo que eu nunca a deixaria. O sol estava bem no alto antes da barreira emocional vinda de Alice mudar. Em todos os meus anos eu nunca havia me sentido tão cansado. Não fisicamente, embora meu ombro doesse terrivelmente pelo dano, mas eu tinha me drenado, colocando nela tudo o que eu tinha enquanto minha mente tentava entender tudo o que estava acontecendo.

Era medo, cru e potente. Era dor, a dor cortante da perda. Era uma culpa esmagadora, embora eu não soubesse de que. E isso havia sido trancado nela em algum momento enquanto ela era jovem.

Seus tremores acalmaram e os soluços se tornaram choramingos. Eu podia sentí-la tentando controlar o terror decadente, embora ele ainda estivesse em vantagem. Havia passado mais ou menos uma hora desde que eu falei pela ultima vez, então tentei de novo.

“Amada”, eu beijei seu cabelo curto e sussurrei as palavras. “Alice, minha amada, eu estou aqui e não irei embora. Você está a salvo e eu não a deixarei. Nunca.”

As palavras finalmente a atingiram, e eu a senti se acalmar. Foi um alívio abençoado. Eu as repeti duas vezes e finalmente a senti indo para trás, apenas um pouquinho. Olhei em seus profundos e dourados olhos e consegui dar um pequeno sorriso.

“Do que você me chamou?” ela perguntou, sua voz era um mero sussurro.

“Minha amada.”

Ela balançou a cabeça. Eu me inclinei e beijei sua perfeita testa, e ela parou de uma vez.

“Amada”, eu suspirei novamente.

“Não… você não deveria… eu não sou… estou quebrada.” Ela tentou se afastar enquanto falava pausadamente as palavras, mas eu não deixei. O terror ainda estava presente, mas ele não estava mais no controle.

“Você é minha amada, e não há nada que você possa fazer sobre isso. Eu não posso te deixar, ninguém pode me obrigar a fazer isso. Nem você mesma.”

“Você não entende. Minhas visões, elas são ruins. Elas causaram isso”, ela disse com a voz rouca enquanto tocava meu ombro quebrado. A estranha mistura de terror e aversão de si mesma a encheu novamente.

Eu causei isso. Eu lutei contra aqueles homens quando estava com Maria. O líder do clã, Carlos, é meu maior inimigo. Eu fui descuidado, e isso quase nos levou ambos à morte. Eles chegaram perto de te matar”, meu próprio corpo tremeu com o pensamento e minha voz quebrou enquanto eu continuava. “Eu quase te perdi, e isso foi minha culpa.”

Respirei algumas vezes para me equilibrar. “Eu não sei amar, Alice. Destruí essa parte de mim para sobreviver. Eu tinha que fazer isso, mas você trouxe vida de volta para mim. Eu estava morto antes de você aparecer, e agora eu sinto de novo. Eu me sinto vivo pela primeira vez desde minha transformação. Você entende? Você me deu vida e esperança quando eu tinha perdido ambas completamente. Eu não posso te deixar. Eu não vou. Eu não sei como te amar, mas não vou deixar de tentar achar a forma. Se isso tomar toda a eternidade, acharei um meio de te amar como você merece. Se… se você me quiser.”

Olhei em seu amável rosto e vi uma expressão indescritível. Suas emoções eram uma mistura confusa, tão complexa que eu não conseguia discernir uma da outra.

“Se eu te quiser?” ela inclinou sua cabeça para o lado enquanto sussurava minhas palavras de volta para mim.

“Quando eu acordei e vi o sol e as árvores, eu não sabia de nada. E eu estava sozinha, tão sozinha. Logo que comecei a lembrar das palavras, a saber o nome das coisas, eu te vi. Você foi a primeira coisa que minha mente viu. Seu rosto era a única coisa que me prendia em um mundo que eu não entendia. Antes de eu saber meu próprio nome, eu te conhecia. E eu havia te amado. Jasper, eu tenho te desejado, ansiado por você, por vinte e oito anos. Se eu te quiser? Eu tenho sido sua desde que respirei pela primeira vez. Eu sempre fui sua.”

E com aquelas silenciosas palavras, ela abalou meu mundo.

Nota rápida da autora: Se vocês estavam se perguntando… As palavras que Alice estava gritando são as mesmas que ela gritou no capítulo 1 de Singularity quando seus pais a levam para o manicômio. A pequena garotinha ainda está lá e precisa ser curada.

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