quarta-feira, outubro 20, 2010

Coalescence - Capítulo 08: O Ato De Se Dar

[Jasper]

As palavras dela ecoaram em minha mente e se selaram em minha memória para sempre.

“Eu sempre te amei.” Isso foi falado tão suavemente, tão frágil que me partiu. Eu tinha que ter certeza que eu a tinha ouvido. Eu tinha que ter certeza que as palavras iam de acordo com suas emoções, embora já soubesse que elas iriam.

Levantei gentilmente o queixo dela, “Olhe para mim, amada.” Ela olhou para cima com grandes olhos, e o sentimento de que eu estava de alguma forma tocando a inocência de uma criança apareceu de novo.

“Por favor, por favor Alice, diga isso de novo.” Ela olhou para outro lugar imediatamente, como se com vergonha. Eu me inclinei novamente, ignorando o intenso sentimento de selvagem emoção enquanto minha pele tocava a dela. Beijei sua cabeça novamente, passando meus lábios para trás e para frente enquanto, de alguma forma, eu forçava minhas próprias emoções ásperas a enviarem somente paz.

“Por favor, olhe para mim. Eu preciso ver seus olhos.” Respirei as palavras em seu cabelo, e a queria fazer saber que eu não iria, não podia, machucá-la. Não havia motivo para vergonha.

Ela respirou hesitante duas vezes e se moveu para me olhar. Ela estava tremendo levemente enquanto eu a segurava, mas os olhos dela estavam firmes e suaves enquanto ela repetia as palavras que eu precisava ouvir.

“Eu posso ver o futuro, mas não funciona certo sempre. Na verdade, isso normalmente me causa dor.” Ela parou e tomou um terceiro e instável respiro. “Eu vi o sol e as árvores, e aí eu te vi. Sem seu rosto, eu estaria totalmente sozinha. Você estava confuso na visão, mas eu sabia que te amava mesmo então. Eu sabia que te amava mesmo antes de saber meu próprio nome. Te amar é a primeira coisa que eu me lembro alguma vez fazer, e eu tenho te amado desde então.”

A memória desencadeou a emoção, e eu quase desmaiei pelo poder do amor que ela me mandou. Ele era tão mais forte, como se a confissão o tivesse liberado. Seu amor correu através de mim, quente e delicioso. Ele era tão puro que relampejou em uma dúzia de cores, tão perfeito e puro que me fez ofegar.

“Isso é lindo!”

Ela interpretou mal minha reação, e lutou para se afastar de mim. Eu não podia permitir isso, e a puxei ainda mais perto. Ela se empurrou contra mim, mas não forte, enquanto eu a prendia no meu peito.

“Não, Jasper. Não é. Deixe-me ir.”

Eu ri apesar do mal entendido óbvio. “É lindo sim. Seu amor é a coisa mais linda que eu já senti. Ele até tem um gosto bom para mim. É brilhante; tem os mais incríveis tons.” Eu me aninhei perto dela, me fazendo mandá-la algo tão bonito quanto o que ela me mandou, mas eu não podia encontrar o sentimento em mim.

Suas emoções se acalmaram, e então cresceram novamente com ansiedade, medo e preocupação – se eu as tinha entendido direito.

Abri meu braço, e ela se afastou enquanto sua cabeça virou rápido para me olhar, em confusão. Claro que ela estava confusa; eu usei meu dom sem contar dele para ela. Eu tinha sido injusto e desconfiado, e esse era o momento para minha própria confissão. A realidade de simplesmente o quanto eu tenho sido injusto me atingiu; eu quase a perdi pela minha raiva injustificada.

Sorri para mostrar que eu não estava bravo com ela, porque eu estava tão bravo comigo mesmo, eu sabia que esta emoção estaria irradiando de mim. Eu podia dizer pelo seu rosto que ela estava confusa pelo rápido ataque violento de emoções saindo de mim, apesar de meus melhores esforços de pará-las.

“Não estou bravo com você, meu amor. Estou bravo comigo mesmo. Eu também não sou insano, no caso de você estar preocupada com isso.” Ela endureceu com o sarcasmo amargo na minha resposta.

“Normalmente eu estou mais preocupada comigo mesma quando o assunto é sanidade.” Ela disse com um sorriso infeliz, mas o medo e a ansiedade estavam melhorando de pouquinho em pouquinho.

“Tenho sido muito injusto com você, e estou realmente arrependido. Eu também tenho um dom, e ele é muito forte, porém sutil. Eu posso sentir e alterar humores e emoções. Não é um dom esperado por muitos, e uso isso para minha vantagem. Eu o uso todos os dias, em tudo o que faço, e ninguém sabe. Eu deveria ter -”.

Seus dedos em meus lábios me silenciaram.

“Eu sei”, ela disse. “Você tem usado ele para me ajudar. Você usou emoções para fazê-los pararem de me machucar. Isso me tomou um tempo, mas eu entendi.” A ultima sentença foi falada com um pequeno, mas genuíno sorriso.

“Obrigada.”

Culpa transbordou em mim, e eu tentei impedí-la de chegar nela. Eu mal conseguia olhar em seus olhos, mas eu precisava que ela soubesse o que fiz. Precisava que ela me perdoasse por isso. “Eu estava bravo com você porque você não me disse sobre seu dom. Isso foi hipócrita e errado de minha parte. Eu fugi e a levei para uma armadilha mortal porque eu estava bravo, e ainda assim, eu estava fazendo a mesma coisa. Quase te condenei à morte pelos mesmos pecados que eu estava cometendo. Eu sinto tanto.” Minhas palavras começaram tão fortes, mas as últimas eram sussurros quebrados. A acusação de Ivan soou em mim. Eu era homem o suficiente?

“Então foram minhas visões que te levaram embora.” Ela assentiu com um olhar arrasado em seu lindo rosto.

“Não, amada, não. Não foi você.” Ela não parava de balançar a cabeça, e uma onda de profunda tristeza cresceu dentro dela.

“Sim, foi. Você não vê? Minhas visões chegam sem aviso ou explicação. Elas às vezes causam seu próprio resultado. Eu te vi correndo mesmo antes de nos conhecermos, e isso me assustou tanto que eu não podia contar para você. Toda vez que eu tentava ver um jeito de deixá-lo saber de meu dom, eu via você correndo e me via chamando por você. E foi isso que aconteceu. Isso foi exatamente o que aconteceu porque eu tive as visões. Eu te fiz fugir porque eu estava tentando impedí-lo de fugir.” Sua voz era quase sem tom, exceto por um duro estalo que combinava com sua auto-aversão que irradiava dela.

Eu precisava impedí-la de odiar ambos, seu dom e ela mesma, mas nada do que eu estava fazendo estava ajudando. Tentei rapidamente pensar em outra tática. Eu era bom com táticas. Tentei pensar em milhões de formas diferentes de fazê-la ver que não era sua culpa, e finalmente decidi pela verdade. Por mais que isso me expusesse como o monstro que eu era, esse era o melhor jeito de fazê-la entender que eu não a culpava.

Eu a movi em meu braço, amaldiçoando o outro que estava ainda lentamente se curando e que ainda pendia mole ao meu lado. Deixei ela se sentar na minha coxa, assim eu ainda podia abraçá-la e olhar para ela. Ela estava completamente cativante empoleirada em minha perna.

“Alice, você mentiu para proteger um dom que todo clã de vampiros no mundo a aprisionaria ou a destruiria por ele. Você mentiu por medo. Eu menti porque este é quem eu sou. Menti porque isso é um hábito que está tão enraizado em mim que eu não sei mais a verdade. Menti e então fiquei bravo por você ter feito o mesmo.” Balancei minha cabeça e tentei acalmar a raiva interna que eu sentia comigo mesmo.

“Eu tenho sido enganado tantas vezes, por tantas pessoas, que eu não podia tolerar os sentimentos deles. Esse é o motivo pelo qual reagi da forma que reagi. Você tinha todo o direito de esconder um dom tão incrível de mim. Eu não sou confiável o suficiente. Eu fugi… “ Pausei para me preparar para a verdade que eu odiava. “Fugi porque não sou merecedor de alguém assim como você. Não sou o tipo de homem que você merece.”

O silêncio caiu entre nós, tão profundo que me afoguei nele. A única coisa que me manteve à tona na odiosa quietude foram os olhos dela. Uma pequena oscilação de vida retornou para eles, antes que ela olhasse para longe de mim e observasse meu ombro partido pela primeira vez.

“Você está ferido,” ela disse, e então colocou sua mão gentilmente sobre a queimante fenda. Compaixão e preocupação fluíram pela sua mão e para mim, e estremeci com as emoções que eu não merecia.

Ela puxou sua mão para longe e murmurou um rápido, “Desculpe”.

Peguei-a novamente e a segurei na fissura. “Não é sua mão que machuca,” eu disse com um sorriso triste. Enquanto estava sendo sincero, eu talvez também poderia ajudá-la a entender todas as ramificações de meu dom. Eu não tinha mais nada a perder ou a proteger, exceto por ela.

Sua mão começou a afagar gentilmente a fenda quando eu comecei a falar. “Eu te disse que meu pai e meu avô poderiam convencer quase qualquer um de qualquer coisa. Eu era ainda melhor do que eles. Não me lembro mais de muita coisa, mas sei que eu podia fazer pessoas fazerem o que eu queria, até mesmo quando criança. Sei disso porque essa foi a razão de eu ir para guerra quando fui. Eu era muito jovem, mas podia liderar homens porque podia fazê-los se dobrarem à minha vontade. Eu era bom em vencer batalhas. Muito bom nisso, e eu não ligava para o que acontecia com meus homens. Tudo o que eu ansiava era a glória da vitória. Ansiava isso até eu finalmente ver o que meu desejo por glória tinha feito com os homens sob meu comando, mas então já era tarde demais. Tentei me tornar o grande líder que eu havia sonhado em ser. Não sei por quanto tempo realmente liderei meus homens como um bom líder deveria, mas logo depois que finalmente entendi como um verdadeiro líder deveria ser, a Batalha de Galveston começou, e eu fui transformado.”

“Nunca me tornei o líder que eu me via sendo. Nem sei se aquele homem poderia sequer ter existido ou se eu tinha força comigo para me tornar ele.” A mão dela se moveu pelo meu braço e ombro, gentilmente os esfregando como se para apagar a mancha de meu passado.

“Quando acordei meu dom estava manifestado mil vezes. Eu podia sentir os outros simplesmente pelo seu humor e emoções. Podia sentir o que os outros sentiam, e eu poderia projetar qualquer emoção que eu precisasse. O dom, juntamente com a minha habilidade natural como um soldado, me fizeram quase invencível no campo de batalha, e eu fiz as coisas mais inumanas e maléficas que você pode sequer imaginar. Eu me tornei a personificação do mal; o monstro do pesadelo mais sombrio de cada humano.”

“Mas eu não era invencível. Eu não podia existir como um monstro e continuar sentindo como uma pessoa. Para existir, eu tive que matar o próprio homem que eu ansiava em me tornar. Passei oitenta anos destruindo cada traço humano que eu tinha, para que assim então eu pudesse existir nessa morte sem fim. Essa era a única forma que eu poderia viver.”

“E então você veio…” Mas eu não podia continuar.

“Eu te causo dor?” A pergunta era fortemente pesada de tristeza.

“Não. Não, você me deu vida. Mais que vida, você me deu tudo. Mas não estou pronto. Eu destruí a mim mesmo, rasgando o homem e matando-o, para que assim eu não pudesse sentir dor. Para que assim eu não pudesse sentir nada. Essa era a única maneira de eu conseguir sobreviver. Isso é… difícil de explicar… mas você me fez sentir de novo, e as emoções são… dolorosamente cruas. Quando você me toca, eu as sinto muito mais fortes. Foi minha fraqueza, Alice, não foi seu dom, que me fez correr. É minha fraqueza que me causa dor. Você não fez nada errado. Isso não é sua culpa.”

Ela tirou sua mão e me olhou tristemente. Eu queria fazer seus olhos sorrirem, queria tirar a tristeza e dar à ela alegria. Eu queria curá-la, mas eu não tinha idéia de como.

“Então por que eu sinto como se fosse?” ela perguntou tristemente.

“Não sei,” respondi desamparado enquanto a esmagante culpa crescia em nós dois. Peguei sua mão novamente. Isso era masoquista, mas eu simplesmente tinha que tocá-la. Nossa culpa e tristeza fluíram juntas.

“Eu não quero te machucar,” ela disse enquanto eu puxava sua mão para mim.

Você não me machuca. Eu pensei que iria ver você ser rasgada e queimada lentamente. Isso não é nada comparado com aquilo,” eu lhe disse com sinceridade.

Esfreguei a mão dela, e ela lentamente levantou a outra mão para tocar minha face. Seus olhos brilharam enquanto ela traçava a linha do meu cabelo e tecia seus dedos através do labirinto de minhas cicatrizes. Eu amava vê-la assim. Ela aparentava como se estivesse vendo algo lindo pela primeira vez, e seu rosto brilhava em maravilha. Isso era outra coisa que eu não merecia. Eu era a coisa mais longe da beleza que nossa espécie tinha.

“Alice, quando você estava tão assustada depois da briga, do que você estava com tanto medo?” eu a estava pressionando, mas eu não poderia ajudá-la cicatrizar até que eu soubesse qual era o problema.

“Eu estava com medo que você fosse me deixar. Estava com medo de ficar sozinha.”

“Não posso te deixar, amada.” Eu queria que ela entendesse isso.

“Eu gosto dessa palavra,” ela disse com um pequeno sorriso. Mas minhas palavras apenas acalmaram o medo, elas não o tiraram.

“’Amada?’ Eu nunca havia usado essa palavra antes, mas é a melhor palavra que tenho para descrever você.”

“Que bom.”

Eu quase ri de sua direta declaração.

“Você me pediu para não te levar para um lugar. Eu não entendi. Para onde você estava assustada que eu te levasse? Esse medo era de seu passado?”

Ela removeu sua mão, que estava traçando meu rosto, e tocou sua testa com seus dedos.

“Um buraco negro de memórias,” ela disse tocando sua cabeça. “Não tenho idéia do que eu estava com medo. Ele somente tomou conta de mim e me levou. Eu estava com medo de ficar sozinha. E estava com medo do escuro ou… da escuridão? Isso é estranho porque posso ver tanto no escuro como durante o dia. Isso era apenas puro medo.” Ela estremeceu um pouco com a memória.

Ela não tinha idéia do que havia acontecido, mas eu conhecia um terror de criança quando o sentia. Decidi não mencionar que tipo de medo era porque fazer isso não ia ajudar. Entretanto, o impulso esmagador de rasgar quem quer que a tenha machucado surgiu dentro de mim. Claro que eu sabia que eles poderiam já estar mortos, mas a necessidade de violência ainda estava muito real. Pensei de novo sobre sua idade humana quando ela havia sido transformada quase três décadas atrás.

Três décadas.

“Vinte e oito anos,” eu resmunguei alto enquanto minha mente começava a compreender a magnitude de sua declaração.

“Por que você está preocupado com a minha idade?”

“Você disse que me amou desde que acordou. Você me amou desde que você viu meu rosto pela primeira vez. Isso foi vinte e oito anos atrás.” Eu mal podia registrar aquele fato. Eu conhecia Alice por apenas sete dias agora, e as emoções eram suficientes para causar devastação em mim. Ela tinha esperado vinte e oito anos para me achar, e eu tinha fugido dela. Ela tinha esperado por algo tão quebrado e monstruoso quanto eu, e eu a machuquei. Isso não era justo. Isso era a brincadeira mais cruel de todas, e eu queria amaldiçoar o destino pelo o que ele havia feito com ela.

“Por que você parece triste?” Ela perguntou enquanto inclinava sua cabeça.

“Não posso imaginar esperar por tanto tempo. Não posso entender porque você simplesmente não desistiu e encontrou outra pessoa. Eu não teria te culpado.”

“Eu nunca sequer considerei isso, nem mesmo quando os outros tentaram me achar alguém. Eu te amava. Eu sempre te amei. Isso era tão certo quanto o nascer do sol. Acredite em mim, não foi fácil esperar. Quase me enlouqueceu não saber onde você estava. Eu usava as visões para ver você sempre que podia. Eu sabia que nós iríamos nos conhecer em um restaurante, mas não sabia quando ou onde isso era. Passei anos tentando achar aquele lindo e estúpido lugar.” Ela enrugou seu rosto em frustração de brincadeira, e sua expressão me fez rir.

“Quando você disse, ‘Você me deixou esperando tempo demais,’ eu não tinha idéia do que você queria dizer.”

“Eu não estava brincando,” ela sorriu de novo. “Você me deixou esperando um longo, longo tempo.”

“Eu não valho a espera.” As amargas palavras escorregaram para fora antes que minha mente normalmente cuidadosa as parasse. O que ela já havia sacrificado por mim ultrapassava de longe qualquer coisa que eu pudesse fazer por ela.

“Isso realmente não importa.”

“Não importa? Você esperou por um monstro. Eu acho que isso importa muito.” Cuspi as palavras para fora mais duras do que eu pretendia, e imediatamente me arrependi delas. Tristeza e medo redobraram nela por minha declaração amarga.

“Isso não importou quando você lutou por Maria. Não importou quando você matou recém-nascidos porque eles não eram mais úteis. Isso não importa agora. Não importa porque você não é aquele monstro. Você não é, e eu sei disso.” Raiva se juntou ao medo. Ela estava disposta a lutar comigo nesse ponto, e eu teria lutado de volta se suas palavras não tivessem se registrado completamente.

“Você viu aquilo? Você viu o que eu fiz e ainda está disposta a me tocar?”

Ela não disse nada, ao invés disso, levantou sua mão e traçou a mais profunda de minhas cicatrizes.

“O que mais você viu?” Eu sussurrei quando a última de minhas barreiras começou a despedaçar.

Ela desviou o olhar e estremeceu novamente. Medo, vergonha, e dor.

“Desculpe-me, amada. Eu não deveria ter perguntado.” Esperei, com a esperança que ela olharia para mim.

“Tudo.”

Fechei meus olhos e tentei compreender o que ela sabia. Ela havia me amado apesar de saber sobre mim. Ela havia esperado e procurado mesmo que não houvesse nada além de maldade no final. Ela saberia sobre…?

“Maria?” Eu engasguei com a voz rouca.

Ela assentiu, olhando para o chão. Pela primeira vez hoje, eu estava contente por não poder ver seus olhos.

“Meu Deus,” eu gemi. “Eu sinto tanto. Ela foi minha criadora, e… minha amante, mas ela não significava nada para mim. Se eu ao menos tivesse sabido. Alice, se eu soubesse que você existia eu nunca teria – Eu sinto muito.”

Achei que ela iria se afastar de mim completamente. Eu achei que ela iria se levantar e ir embora. É o que ela deveria ter feito, mas ao invés disso, ela se inclinou no meu peito e deitou sua cabeça contra meu ombro bom. Eu não percebi, até que ela encostou sua cabeça em mim, o quanto minha pele precisava dela.

“Eu sei,” ela disse no mesmo tom quebrado que eu tinha.

Envolvi meu braço bom ao redor dela e a segurei o mais forte que eu tinha direito. As emoções dela fluíram em mim novamente, quase poderosas demais para suportar, mas eu não iria diminuir meu abraço. Eu seria forte o suficiente. Eu tinha que ser.

“Deixe-me falar para você sobre minha vida, honestamente desta vez. É um conto muito diferente quando contado honestamente. Você precisa ouvir o que minha visões fizeram por mim, para mim, e por aqueles que eu amo.” Ela estava preocupada, e eu mandei uma forte onda de paz para ajudar, se pudesse.

Ela respirou fundo duas vezes. “Você foi a primeira visão. Você é a mais importante. Minhas próximas visões me disseram onde encontrar humanos, e eu me fartei com a sabedoria que elas me deram. Eu te disse sobre a escola. Eu quase matei cada criança naquela escola, mas eu pude ver o que aconteceria se eu o fizesse. Posso sempre ver o que poderia ser e o que seria depois com aqueles que eu matasse. Isso era demais, ver a vida deles como deveria ser e depois a dor que eu causaria. Toda vez que eu matava, era como se eu morresse com eles. Tive uma visão de dois de nossa espécie caçando cerdos, e aquilo me deu a sabedoria que eu precisava para sobreviver sem matar humanos.”

“Eu posso ter uma visão a qualquer hora. Normalmente, posso olhar para ver o que quero, embora a visão possa não vir. É assim que sei sobre o mercado de ações. Às vezes, como quando eu luto, as visões me dizem o que vai acontecer depois, e eu posso usar essa sabedoria para lutar. Mas às vezes – muitas vezes – as visões me prejudicam ao invés de me ajudar. E às vezes elas quase me mataram. Desta vez, elas quase te mataram.”

Ela pausou, e eu pressionei.

“Foi assim que você me encontrou na noite passada? Suas visões?” Sua cabeça assentiu contra meu ombro, mas ela não falou. “Eu teria sido destruído, ou pior, se você não tivesse vindo. Você me salvou, Alice. De todas as formas, você me salvou.”

“Não. As visões continuaram vindo quando eu estava tentando te alcançar. Elas era tão fortes, e eu não podia ver fora delas. Eu tinha que parar de novo e de novo até elas passarem, e cheguei quase tarde demais por causa delas.”

“Alice –”

“Deixe-me terminar. Eu te disse que fui à Europa. Fui para lá quando vi você e Maria. Esse foi o dia que Peter te deixou. Eu vi você amá-la, e eu pensei que ela era sua companheira. Fugi para a Europa para me juntar aos meus amigos, e fiquei insana por um tempinho. Eu tive que me esconder dentro de uma máscara, uma concha que me cobria para que então eu não pudesse ser machucada. Corri por quatro anos até eu finalmente desmoronar. Annette me ajudou a ver a verdade, mas isso quase me destruiu. Eu não poderia ser machucada de novo como daquela vez. Quando vi você fugir nas minhas visões, isso trouxe de volta a dor e a loucura. Eu havia esperado e me machucado por tanto tempo que te ver fugir era insuportável. Por causa da dor que as visões causaram, eu nunca te disse sobre meu dom, se é isso o que ele é. Minhas visões arruinam tanto minha vida que elas não parecem muito com um presente.”

“Elas são os melhores presentes que eu já recebi,” eu respondi enquanto a abraçava mais apertado.

“Alice, por que você não vê minhas cicatrizes e minha feiúra?”

Ela deu de ombros, mas não se mexeu. “Deve haver uma razão. Todos da nossa espécie as vêem antes. Eles vêem a destruição e entendem o perigo antes de eu sequer chegar perto. Por que você não as vê?” Eu forcei. A mão dela traçou as marcas de mordidas em meu peito lentamente, e seus dedos eram o paraíso contra a dor e medo que eu lutava para manter longe de nós dois.

“Não as vejo porque eu vejo você. Acho que vejo através delas porque estou simplesmente tão feliz que eu te achei.”

“Você as viu quando me viu pela primeira vez em suas visões?” Ela balançou a cabeça.

“As visões eram muito nebulosas e borradas pelos primeiros anos. Eu mal podia formar sua face. Não vi as cicatrizes até que eu estava tão apaixonada por você que elas não importavam.” O tom estava retornando para sua voz.

“Então, eu amo suas visões. Elas te deixaram ver além do que os outros não podiam. Suas visões te trouxeram para mim. Elas me salvaram mesmo que eu não mereça e que nunca possa retribuir isso. Eu amo seu dom, amada, porque é parte de você. Você não entende? Elas realmente são os maiores dons que eu poderia receber.”

Ouvi sua afiada inspiração de ar, e ansiei por ver seu rosto. Suas emoções flutuavam entre imensa alegria e incerteza.

“Mas elas se sentem tão erradas. Elas fazem de mim uma aberração. Os outros não tem visões como eu. Ninguém mais tem que assistir enquanto vêem coisas que eles não podem mudar. Não importa a quantidade de bondade que eu tento fazer com elas, elas me trazem dor ao coração. É como se eu não pudesse viver em paz por causa delas. Elas vem e penetram em mim, me forçando a ver coisas que não quero ver. Às vezes eu me sinto totalmente fora de controle, como se minha vida e emoções tivessem sido pegas em um redemoinho que me joga para todos os lados. A única vez que senti verdadeira paz é quando você está comigo.”

“Então deixe-me ajudar,” eu disse enquanto o alívio crescia em mim. Eu trouxe paz para ela. Eu trouxe. Isso eu poderia fazer. Eu poderia ajudar a aliviar a dor de seu dom, e talvez devolver algo bom para a incrível mulher que eu segurava. Das coisas que eu poderia fazer, essa era a mais pura, a mais certa de todas.

Senti ela assentir ao mesmo tempo que começou um formigamento na minha mão esquerda. Eu não podia movê-la ainda, mas talvez em um dia ou dois eu estarei apto para segurá-la corretamente.

“Preciso que você me deixe entrar, Alice. Tente se acalmar, e então deixe minhas emoções entrarem quando você as sentir.” Ela agarrou meu pescoço em resposta, não exatamente a reação que eu precisava.

“Não, amada. Relaxe contra mim. Apenas relaxe o máximo que você posssa, e deixe-me fazer o trabalho.” Devagar ela se suavizou contra mim, e a sensação de seu corpo tão confiante contra o meu trouxe fortes emoções e impulsos para os quais eu não estava preparado. Eu os coloquei de lado e me foquei no que eu sabia que ela precisava.

Comecei com uma pequena onda de calma, e senti ela respirar fundo enquanto isso a inundava. A onda foi docemente espelhada de volta em mim com nenhuma tensão associada. Ela não estava lutando comigo de forma nenhuma. A confiança dela era espantosa.

Aumentei a calma, e coloquei uma sensação de paz e de bem-estar dentro dela. Ela não se moveu, mas suas próprias emoções me disseram tudo o que eu precisava saber. Felicidade e contentamento me alimentaram de volta. O amargo medo ainda estava lá, mas dificilmente como um fator agora. Ouvi ela suspirar suavemente, e eu me alegrei sabendo que fiz isso por ela. Eu tinha dado felicidade à ela.

Nos sentamos lá enquanto as sombras se moviam entre os restos no chão do celeiro, alheios à tudo que não fosse um ao outro. Eu mal conseguia controlar as emoções que se espalhavam entre nós. A calma e a paz se tornaram em maravilha infantil em Alice, e eu percebi, para minha surpresa, que eu era capaz de corresponder seu senso de maravilha com o meu próprio. Eu nuna tinha tentado isso com alguém. Nunca ntentei curar tão profundamente. Nunca quis sentir outras emoções de outro tanto quanto eu queria sentir as dela. Eu não acho que nenhum outro homem alguma vez quis sentir tão profundamente quanto eu queria agora.

Senti ela se mover contra mim, então ela começou a traçar minha clavícula. Comecei gentilmente a esfregar suas costas. Em uma agitação de emoções que tentei fortemente esconder, fiquei agudamente ciente de que eu estava sem camisa e que a própria blusa dela estava bem rasgada pela frente.

“Por que você disse que não sabe como amar?” ela perguntou. Paz, maravilha e amor fluíram tão livremente dela que eu fui banhado em suas emoções. Isso era tão poderosamente intoxicante que eu tive dificuldade formulando uma resposta.

“É difícil de explicar, mas para comer, para sobreviver, eu devo matar. Até eu te conhecer, isso era absoluto. Maria me fez um comandante de seus exércitos, e eu matei sem piedade várias e várias vezes. Eu era impiedoso. Eu tinha que ser. Como você, matar dói porque eu sinto cada emoção que minhas vítimas sentem. Isso significa que cada vez que me alimento, eu morro. Cada vez que luto, eu me machuco e sinto o medo da morte juntamente com meu oponente. As emoções deles me cauterizam cada e todas as vezes. Percebi logo depois de minha mudança que eu não poderia manter minhas próprias emoções e sentir as deles também. Como uma luz refletida infinitamente em dois espelhos, as emoções de ambos eu e aqueles que lutei e matei, reverberam contra mim e se ampliavam até que quase me deixaram louco. Eu não poderia parar os sentimentos deles, mas poderia parar os meus próprios. Então, ao longo do tempo, eu matei o resto de minha humanidade e me esvaziei de tudo menos as mais básicas emoções que eu precisava para sobreviver. Não sei como amar porque eu destruí essa parte de mim mesmo.” Tentei dar o máximo de verdade eu podia, esperando que ela entendesse.

“Mas eu sinto isso em você,” ela disse firmemente. “Posso sentir que você me dá amor.”

“Eu não acho que isso está lá, Alice. Eu estou maravilhado com você. Eu me sinto conectado com você de um jeito que nunca pensei que fosse. Você me tocou nos mais profundos lugares, e têm me trazido de volta à vida. Eu devo tudo à você. Eu quero te fazer feliz. Quero que você pare de sentir medo e saiba que sempre vou estar aqui e sempre vou querer amar você. Acho que eu tenho sentido o faísca do amor, mas não sei como fazer isso crescer. Amada,minha amada, eu quero amar você. Mesmo se isso me tomar a eternidade, eu vou aprender como.”

Seu rosto estava instantaneamente na minha frente. Ela sorriu, mas eu não sabia dizer se isso era verdadeira felicidade.

“Nós fazemos um par e tanto, não é? Nossos dons são tão poderosos, e ainda assim eles são mais uma maldição do que uma benção. Como podemos ter dons tão incríveis e ainda assim sermos tão fracos?”

“Isso é a parte mais estranha de tudo,” eu concordei. “Você traz à tona minha fraqueza mais do que qualquer outra coisa, mas quando estou com você, eu me sinto mais forte do que jamais senti.”

“Talvez essa seja a razão,” ela disse enquanto inclinava sua cabeça novamente.

“A razão para que?”

“A razão de eu ter te visto. Talvez juntos, nós somos completos.”

“Eu não posso ser completo. Apenas posso ter esperança de desfazer alguns dos estragos, e eu nem sei se isso é possível. Eu não sei se posso te amar,” eu disse.

“Eu te amo o suficiente por nós dois,” ela disse com um sorriso em sua voz. “Você não tem idéia de quão maravilhoso é dizer isso. Eu te amo. Eu te amo, e você quer ficar comigo. Isso se sente tão bem.”

Pela milionésima vez, eu amaldiçoei Maria para o inferno que ela merecia. Eu precisava ser muito mais por Alice; eu precisava ser tudo para ela. Como ela poderia me aceitar sem a habilidade de realmente amá-la? Como eu poderia honrar os sacrifícios dela sem amor?

“Mas isso não é o suficiente, amada. Se eu soubesse que você existia, eu teria enfrentado toda a dor de oitenta anos para te conhecer intacto e completo. Você não pode entender o quanto desejo voltar e desfazer o que fiz. Eu quero ser capaz de te abraçar e receber todas as suas emoções inteiramente. Quero sentir tudo isso com você. Bom e mal, eu quero sentir tudo. Apenas não consigo ainda. É muito cru e novo. Mas, Alice, eu juro para você que vou achar uma maneira. De alguma forma eu irei.”

“Acho que você já encontrou, você apenas não sabe disso.”

Balancei minha cabeça. “Como eu posso fazer você entender?”

“Você não pode. Jasper, eu sinto isso em você. Quando você mandou as emoções para mim, quando senti seu medo durante a luta, enquanto você corria comigo, o amor estava imerso no meio de tudo isso.”

“Você disse que doía quando você sentia minhas emoções. Você disse que te tocar fazia isso pior. Mas você me carregou com você e se sentou comigo quando eu estava com medo demais para sequer me mover. Como você fez aquilo se você está além de poder se recuperar?” Ela se sentou, e seu rosto e tom estavam cheios de acusação. Sua ira tinha feito tudo, menos impulsionado o louco medo para fora.

“Não sei,” eu disse honestamente. “Eu posso sentir seu amor. Talvez eu esteja espelhando ele de volta para você,” eu disse enquanto ponderava a possibilidade que o amor dela fosse suficiente para nós dois. Ela bufou raivosamente. Eu estava aliviado demais em ter minha fadinha espirituosa de volta para tentar argumentar.

“Você está melhor,” sorri enquanto sua ira se tornou triunfo, e brilhante felicidade retornou à ela.

“Você me fez melhor,” ela disse com um toque do familiar brilho em seus olhos dourados. Seus cílios eram incrivelmente longos e espessos. Pensei como eu não tinha percebido isso antes.

“Eu quero te perguntar algo, mas não quero te causar mais nenhuma dor,” ela disse quase timidamente.

“Você não me causa dor,” eu disse firmemente. “Eu me causo dor.”

“Sei que você não sente muitas coisas, mas você sente algo forte por mim. Ou pelo menos você quer. O que exatamente você pode sentir? Sobre mim… o que você sente em relação à mim?”

“Proteção.”

“Bom, isso é um começo, eu suponho. Embora, não muito romântico,” ela murmurou. Eu ri.

“Não estou brincando sobre isso,” eu lhe disse com um toque em seu nariz. “Eu quero ter a certeza de que ninguém mais toque em você novamente. Você não tem idéia do que me ocasionou ver aquele monstro agarrá-la. Nada havia me feito tão furioso ou aterrorizado em minha conhecida vida… Eu vou sem sombra de dúvidas destruir qualquer um que tente te machucar de qualquer forma.”

“Obrigada,” ela disse com um sorriso, “mas não me fale. Me mostre.” Ela inclinou-se impossivelmente perto de mim.

“Eu não –“

Seu dedo passou suavemente contra meus lábios, e aqueles novos sentimentos rugiram quase incontrolavelmente por mim. Seus olhos abriram arregalados enquanto ela os sentia também.

“Sim,” ela ofegou. “Assim.”

Eu me inclinei para frente, tocando minha testa na dela. Olhando em seus olhos, eu deixei toda a bondade em mim, tudo que ela havia ressuscitado das cinzas e da poeira de quem eu era, fluírem através de mim. Isso não era o suficiente, isso nunca seria suficiente, mas era tudo o que eu tinha.


[Alice]

A onda de emoções oscilou duas vezes antes de bater em mim. Ela foi tão intensa que gemi. Elas rugiram através de mim até que eu estava ciente apenas delas. Elas não eram como imaginei que seriam. Elas eram emoções como as minhas, mas inteiramente masculinas. Elas eram complexas sem serem desordenadas, e eram muito claras. Eram entrelaçadas fortemente juntas, mas cada uma podia ser separada. Ele estava maravilhado comigo, e seus sentimentos em relação à mim eram quase de reverência e adoração. Ele sentia alegria. Esse era um profundo e suave sentimento, e tão frágil. Ele precisava me proteger. Não, era muito forte para ser uma necessidade. Era um impulso tão intenso que ligava todas as outras emoções. Ele tinha que me proteger porque ele precisava de mim. Ele precisava de mim. Era quase como uma fome ardente, ele precisava mais de mim do que qualquer outra coisa.

A onda lentamente se acalmou, e meus olhos foram capazes de se focarem em seu rosto. Ele parecia naquele instante como se pudesse facilmente ser quebrado. Ele estava inteiramente vulnerável.

“Obrigada”, eu disse em um sussurro. Quantas mulheres sabiam da intensidade dos sentimentos de seus amados? Quantas sabiam além de qualquer dúvida, como eu sabia agora, que elas eram tão desejadas?

“Minha vez,” eu disse, e cuidadosamente, muito cuidadosamente, lhe enviei meus sentimentos. Era estranho tentar focar minhas emoções, mas pensei que se eu pudesse isolar uma e trabalhar nela, talvez ele pudesse sentí-la e torná-la própria dele.

Enviei primeiro minha alegria profunda por estar com ele. Ele entendeu imediatamente e fechou seus olhos. Eu podia sentir ele respirando profundamente, e senti que ele estava tentando permanecer calmo.

“Isso está ok?” eu perguntei. Eu não queria machucá-lo. “Posso parar se isso causar dor”.

Ele simplesmente pegou minhas mãos e as colocou em seu peito, perto de onde seu coração uma vez bateu.

Tentei mais fortemente, e me foquei na felicidade outra vez, mas dessa vez adicionei meu enorme sentimento de amor. Era o primeiro amor que senti por ele, o mais simples. Desenhei aquela primeira memória do rosto dele e do conhecimento de quanto eu poderia amá-lo. Senti ele estremecer sob minhas mãos, mas não parei. Lembrei da primeira visão dele entrando no restaurante, e revivi minha ansiedade e alegria por vê-lo. Passei pelas visões dele lendo ou assistindo baseball, e me mantive no quieto amor que elas me traziam. E então, repassei o dia em que o universo se fez por inteiro; o dia em que ele realmente entrou no restaurante. Me lembrei sentindo seu cheiro pela primeira vez e vendo a água brincando em sua pele, eu estava sobrecarregada com a alegria e amor daquele momento. Mandei isso à Jasper, querendo que ele entendesse.

Ouvi seu suave suspiro enquanto sua própria frágil alegria se juntava à minha. Como uma reflexão infinita, isso cresceu até que minha mente estava entorpecida com tudo. Fechei meus olhos enquanto ondas de completo êxtase passavam entre nós. Eu era alegria. Nós eramos alegria. Um arco-íris incrivelmente brilhante me envolveu, terminando no momento que um perfeito amarelo se acendeu em minha mente. Isso passou por mim trazendo com ele pura exaltação.

Quando abri meus olhos, encontrei meus braços em volta de seu pescoço, e meu rosto enterrado em seu ombro. Sua respiração era irregular, ele estava balançando e me abraçando apertado.

“Isso foi lindo,” eu ofeguei. “Jasper, você viu? Foi lindo!”

“As cores? Você viu as cores?” ele disse roucamente.

Eu assenti, incapaz de pensar claramente em uma resposta. Ouvi ele gemer suavemente, e rapidamente afrouxar seu abraço. Seu braço deslizou, e eu me inclinei para trás para vê-lo. Seu rosto estava cansado, e ele parecia totalmente exausto. Eu o tinha machucado.

“Sinto muito,” sussurrei em angústia. Queria abraçá-lo e parar a dor, mas eu sabia que o tocar talvez aumentasse isso.

“Eu não queria que você se machucasse. Apenas queria que você soubesse.”

Sua mão se levantou e roçou minha bochecha. “Você não me machucou, amada. Isso apenas se tornou intenso demais muito rápido. Eu não estou acostumado a sentir felicidade, e reagi à isso fortemente, e isso ficou fora de controle”.

“Isso machucou sim, eu posso ver.”

“Ok, machucou, mas machucou de uma boa maneira. Foi uma dor de cura. Você parecia como se estivesse lembrando de algo. Sobre o que você estava pensando?”

“Sobre todas as vezes que te vi.” Eu admiti, me sentindo de repente envergonhada. “A ultima memória antes de eu perder o controle era de você entrando no restaurante há sete dias atrás.” Fazia tão pouco tempo assim?

“Eu te faço tão feliz assim?” Ele perguntou incrédulo.

“Claro. Eu te disse, tenho amor e felicidade suficientes para nós dois. E ainda nem cheguei às melhores partes. Eu vou salvar essas para depois.”

Ele me olhou estranhamente, e depois disse um muito feliz, “Obrigado.”

“Você sabe qual é a pior parte?” ele me perguntou em uma voz triste. “A pior parte é querer tanto te tocar, e não ser capaz de agüentar isso. Seu toque tanto me cura quanto me acende em chamas de formas que não sabia que eram possíveis, e eu quero tanto, mas isso é avassalador para mim.” Ele olhou para o teto do celeiro em ruínas enquanto falava, e eu podia ouvir um temor em sua voz.

“Minhas mãos não te machucam quando te toco?” Tracei a agora fina linha da quebra ao longo de seu ombro. Ele balançou sua cabeça, e eu a segui para baixo, para onde estava uma pequena linha branca em sua cintura. Senti seus músculos se tensionarem sob o meu dedo, e ele respirou rápido.

“Não.”

Eu sorri e tracei sua cicatriz de volta, a segui até sua clavícula, e continuei pelo seu pescoço.

“E agora?”

“Não. Isso definitivamente não me causa dor,” ele disse enquanto fechava seus olhos.

“Então pequenos toques são suportáveis?”

Ele riu baixo em sua garganta. “Eu diria que eles são um pouco melhores do que suportável.”

Deixei meus dedos percorrerem ao redor de sua boca, e os passei em seus lábios.

“Agora?”

“Suportável.” Isso foi quase um gemido. Seus olhos ainda estavam fechados, e ele estava perfeitamente adorável à luz desvanecente. Eu nunca tinha visto algo tão cativante, e totalmente meu.

Meus lábios suavemente roçaram os dele. Ele congelou, e eu me movi bem lentamente para frente e para ficar de joelhos, cuidadosamente para não tocá-lo. Inclinei minha cabeça e pressionei minha boca na dele, apenas um pouco mais forte dessa vez. Eu não entendia como, mas minha boca parecia saber beijar sem nenhum comando meu. Deixei meus lábios deslizarem sobre os dele, beijando primeiro o seu lábio superior completamente imóvel, e então o inferior, movendo lento e suavemente. Sua mão estava de repente em meu pescoço, me puxando para ele, e sua boca começou a se mover sobre a minha. Eu podia sentir a sua doçura picante em sua respiração. Seus lábios eram como seda contra os meus, e eu o beijei de volta severamente. Nossos lábios se moviam tão sem problemas e facilmente, como se eles tivessem sido feitos para esse mesmo momento.

Uma inundação de emoção me atingiu, mas dessa vez eu a correspondi. Elas estavam entrelaçadas como antes, mas tão forte que eu só podia decifrar uma emoção. Amor. Era minúsculo e frágil, mas estava lá. Meu próprio sentimento de amor explodiu em reação à isso, e, como antes, o sentimento cresceu entre nós até ser tudo o que eu podia sentir ou pensar. Amor, tão complexo e completamente singular ao mesmo tempo. Isso me preencheu, correu através de mim, e transbordou. Então cores piscaram em minha mente e através de minha alma. Elas eram perfeitas, brilhantes, profundas, puras e vibrantes, tudo de uma vez.

Nós dois arfamos ao mesmo tempo, e eu caí para trás no chão sujo, respirando pesadamente. Culpa caiu sobre mim quando percebi que eu tinha feito isso de novo. Joguei meu braço por cima dos meus olhos, e tentei lembrar o azul e o sentimento de ser inundada em nosso amor, tão certo e tão puro.

“Sinto muito,” eu finalmente disse. “Não farei isso de novo. Não é justo, e sinto muito.” Movi meu braço, e me encontrei encarando o rosto de Jasper enquanto ele se ajoelhava sobre mim. Ele estava sorrindo.

“Isso valeu a dor, amada. Você está bem?”

Assenti e sorri. “Está tudo bem? Aquilo foi incrível! Os outros vêem as cores e sentem emoções tão fortemente que eles são completamente levados por elas?”

“Acredito que não. Somente vi as cores tão intensamente com você.”

“Apenas comigo?” Meu coração silencioso quase explodiu com aquele conhecimento. Apenas comigo. Comigo.

“Sim,” ele disse, e acariciou meu rosto com seu nariz, respirando meu perfume.

“Isso vai levar alguma prática,” eu disse com um sorriso muito contente.

“Nós temos tempo, amada.”

Falando nisso, eu te disse. Você sente amor sim,” as palavras saíram mais presunçosamente do que eu pretendia.

Ele riu plena e livremente, e de repente ele estava ao meu lado no chão. O som da sua gargalhada reverberou, enchendo o celeiro com um som de profunda alegria. Então, ele estava em cima de mim de novo, se apoiando com seu braço bom, e inclinando-se para beijar a minha mandíbula.

“Senti amor, Alice!” Ele disse com os olhos iluminados em maravilha. “Eu o senti, e eu dei ele à você. Eu não sei como, mas estava lá. E você sabe o quê? Pensei que o amor tinha vindo do que você havia me dado, mas não foi. Ele veio do que eu te dei. O amor estava lá. O amor, ele vem de se dar.”

E seus lábios encontraram os meus enquanto o crepúsculo caía, e o mundo se tornou uma pulsante sinfonia de cores.

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