quarta-feira, outubro 27, 2010

Coalescence - Capítulo 11: O Céu Eterno

[Alice]

Jasper me observava atentamente enquanto corríamos. Ele fez dezenas de perguntas, rindo livremente em cada uma das minhas respostas bizarras. Seus olhos, dourados e adoráveis, brilhavam, e meu peito se aquecia em apenas olhar para ele. Isso durou apenas um curto tempo, mas eu apreciava cada momento.

Seu humor mudou instantaneamente quando chegamos nos limites da cidade. Sua mão agarrou a minha em desespero ao invés de amor, e seus olhos perderam seu brilho. Jasper enrijeceu, parecendo um animal sendo caçado com seus sentidos buscando em toda parte pela possibilidade de uma ameaça. Mesmo que ele não tivesse necessidade de óculos escuros, ele evitou qualquer contato visual com os seres humanos que encontrávamos. Exceto pelos olhares de várias mulheres, ninguém deu muita atenção para nós enquanto caminhávamos pelas ruas sob um guarda-chuva. A chuva veio exatamente como eu havia previsto, e enquanto ela escondia a nossa identidade, também lavava qualquer vestígio de vampiros.

Nós havíamos escolhido a casa de Ivan como nossa base de operações devido à sua localização central e ao fato de que vários túneis adentravam o porão vindo de pontos ao redor da cidade. Eles tinham sido utilizados durante os anos de Proibição, e agora eram bastante úteis para se sair escondido. A verdadeira razão, porém, era que os irmãos russos não deixariam a casa cheia de brinquedos que tinham adquirido ao longo dos anos, e ninguém conseguiriaagüentar ouvindo-os reclamar.

Não foi até que estávamos à vista da casa de Ivan que identificamos o primeiro cheiro dos intrusos. Meu corpo reagiu de imediato. Fiquei tensa e soltei um rosnado baixo. Jasper, cujo braço estava ligado ao meu, enviou uma onda de calma imediatamente. Ele estava acostumado a lutar e não tinha alterado a sua posição em nada, e a única pista de sua cautela era a rápida vistoria de seus olhos.

Deixei que ele guiasse meus passos enquanto minha mente rapidamente procurava por um possível ataque. Depois de uma dúzia de metros, ele sussurrou baixinho: “Alguma coisa?”

Balancei minha cabeça, e nós fomos até a casa de Ivan andando calmamente para quem nos visse, mas totalmente tensos para a batalha.

Minha batida foi apenas superficial. Jasper empurrou a porta de madeira já aberta sem esperar por uma resposta, e entrou para enfrentar uma aparentemente preocupada Lena. O clique silencioso da trava da porta ecoou ruidosamente pela casa.

“Você notou alguma coisa?” Perguntou ela com pressa.

“Dois cheiros. Onde estão os outros?” A voz de Jasper era notavelmente de comandante.

“Preparando lá embaixo. Nós também captamos os aromas hoje, e Mai-Li acha que os sentiu no início desta semana. Ivan quer saber o que fazer com eles.”

Corremos para dentro do porão da grande casa de Ivan. Atrás da enorme caldeira era uma câmara secreta que levava aos túneis. Isto é onde nossa base de operações estava. Mapas da cidade cobriam as paredes, cada uma com círculos e rabiscos sobre eles, destacando tanto os locais bons quanto os ruins para a batalha.

Ivan estava agachado sobre outro mapa quando chegamos.

“Eles seguiram Jasper e Alice,” Lena disse enquanto caminhava para ficar ao lado de seu companheiro. Todos os olhos se voltaram para Jasper.

“Eles provavelmente estão apenas em fase de reconhecimento”, Jasper disse com firmeza. “Quando Carlos envia assassinos, há pelo menos três. Dois iniciam o ataque e o arrasta para o local desejado, e um terceiro salta para acabar com tudo. Ele aprendeu a tática dos Volturi, e ele se tornou um mestre nisso. Alice não viu um ataque ainda, então esses dois provavelmente irão nos assistir e reportar ao Carlos.”

“Eu não gosto de esperar. Não seria melhor simplesmente matar os espiões e acabar com isso?” Ivan disse, impaciente como sempre.

Eu ouvi um pequeno suspiro de Jasper, ele estava cansado do desejo constante de Ivan se matar.

“Estamos escolhendo os nossos campos de batalha com cuidado, lembra? Precisamos que eles pensem que nós não temos conhecimento do exército que se aproxima. Se Carlos tiver qualquer coisa que indique que estamos prontos para ele, ele vai recuar e esperar. Ele sabe que tem toda a eternidade para iniciar um ataque, e é isso que o torna tão difícil de se matar. Ele é paciente e meticuloso”, explicou Jasper.

“Então quando é que vamos atacar?” Perguntou Chi-Yang.

“Quando Alice ver um grupo de três ou mais. Então, um ou dois de nós irá levá-los para um lugar de nossa escolha, atraí-los para a batalha, e os outros descerão sobre eles. Usaremos sua própria tática contra ele”, Jasper disse com um sorriso sem humor. “Isso irá funcionar desde que fiquemos juntos e coordenarmos perfeitamente.”

“E sobre o exército principal? Nós ainda teremos de lutar contra eles”, rebateu Mai-Li.

“Estou torcendo em quebrar o exército matando os pequenos grupos em primeiro lugar. Carlos terá talvez uma dúzia de treinados recém-nascidos controlados por alguns poucos capitães como sua principal força, e então talvez três ou quatro grupos de atacantes especializados. O exército de recém-nascidos vai ser mais fácil de lutar se pudermos nos livrar dos soldados mais velhos primeiro“, disse Jasper enquanto eu o sentia usando seu dom para inspirar confiança nele.

Ele fazia isso com tanta facilidade, levando-nos para a batalha, e eu podia ver porque ele era um guerreiro tão formidável. Seu rosto agora estava frio, calculista e implacável – nada do homem protetor que correu comigo através da floresta foi deixado. Estremeci com o que vi, porque, se Jasper estava certo, o assassino sem coração que ele tinha se tornado teria de permanecer, se ficássemos em Nova York.

“O que você já viu, Alice?” Mai-Li perguntou. Os olhos de todos estavam em mim.

“Nada de concreto. Os espiões não decidiram nada ainda, mas vou continuar procurando”, disse eu, tentando esconder minha frustração. Muito dessa batalha dependia de minhas visões, e se eu falhar, suas mortes seriam minha culpa. Olhei para a forma alta de Jasper, agora debruçado sobre a mesa cheia de mapas, e senti uma onda de pânico. Quem nós perderíamos se eu falhasse?

A sala de planejamento tinha apenas algumas peças de mobília, mas ela de repente me pareceu muito pequena e constritiva, então voltei para o andar principal e me sentei na escada, onde ninguém de fora podia me ver. Eu sabia que deveria me focar em encontrar o exército de Carlos, mas ao invés disso me peguei pensando na família de Carlisle. Eu precisava vê-los agora. Precisava saber que havia um futuro para nós que não incluía a morte, mas eu não conseguia fazer com que imagens deles viessem até mim. Eu me senti abandonada, o que era irracional, eu sabia, mas eles sempre foram a minha fonte de conforto, e agora que eu precisava deles, eles não estavam aqui.

Pensei novamente sobre o que eu tinha feito para mudar nosso caminho, para que eles não estivessem mais no meu futuro. Eu passei meus braços em minha volta para aliviar a dor e tentei mais seriamente ver os soldados de Carlos. Breves imagens de corridas e talvez combates foram tudo que consegui captar. Eu sabia o porquê, é claro, mas o remédio para isso parecia imprudente. Após duas horas, minha cabeça estava se rachando com o esforço inútil. Eu não tinha visto nada, e eu sabia que nós estávamos tomando a abordagem errada. Levantei-me e voltei ao porão para contar aos outros o que eu precisava.

No segundo que meu pé tocou o primeiro degrau, todos eles estavam esperando. Engoli em seco, me perguntando se eu deveria falar com Jasper primeiro.

Não, isso teria que ser uma decisão do grupo.

“Eu não consigo ver nada até que uma decisão seja tomada, e acho que nós precisamos ser aqueles que precisam fazê-lo. Se nós enviarmos um indivíduo ou dois, e levá-los para a armadilha de nossa própria escolha, então posso obter uma visão”, eu disse.

“Eu farei isso”, Ivan ofereceu, um pouco rápido demais e muito alegre.

“Isso foi rápido”, resmungou Lena, espelhando os meus pensamentos.

“Odeio esperar aqui por um ataque; isso me dá calafrios. Prefiro puxá-los, e quanto mais deles melhor”, ele acrescentou com um sorriso maligno.

Jasper olhou para ele com descrença e encolheu os ombros. “Ok, nós temos o início de um plano. Aonde você quer ir?”

“As lutas. Eu gosto de ir todos os sábados, e uma boa luta de boxe vai me deixar de bom humor”, ele riu.

“Tenha cuidado com quem você matar desta vez”, rosnou Vasily. “Da última vez que você comeu ao lado do ringue, demorou um pouco para limpar.”

Ivan olhou timidamente para o irmão. “Comer lá é parte da diversão. O sangue e o suor dos pugilistas abrem o apetite, e comer no meio da multidão acrescenta um pouco de excitação”.

“Exibicionista”, sibilou Chi-Yang. Ivan apenas sorriu.

“Mostre-me onde é,” suspirou Jasper, voltando-se para os mapas.

Dei as costas para a sala, mas não cheguei nas escadas antes que a visão me atingisse. De repente eu estava olhando para baixo de um grande edifício em um bairro sujo. Eu podia ouvir a multidão barulhenta sair abaixo de mim, mas não foi isso que chamou minha atenção. No edifício à minha direita eu podia ver o vulto de um vampiro, olhando para baixo. Ele acenou para alguém do outro lado da rua, e um vampiro pulou de um prédio de lá.

“Eles vão atacá-lo assim que ele sair”, eu disse categoricamente, sem me virar. Eu havia acabado de enviar meu ursinho de pelúcio russo para uma armadilha.

* * *

Pelos sons da multidão, a luta de boxe tinha acabado quando o terceiro vampiro chegou. Os dois cujas essências nós pegamos anteriormente tinham seguido Ivan para as lutas. Na verdade, eles chegaram lá à frente dele. Eles devem ter ficado observando os covens de Nova York por um tempo, porque eles sabiam exatamente onde Ivan iria em uma noite de sábado. Quatro de nós tínhamos formado um largo anel ao redor da arena e agora tínhamos os três vampiros e Ivan no centro dela.

Nosso maior perigo reside na atitude demasiadamente ansiosa e auto-confiante dos russos. Vasily já estava preparado para matar quando deixou a casa depois de Ivan, e mesmo que Jasper tivesse nos avisado várias vezes que estes eram assassinos treinados, eu tinha medo de que um dos grandes Russos tentasse abatê-los sozinho.

Tal como previsto, após as lutas, Ivan saiu do edifício e atravessou a cidade para os trilhos do trem para terminar sua refeição. Este era outro de seus hábitos, e queríamos que os assassinos pensassem que este era um sábado normal. Eles morderam a isca e o seguiram. Chi-Yang e Vasily já estavam no depósito, esperando em uma emboscada atrás de um tanque de óleo. Mai-Li e Lena estavam correndo lado a lado de Ivan e seus seguidores, e Jasper e eu ficamos na retaguarda. Todos nós tínhamos que ficar longe o suficiente dos assassinos para permanecermos escondidos, o que significava que Jasper e eu tivemos que seguir mais pelo cheiro do que pela vista.

Nós ouvimos os rugidos dos vampiros e estrondos de rochas batendo umas contra as outras antes que nós estivéssemos perto do depósito. Todo cuidado abandonado, corremos para nos juntar à batalha. Assim que chegamos ao exterior dos edifícios ao redor do trilho, vi que um dos assassinos iria tentar correr, então eu me virei meio passo para me encontrar com o vampiro fugindo assim que ele surgiu de um beco estreito.

Eu estava sobre ele tão rápido que ele mal teve tempo de gritar diante dos meus braços cercados por trás de seu pescoço. Esse vampiro estava acostumado à batalha, no entanto, e imediatamente agarrou meus braços e atirou-se em uma cambalhota, atirando-me no asfalto com tanta força que ele quebrou abaixo de nós. Ouvi um rugido furioso e senti o braço do atacante me soltar. Um som estridente ecoou nas paredes enquanto Jasper arrancava o braço de seu corpo. Puxei a sua cabeça, e Jasper puxou o outro braço. Eles saíram, ao mesmo tempo com altos e metálicos cracks. Caí de costas contra a rua de novo, mas antes de eu acertar o chão, as mãos de Jasper me pegaram. Ele estava furioso.

“Nunca mais faça isso de novo, Alice”, ele disse, olhando profundamente como o vampiro que era.

“Eu não podia deixá-lo ir embora”, respondi com raiva. Bati meu pé sobre o tronco do corpo se contorcendo.

“Você poderia me dar algum aviso. Correndo assim dessa maneira vai fazer com que você morra nessa guerra”, ele fervia.

“Posso cuidar de mim mesma”, eu cuspi, batendo de novo o pé o chão. Um braço estava tentando fugir. Ele só rosnou para mim.

O silêncio repentino me disse que a luta acabou, e nós reunimos os restos descontrolados do vampiro e nos juntamos aos outros na cheirosa fogueira entre vagões. Eu ainda estava irritada, e Jasper parecia que ainda queria matar alguma coisa. Realmente, sua necessidade de me manter protegida de tudo era de enlouquecer.

Ninguém falou enquanto as chamas atravessavam os corpos retorcidos, rapidamente tornando-se cinzas. Eu me preparei para o que sabia que estava por vir. Os outros se assegurariam de que nenhum ser humano que pudesse ter nos visto jamais teria a chance de dizer o que tinha acontecido. Eles tinham que fazer isso, é claro, mas eu odiava essa parte da batalha mais do que tudo. Meu peito doía em silêncio, e não apenas pelos poucos humanos que seriam mortos. Uma visão me mostrou que os olhos de Jasper estavam prestes a voltar ao vermelho.

Fechei meus olhos e cruzei os braços, e desejei uma visão dos felizes vampiros de olhos dourados para encher minha mente. Ouvi os outros partirem, a breve luta dos seres humanos, e um grito que foi silenciado por um murmúrio. Mantive minha cabeça centrada na família, cuja presença me era tão almejada, mas nada veio. Nada mesmo.

Quando abri os olhos, as chamas estavam morrendo e os outros estavam de pé ao seu redor. Jasper estava na minha frente, de cabeça baixa. Tentei não sentir a desilusão que me inundou. Eu não tinha nenhum direito de ficar decepcionada, nenhum. Eu nunca teria sido capaz de desistir do sangue humano se eu não estivesse ficado longe deles quando eu tentei pela primeira vez. O cheiro forte de sangue ficou no ar, e mesmo agora, ele chamava a mim como o canto de uma sereia tentando quebrar a minha concentração por apenas um momento de pura alegria. Não, eu não poderia esperar que Jasper resistisse à ele ainda, mas eu realmente quis que ele tentasse. Ele finalmente olhou para mim, e tentei cumprimentar seu belo rosto com um sorriso, mas ele apenas desviou o olhar novamente. Meu sorriso não fez nada para aliviar os sentimentos que eu tenho certeza que ele sentia.

Sem uma palavra, começamos a caminhar de volta para casa de Ivan. Estendi minha mão para a de Jasper, e ele a agarrou com firmeza, mas ainda não encontrava meu olhar.

“Uma boa primeira batalha”, disse Chi-Yang, com um tom de satisfação. “Se nós podemos atraí-los para longe assim, talvez tenhamos uma boa chance.”

“Foi muito fácil”, reclamou Ivan.

Eu devia ter sentido prazer por termos vencido a primeira batalha, mas de alguma forma eu senti que estava lentamente perdendo a minha guerra.

* * *

Não tive outras visões de espiões ou assassinos pelos próximos três dias. As únicas que eu tinha eram do exército de ataque dos recém-nascidos e, embora o local mudasse com freqüência, o fato de que eles nos queriam em um prédio grande e aberto não mudava. Eu não tinha idéia do porquê, mas isto estava aparentemente definido na mente de Carlos. Ele nos queria em uma área fechada.

Eu senti que estava trancada nos dentes de uma armadilha cerrada, embora tivéssemos facilmente tratado com os invasores, a ameaça continuava a crescer mais e mais. Todos olhavam para mim para dizer-lhes quando mover-se e o que fazer; minha habilidade era a chave para nossa sobrevivência, e o peso da responsabilidade era sufocante. Mesmo que eu estivesse cercada pelos meus semelhantes constantemente, me senti completamente sozinha. Eu sentia falta de minha família. Eu sentia falta do meu Jasper.

Ele estava lá, claro, sempre perto de mim, mas ele não era ele. Ele tinha se tornado o homem vigilante e vazio que eu tinha encontrado 14 dias atrás.

Quatorze dias.

Parecia tão pouco tempo em comparação aos 28 anos eu havia esperado, e ainda assim eu renasci naquele tempo. Uma vez que Jasper chegou, tudo diminuiu a velocidade, cada minuto resultava em uma nova maravilha e uma nova razão para viver. Nesse tempo, Jasper tinha voltado à vida, e se tornado o companheiro que sempre sonhei, mas agora aquele homem estava escapando enquanto o monstruoso soldado tomava seu lugar.

De forma entorpecida eu mantive a farsa das nossas vidas enquanto observava Jasper deslizar cada vez mais e mais para longe de mim. Pretendíamos levar qualquer novo espião à uma perseguição sem rumo, deixando nossos perfumes em lugares que queríamos usar em nossa vantagem. Nossas incursões pela cidade eram como uma dança complicada com intenções mortais. Cada um na sua vez andaria pelas mesmas ruas e visitando as mesmas lojas, tentando mostrar um padrão para todos que estavam assistindo, enquanto os outros mantinham uma vigília à distância.

Ao final dos três dias, duas figuras começaram a seguir Chi-Yang e Mai-Li. Uma vez que vi seus rostos, minhas visões foram ao máximo . Eu podia ver os espiões por toda parte e o exército vindo, mas eu não podia ver um ataque específico.

“Eu pego esses dois”, disse Chi-Yang, com um sorriso malicioso quando ele voltou. “Eu vou sozinho para a próxima reunião do clã. Isso deve forçá-los a sair.”

“Acho que devemos jogar uma moeda”, reclamou Vasily que aparentemente estava mais do que pronto para sua oportunidade.

“Eu sou o mais velho.”

“Somos eternos, a idade não conta. Jogue uma moeda e faça isso justo”, choramingou Vasily, que queria aumentar seu número de mortes. A contagem centenária de matança era uma grande fonte de orgulho e de competição entre os machos, e era um dos principais motivos que eles pareciam quase suicidas em sua necessidade de atacar qualquer adversário. Vasily estava atrás por uma dúzia, e estava louco para aumentar seus números macabros.

“Por que não deixamos Alice nos dizer quem usarmos como isca?” Sugeriu Jasper. Eu senti seus olhos se voltando para mim de novo.

“É estranho”, comecei, ainda tentando forçar minha mente para me mostrar o nosso futuro. “A última vez fomos capazes de forçar a luta por escolha, mas desta vez as visões não mudam.” Não importava quão duro eu procurasse, elas não mudavam. Alguma coisa tinha mudado.

“Ha!” cantou Vasily triunfante. “Eu disse à você. É a minha vez.”

“Eu não acho que é isso”, eu disse lentamente. “Acho que todo o plano mudou. Carlos perdeu dois grupos de combatentes no prazo de três semanas. Acredito que ele mudou de tática.”

“Então, o que então? Nós esperamos?” Ivan bufou, impaciente.

“Vamos dar mais alguns dias, continuar assistindo, e se nada mudar, nós mesmos tentamos uma nova tática”, disse Jasper com calma determinada. “Não podemos apressar Carlos, e ficarmos arrogantes ou desleixados só vai acabar em desastre. Continuaremos com a nossa fachada para os próximos dias, e Alice vai continuar a vigiar”, ele se virou para mim e assentiu. Eu tentei sorrir de volta, mas falhei miseravelmente. “Se o pior ficar pior, vamos tentar forçar seu exército principal em uma batalha. Talvez eu tenha um plano seguro extra para fazer isso.”

Algo em suas palavras correu pela minha espinha como pernas de aranha. Ele não tinha me falado de seu plano, o que era incomum, e a única razão que ele teria para não me dizer era porque eu não iria gostar. Isso me preocupou.

Infelizmente, não tive muita chance para encurralá-lo sobre seu pequeno plano porque raramente tínhamos tempo sozinhos. Estávamos sempre cercados pelos outros enquanto nos preparávamos para a batalha e, quando havia um momento de relaxamento, os homens reuniram-se no sofá para assistir televisão.

Eles eram tão encantados com a caixa de madeira que agora estávamos em perigo de sermos invadidos, sem sequer termos a posição de uma luta. Se Carlos tivesse conhecido quão totalmente hipnótico era o efeito da televisão no vampiro masculino comum, ele teria desistido de Nova York e tentaria tomar o mundo durante o horário nobre.

Os homens estariam debruçados sobre mapas ou decidindo rotas quando Ivan ou Vasily de repente gritavam, “Tempo!” Em seguida, eles corriam da sala para se colocarem na frente do pequeno e brilhante círculo, e se fixavam em qualquer coisa que estivesse na tela. Geralmente, era um jogo de beisebol ou boxe de algum tipo, apesar que Chi-Yang também amava as apresentações musicais.

“Por favor me diga que isto é apenas uma moda passageira”, gemeu Lena após o segundo dia sem novidades.

Eu tive uma visão rápida de uma caixa ainda maior com imagens coloridas de cowboys piscando através dela. “Nah”, eu disse, decididamente soltando o h final.

“Bem, estou farta disso”, sibilou Mai-Li sobre o rugido vitorioso dos homens. Alguém tinha feito ponto no que fosse que eles estivessem assistindo. “Chi-Yang prefere sentar na frente daquilo do que desfrutar da minha companhia. Estou pronta para despedaçar aquela coisa.”

“Não seria preciso muito,” Eu concordei, olhando para a tela minúscula no meio da caixa de madeira. As antenas da caixa estavam cobertas com folha de papel alumínio, que se estendia para fora como alguma rede robótica para que a imagem fosse clara.

De repente, Lena deu um pulo e gritou, “Eles estão aqui! Nós estamos sob ataque!”

Vasily apenas levantou sua mão e, sem olhar, resmungou: “Fique quieta! Eu perdi o placar.”

“Nós estamos mortos”, resmungou Mai-Li com desgosto.

* * *

Sentei-me sozinha e escondida embaixo da janela do quarto no segundo andar. Eu não podia olhar para fora dela, porque isso iria revelar nosso lugar. Eu apenas queria fugir e pensar por um tempo. Minha mente e coração precisavam de um descanso. Mas eu parecia não poder descansar no quarto escuro. Muita coisa estava acontecendo, e muito dentro de mim tinha mudado. Mesmo o som da rua na cidade era diferente. Eu não tinha notado antes o quanto mais de ruído havia agora. Quando primeiro me mudei para New York há tantos atrás, as ruas eram quietas. Cavalos ainda podiam ser ouvidos entre os pedestres, e apenas alguns carros rugiam pela rua. Agora, o constante som de automóveis nunca completamente paravam, mesmo de noite. Tanto havia mudado.

Suspirei, e olhei para cima para a fina linha de estrelas que estavam visíveis da minha posição. Apenas algumas brilhavam através da artificial luz da cidade, mas aquelas distantes de reluzentes luzes eram a única constante coisa em minha vida. Tudo mais que eu conhecia e amava mudou, morreu ou me deixou.

Tanto ouvi quanto senti Jasper quando ele entrou no quarto. Sem nenhuma palavra, ele veio se sentar perto de mim.

“O que foi?” Ele perguntou gentilmente enquanto seu braço ia ao meu redor. Nós não temos tido muito tempo para simplesmente nos tocarmos desde que chegamos aqui 6 dias atrás. Eu me derreti nele, aliviada de encontrar meu Jasper ao meu lado.

“Sinto sua falta.” As simples palavras carregavam minha saudade em seu tom.

“Terminará em breve, eu prometo,” ele disse com um beijo em minha cabeça.

Balancei minha cabeça contra seu peito. “Eu sinto sua falta,” eu disse novamente, mandando uma onda tanto de saudade quanto amor. “O você que sentia, sorria e gargalhava. Sinto falta daquele homem. Sei que você não pode ser ele nesse momento,” terminei miseravelmente. Eu sei que estava sendo egoísta e não deveria reclamar, mas os ultimos dias pesaram em mim. Eu queria tanto ser envolvida na luz do amor de Jasper que isso me queimava, mas eu não podia fazer isso aqui.

Ele inclinou sua cabeça contra a parede e olhou para a janela acima de nós.

“Você não sabe o tanto que quero voltar a ser aquele homem. Mas eu apenas não posso viver em ambos mundos. Não posso ser um assassino e permanecer humano.” Frustração afiava suas palavras.

“Podemos ir embora,” eu sussurrei.

“Esse é o melhor lugar para você. Você poderia viver aqui, com seus amigos e fazer compras em todas as lojas que quiser. Você já fez para si uma boa vida aqui. Por que mudar isso?” Eu podia sentir suas palavras fazendo sentindo para mim. Ele me amava e me queria protegida, e essa cidade era um lugar seguro para nós. Suas palavras me faziam querer ficar, me faziam querer acreditar que New York poderia finalmente ser minha casa.

Então eu bati nele. Forte.

“Jasper Whitlock, não se atreva a usar seu dom assim em mim de novo!”

Ele apenas deu seu meio sorriso para mim. “Eu tinha que tentar, querida. Esses vampiros querem que você fique, e acho que no fundo, você gostaria disso também.”

Ele estava certo. Quanto mais eu ficava aqui, mas difícil era ir embora. E agora que eu nem podia ver minha família, haviam poucas razões para fugir. Depois que tudo isso terminasse, talvez Jasper e eu pudéssemos comprar uma casa e ficarmos lá. Ele estava se dando tão bem com os outros agora, e podiamos esperar até que visões mais claras da família de Carlisle regressassem antes de tentar sair às cegas buscando por eles.

Então percebi que eu estava sentada abaixo de uma janela escondendo de possíveis assassinos com ordens de um maníaco para nos matar. E isso era normal para um clã residente em uma grande cidade. Enquanto ficássemos aqui, sempre precisaríamos estar preparados para um ataque. Jasper sempre seria um soldado. Ainda assim o atrativo de ficar na única casa que realmente chamei de minha era forte. Meus sentimentos eram tão nublados quanto minhas visões agora.

Acomodei-me de volta em Jasper e suspirei enquanto olhava novamente para as estrelas. Jasper seguiu meu olhar.

“A única coisa inalterável que temos,” ele disse em uma suave voz de aveludada. Era perturbador o quão bem ele conhecia meus pensamentos.

“Eu estava apenas pensando sobre quanto o mundo tem mudado desde que vi o sol pela primeira vez. Parece que a única coisa que não muda é o céu noturno. Deve ser ainda pior para você.”

“Esse mundo não se parece em nada com aquele no qual eu nasci. Até o ar é diferente. Tenho passado inúmeras horas observando o céu noturno e o memorizando, assim como você faria com o rosto de um bom amigo. A única coisa que não tem mudado é a morte,” ele disse em seu profundo tom.

“Obrigada, esse é um pensamento prazeiroso.”

Ele deu de ombros. “É a verdade.”

“Morte é a nossa vida,” eu disse, repetindo Paul. Eu odiei aquelas palavras quando ele as dias, e odeio elas agora. Morte não era vida. Morte corta profundamente e deixa uma venenosa ferida que nunca cicatrizou devidamente.”

“Sim,” ele disse, como se fosse a mais simples verdade por aí.

“Não.”

“O que isso quer dizer? Você é uma vampira, Alice. Não importa o que você faça ou o que coma, você sempre irá querer sangue. Você sempre matará, e você sempre será um membro dos mortos.”

“Não, não serei. Quero ser uma parte da vida, Jasper. Tem tanto dela, mesmo por por toda a dor e sofrimento dos que vivem, ela é uma coisa linda. Eu quero viver.”

“Você nem tem um coração pulsante, amada,” ele disse com uma voz cheia de compaixão. “Ele morreu com o humano que você uma vez foi. Somos os mortos-vivos, e todo o querer no mundo não mudará esse fato.”

“Então você acredita que somos monstros sem alma eternamente condenados? Perguntei tristemente.

“Não sei se existe uma eternidade ou um Deus, ou mesmo se alguma vez eu tive uma alma. Tudo que sei é que meu coração uma hora bateu, e agora está em silêncio. Sei que alguma vez eu fui um homem mortal de carne e ossos, e agora sou pedra immortal, inflexível e inalterável. Estou condenado a andar por essa terra eternamente com sede por sangue inocente e morrendo cada vez que o tomo. Até que você apareceu, eu tinha certeza que isso era o inferno,” ele riu sinistramente.

“Se sou um monstro, como posso te amar tão puramente?” Perguntei, lhe mandando um sentimento de amor tão potente quanto eu conseguia reunir. Ele reagiu puxando-me para seu colo e colocando seus braços ao meu redor. Seu amor me envolveu, profundo e suave como sua voz.

“Você mudou toda minha noção de como o mundo funcionava, sabia? Você veio como um anjo em meio de demônios, e nada do que você é faz algum sentido. Você quase me faz acreditar na possibilidade de paraíso.”

“Quase?”

“Quase é um enorme passo para mim.” Ele riu, mas então ficou repentinamente sério. “Alice, me diga como te fazer feliz. Diga-me o que posso fazer por você.”

Fiz a certeza de que minha resposta combinava com as emoções que eu não podia esconder. “Eu quero saber o que você não está me contando. Quero que você me fale o que está planejando fazer. Sei que é algo ruim, ou você teria discutido sobre o assunto comigo.”

Ele respirou profundo e lentamente falou. “Carlos é um estrategista mor. Ele está ganhando tempo para si, ou ele fará algo para nos atrair em complacência. Precisamos dar à ele algo para forçá-lo a agir, algo que ele não possa negar. Precisamos – “

“Não! Jasper, não! Eu não deixarei!” Eu estava quase berrando as palavras.

“Eu preciso, Alice. Acho que podemos fazer isso funcionar.”

Eu estava tremendo toda com o simples pensamento disso. Minha cabeça balançava rapidamente em negação enquanto eu segurava sua camisa. Senti como se precisasse segurá-lo aqui. Ainda assim, mesmo que eu tentava convencê-lo a não se usar de isca, a visão da ação me atingiou clara e rápida.

Ele estava correndo por uma grande área aberta, e vampiros o estavam rodeando. Eles pularam nele, mas outros 3 vieram por trás para despedaçarem os atacantes. Jasper não caiu com o ataque, mas não vi tudo antes que eu fosse trazida de volta para a sala.

“Foi isso, não foi? Irá funcionar,” ele disse assentindo.

Tentei conversar com ele, mas um furioso rosnado foi tudo que consegui soltar.

“Alice, irá funcionar. Eu terei os outros me seguindo de longe. Já fiz esse tipo de coisa antes. Pare de rosnar e dê ouvidos à razão,” ele disse exasperado.

Tentei engolir a raiva incandescente que agora estava crescendo em minha garganta. Me afastei dele, empurrando-o tão forte para a parede que ela quebrou. Então, eu me virei para ele e deixei a raiva fluir livremente.

“Não fale assim comigo, Jasper! Você fica reclamando sobre os vampiros suicidas nessa casa, e aqui está você, o pior do bando! Não posso deixar você fazer isso, Jasper. Mesmo que trabalhe ou não, não posso. Você não entende? Preciso você protegido também.” Minha voz tremeu com fúria.

“Se você quer finalizar essa guerra, eu tenho que ir e atrair o inimigo. É a única maneira de garantir que a batalha seja lutada em nossos termos. Você me viu cair em batalha? Funcionou ou não?” Eu senti ele me acalmando, mas eu não queria ser acalmada. Queria que ele estivesse seguro. Balancei minha cabeça e envolvi meus braços ao meu redor.

“Você tem estado planejando isso desde o começo, não é? Você iria se oferecer para ele se não encontrássemos uma forma de lutar,” eu disse quietamente. O horror do sacrifício que ele estava disposto a fazer por mim apagou a fúria e a substituiu com puro e frio medo.

“Quando percebi que Carlos tinha seu cheiro, eu sabia que a única maneira de acabar isso era enganar seu exército para batalha. O fato de que os outros estão dispostos à lutar por sua cidade me deu uma chance de fazer um plano que acho que funcionará. Mas sim, eu irei para Carlos se isso te manterá segura.” Ele se inclinou para mim, e envolveu-me em seus braços novamente, me segurando apertada contra seu forte corpo. Percebi que eu estava tremendo violentamente.

“Amada, eu voltarei para você. Se os outros lutarem comigo, podemos dividir o exército de Carlos e vencê-lo. Alice, pare de chorar, eu posso fazer isso. Você tem que confiar em mim,” sua voz era apenas um sussurro, e eu podia ouvir os soluços que vinham do meu peito afogando suas palavras.

“Não posso deixar você fazer isso. Tenho que ir com você. Você não pode me deixar assim. Não sobreviverei, Jasper! Eu. Não. Sobreviverei… Eu preferiria morrer.” As palavras foram apressadas entre o peso que rasgava meu coração. Ele tinha que entender. Eu tinha que mantê-lo seguro.

“Voltarei para você. Eu nunca te deixarei, amada. Busque por mim. Busque e veja o que acontecerá se eu agir como isca. Se isso levar á minha morte, eu não irei. Alice, amada, busque por mim.”

“Você promete?” Perguntei, indisposta em ajudar, mas indisposta em deixá-lo fazer isso sem mim. Se ele já decidiu ir para Carlos, a única forma de mantê-lo seguro era usando meu dom. Eu estava realmente presa.

“Juro para você, eu não irei se você me disser que não,” ele disse enquanto olhava firmamente em meu rosto.

Fechei meus olhos e tentei confiar em Jasper. Tentei confiar em seu amor e sua habilidade. A visão veio como antes, mas dessa vez eu pressionei, tentando olhar além dos primeiros momentos da batalha que tinham me assustado. Tudo aconteceu do mesmo jeito exceto que agora eu podia ver os vampiros invasores caindo um por um, surpresos com o ataque em seu grupo. Jasper nunca perdeu o ritmo. Então, a visão mudou para uma da casa. Todas nós 3 garotas estavam nela, esperando, quando de repente vampiros avançaram pelas janelas de cada lateral do lugar.

Os braços de Jasper se apertaram ao meu redor enquanto eu soltava um pequeno choro.

“O que aconteceu?” Ele perguntou em meu cabelo. Ele estava ao meu redor, me puxando para o seguro lugar de seu corpo em uma tentativa de me acalmar.

“Você não é vencido,” eu disse, tentando fazer sentido do que vi. “Você não é vencido, mas o exército virá aqui para lutar contra o resto de nós. Eles atacarão a casa.”

“Levaremos você para um lugar seguro antes de eu ir,” ele disse, um pouco menos seguro de si mesmo. “Se você se esconder, eles ainda virão?”

Novamente tentei olhar para um futuro que eu temina, e vi uma dúzia de vampiros buscando pela casa de novo. Um urrou e os outros o seguiram, indo de lá para cá quando pegaram nossos cheiros.

“Eles ainda virão para a casa, e pegarão nosso cheiro, então ao menos que sejamos muito cuidadosos, eles ainda nos encontrarão,” eu disse sem emoção. Isso era completa loucura.

“Então é isso que faremos. Eu liderarei o primeiro grupo para longe, e seu cheiro irá levar o segundo para um espaço aberto de nossa escolha. Se o grupo que vier atrás de você é composto de recém-criados, o que creio que será, eles cairão na armadilha sem problema. Se você puder vê-los, você pode ficar um passo à frente do segundo grupo até que nos juntemos à vocês. Então podemos acabar com o exército e talvez irmos atrás do Carlos em si.” Jasper estava quase dando risinhos enquanto seu plano se formava, mas eu sentia como se um peso esmagador estivesse em meu peito. A hora, o local, e nossa sobrevivência, tudo dependia de mim.

Comecei a tremer novamente. “E se eu estiver errada?” Perguntei, minha voz era um lamento quieto. Eu poderia matar todos nós.

Jasper me puxou para seus braços, e fomos até a janela. Com um plano montado, ele já não sentia a necessidade de se esconder.

“Você não estará,” ele disse com certidão. Sua fé em mim era inabalável. “Alice, olhe para as estrelas.” Virei minha cabeça de seu peito e olhei para as fracas luzes. Sua voz se tornou grave e grossa com emoção.

“Você é meu mundo, e o centro do meu universo. Eu sempre retornarei para você. Eu nunca te deixarei, e eu sempre te amarei. Eternamente. Meu amor e minha promessa são tão eternos e inalteráveis como as estrelas no céu da noite. Até que a última estrela se apague, você pode estar certa de meu regresso… e de meu amor.”


[Jasper]

As palavras pareciam tão fáceis de dizer, ainda assim quando recitei a promessa, me senti completamente ligado de uma forma que eu não podia compreender. Palavras são normalmente coisas tão pequenas e comuns, mas essas carregavam consigo o peso da eternidade. Aquelas palavras, que simplesmente falavam a maior verdade que eu conhecia na forma de uma promessa, me trouxeram um estranho e maravilhoso conforto.

A verdade nelas me fortificava de alguma forma. Era uma promessa na qual eu estava preso pela eternidade para manter. Até que as estrelas caíssem de seus lugares, eu sempre estaria com Alice.

Seu medo, que pulsava nela como um gelado coração, ainda rasgava através de Alice e para mim. Ele tinha se acalmado, mas eu ainda podia sentí-lo. Não era minha intenção ter lhe causado tanta preocupação. Eu sabia que ela não gostaria do plano, mas eu estava despreparado para sua violenta reação à ele. Claro, se nossas posições fossem reversas, eu nunca a teria permitido tomar o risco que eu estava tentando tomar.

Ela estremeceu novamente em meus braços, e tentei usar meu dom para buscar o que ela precisava. A promessa não tinha sido o suficiente, talvez porque eu não dei nada tangível com ela. Eu precisava lhe dar algo, algo real e precioso, como uma amostra da promessa que havia me tocando como nenhuma outra. Mas eu era um nômade, e não tinha nada para dar.

Nada além de uma estranha e até macabra amostra de uma herança de amor.

Não era o suficiente, e estremeci para a coisa não digna de valor que eu tinha considerado. Mas o que mais eu poderia lhe dar? Ela merecia tanto, e eu tinha tão pouco. Eu nem poderia lhe dar meu tempo completo ou a quantidade completa de meu amor aqui nessa casa-esconderijo. Finalmente eu estava pronto para tentar e tomá-la completamente como minha parceira, mas estávamos na beira de uma batalha, e eu não poderia fazer isso. Além do mais, quando o tempo chegasse, eu queria fazer direito. Eu queria mais que tudo simplesmente fazer as coisas de forma certa por Alice.

Minha mente novamente se virou para a pequenina bolsa de couro em meu bolso. Era sem valor e feia, mas era parte de mim. Talvez ela não a veria como tão patética. Talvez a prata faria minha promessa tangível. Talvez ela visse o amor e coragem por trás do surrado metal. O pior que ela poderia fazer era rir de mim.

Em um movimento rápido, tirei a bolsa e sentei com ela em um banquinho próximo.

Ela me olhou com um rosto que mostrava absoluta confiança apesar do medo crescente. A promessa que eu tinha recitado causou com que ela brilhasse, irradiasse felicidade. Ela merecia muito mais do que eu podia lhe dar e quase escondi a bolsa dela, mas seus rápidos olhos pegaram o movimento em minha mão. Ela me olhou curiosamente.

“Quero te dar uma coisa,” eu comecei, minha voz menos firme do que queria. “É bem estúpido, na verdade… eles não valem nada… o único valor é sentimental. Se você não gostar, apenas diga, porque – “

Sua mão em minha boca me parou, e ela estendeu sua palma com um sorriso sábio. Claro, ela já tinha visto isso. Ela parecia ridiculamente feliz, mesmo com o conhecimento da coisa sem valor que eu estava prestes à lhe presentear.

Dois pedaços de metal torcido caíram em sua mão.

“É a única coisa que tenho do meu passado,” eu disse simples, esperando que ela de alguma forma entendesse.

“Conte-me sobre eles,” ela sussurrou enquanto olhava para a velha prata com reverência não-merecida.

“Não posso te contar tudo. Eu queria que pudesse, mas não me lembro mais da maior parte,” eu disse enquanto olhava de relance para ela. Ela estava sorrindo para mim.

“Meu avô lutou em New Orleans durante a guerra de 1812. Ele era da infantaria, e ele carregava uma moeda de prata da sorte, ela era de 1 dólar, ao redor de seu pescoço em uma bolsinha de couro, muito parecida com essa,” eu disse enquanto erguia a antiga bolsa. “Durante uma batalha, ele foi atingido com uma bola de um eminente canhão. Ele tomou o chumbo no peito, acima de seu coração, e ele teria morrido se a bola não tivesse tocado o dólar. A força do impacto partiu a prata e enfiou ambas partes profundamente em seu peito. O flash causou que ele ficasse cego por um tempo. Ele acordou depois de semanas estando inconsciente para descobrir que uma apenas uma mulher tinha cuidado dele enquanto outras o deixaram para morrer. Ele nunca a viu pelo dano em seus olhos, e antes que ele ganhasse de volta sua visão, ela foi forçada por sua família à ir embora. Ele apenas a conhecia por voz. Ela era a pessoa de mais compaixão que ele já tinha conhecido, e depois de um ano de recuperação e dois anos de seminário, ele foi buscá-la. Ele levou consigo a metade do dólar que ela tinha de alguma forma removido de seu corpo quando o doutor recusou. Era de verdade seu amuleto da sorte.”

“Levou muito tempo, anos eu acho, mas ele finalmente ouviu a voz dela cantando em uma igreja. Tomou um tempo para convencê-la de seu amor, porque ela não era uma mulher muito atraente e tinha aceitado a viver como uma solteirona. O que a convenceu sobre o amor dele foi que ele ainda guardava o dólar de prata quebrado. Ela tinha guardado a outra metade.”

Eu não estava olhando para ela enquanto falava, eu precisava concentrar na nublada lembrança da história. Havia muito mais, mas eu apenas podia lembrar isso. Pena, era uma boa história.

“Eles usaram esses como alianças de casamento,” Alice disse como fato.

“Sim senhora, eles usaram,” eu disse enquanto a realidade do que acabei de dar à Alice foi absorvida. “Ela fugiu de casa para casar com ele, e tudo que eles tinham para aliança de casamento era o dólar partido. Ele os martelou nesses bruscos anéis que você está vendo. Eles compraram novos eventualmente, mas eles mantiveram esses como prova que eles eram destinados à amar um ao outro. Vovô meu deu eles para mantê-los comigo durante minhas batalhas. Ele esperava que eles também me dessem sorte. Não funcionou. Esses anéis não parecem tão bem agora, mas uma vez eles foram redondos. Eles amassaram em meu bolso.”

Alice habilmente puxou os aros de metal novamente em círculos, abriu o colar de pérolas que estava em volta de seu pescoço, e colocou o menor dos anéis nele. Eu não lhe disse que o menor era do vovô – vovó não era uma mulher pequena. Então ela colocou o outro de volta na bolsa e me deu.

“Você me deu parte do seu passado,” ela sorriu, estranhamente tímida agora.

“Eu te dei um pedaço de metal preto,” comecei sarcástico. “Mas esse metal é tudo que tenho para lhe dar.” De repente eu estava lutando contra um nó em minha garganta. “Não é o suficiente, mas é tudo que tenho para representar a promessa de um futuro eterno,” terminei com uma voz trêmula.

“Você me deu a eternidade,” Alice disse em êxtase, sua voz também trêmula enquanto gentilmente envolvia seus pequenos dedos ao redor do pedaço torcido de metal sem valor. “Eu amo você, e amo isso. Eternamente. As estrelas são minhas testemunhas.” Seu sorriso era de tirar o fôlego.

De repente, os velhos e torcidos pedaços que eu tinha guardado por tanto tempo se tornaram impossivelmente lindos para mim. Talvez eu não era tão diferente daqueles pedaços de metal torcido. Enquanto eu a via cuidar com carinho da estranha relíquia, vi que eles eram como eu – restos torcidos e danificados de uma guerra. E Alice os aceitou como eles eram, suavizou seus bruscos lados, e cuidou com carinho deles. Assim como ela havia feito comigo.

Meus internos pensamentos foram sacudidos de volta à realidade por Alice. Ela estava tão animada que estava quicando em meu colo.

Eu ri para ela, minha linda fada. Sorrindo amplamente e pulando de alegria, ela parecia igual à pequena menininha que ela odiava. Eu não disse nada, mas a abracei apertado, extasiado no presente que eu tinha tanto dado quanto recebido.

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